Octavio Paz (1914-1998), poeta e polímata mexicano

 Joaquina Pires-O'Brien

 

 

 

Além de ter sido um dos maiores poetas do século XX, o mexicano Octavio Paz, nascido  Octavio Irineo Paz Lozano, foi também um grande estudioso e um notável pensador. Felizmente o talento de Paz foi reconhecido pela academia sueca, que em 1990 lhe concedeu o Premio Nobel de Literatura. Para Paz,

 

 

 

 

O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade.

Sentir-se só possui um duplo significado: por um lado, consiste em ter consciência de si; por outro, um desejo de sair de si. A solidão, que é a própria condição de nossa vida, surge para nós como uma prova e uma purgação, no fim da qual a instabilidade e a angústia desaparecerão. A plenitude, a reunião, que é repouso e felicidade, e a concordância com o mundo, nos esperam no fim do labirinto da solidão.

O livro Labirinto da solidão (El laberinto de la soledad) de Paz é uma reflexão sobre a modernidade inserida no contexto identitário, e, por essa razão, considerada uma peça-chave da literatura moderna universal. De igual importância é  O ogro filantrópico (El ogro filantrópico), no qual descreve o Ocidente como um período de grande abundância material, mas corroído pelas maladias do hedonismo, da religião, e do egoísmo.

No conjunto dos poetas mais reconhecidos da América Latina Paz foi o mais humano e o que enxergou mais longe. Em todo o Ocidente, Paz foi um dos primeiros intelectuais públicos a identificar a crise da modernidade nas superestimadas expectativas ao progresso. Segundo Paz, o progresso existe, mas não é retilíneo e tampouco é inexorável. Paz analisou a pós-modernidade com o mesmo ceticismo com que analisou a modernidade. Deu a entender que a  pós-modernidade foi uma consequência das incongruências da modernidade. A prosa de Paz era quase poesia, conforme mostra o texto a seguir:

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero a alimentam. Oração, ladainha, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio todos os conflitos objetivos se resolvem e o homem finalmente toma consciência de ser mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar de uma forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da ideia. Loucura, êxtase, logos. Retorno à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo.

Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo e metros e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todos os rostos mas há quem afirme que não possui nenhum: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana! O Arco e a Lira. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

 

Segue alguns exemplos da poesia de Paz traduzidas para o português, cada qual seguida do original em espanhol.

 Silêncio

Assim como do fundo da música

brota uma nota

que enquanto vibra cresce e se adelgaça

até que noutra música emudece,

brota do fundo do silêncio

outro silêncio, aguda torre, espada,

e sobe e cresce e nos suspende

e enquanto sobe caem

recordações, esperanças,

as pequenas mentiras e as grandes,

e queremos gritar e na garganta

o grito se desvanece:

desembocamos no silêncio

onde os silêncios emudecem.

 

Silencio

Así como del fondo de la música

brota una nota

que mientras vibra crece y se adelgaza

hasta que en otra música enmudece,

brota del fondo del silencio

otro silencio, aguda torre, espada,

y sube y crece y nos suspende

y mientras sube caen

recuerdos, esperanzas,

las pequeñas mentiras y las grandes,

y queremos gritar y en la garganta

se desvanece el grito:

desembocamos al silencio

en donde los silencios enmudecen.

Certeza

Se é real a luz branca

desta lâmpada, real

a mão que escreve, são reais

os olhos que olham o escrito?

 

Duma palavra à outra

o que digo desvanece-se.

Sei que estou vivo

entre dois parênteses.

 

Certeza

Si es real la luz blanca

de esta lámpara, real

la mano que escribe, ¿son reales

los ojos que miran lo escrito?

De una palabra a la otra

lo que digo se desvanece.

Yo sé que estoy vivo

entre dos paréntesis.

 

Vento, Água, Pedra

A água perfura a pedra,

o vento dispersa a água,

a pedra detém ao vento.

Água, vento, pedra.

 

O vento esculpe a pedra,

a pedra é taça da água,

a água escapa e é vento.

Pedra, vento, água.

 

O vento em seus giros canta,

a água ao andar murmura,

a pedra imóvel se cala.

Vento, água, pedra.

 

Um é outro e é nenhum:

entre seus nomes vazios

passam e se desvanecem.

Água, pedra, vento.

 

 

Viento, agua, piedra

El agua horada la piedra,

el viento dispersa el agua,

la piedra detiene al viento.

Agua, viento, piedra.

El viento esculpe la piedra,

la piedra es copa del agua,

el agua escapa y es viento.

Piedra, viento, agua.

El viento en sus giros canta,

el agua al andar murmura,

la piedra inmóvil se calla.

Viento, agua, piedra.

Uno es otro y es ninguno:

entre sus nombres vacíos

pasan y se desvanecen

agua, piedra, viento.

Escritura

Quando sobre o papel a pena escreve,

a qualquer hora solitária,

quem a guia?

A quem escreve o que escreve por mim,

margem feita de lábios e de sonho,

colina quieta, golfo,

ombro para esquecer o mundo para sempre?

 

Alguém escreve em mim, move-me a mão,

escolhe uma palavra, se detém,

pende entre mar azul e monte verde.

Com um ardor gelado

contempla o que escrevo.

A tudo queima, fogo justiceiro.

Mas o juiz também é justiçado

e ao condenar-me se condena:

não escreve a ninguém, a ninguém chama,

escreve-se a si mesmo, em si se esquece,

e se resgata, e volta a ser eu mesmo.

Tradução de Haroldo de Campos

 

Escritura

Cuando sobre el papel la pluma escribe,

a cualquier hora solitaria,

¿quién la guía?

¿A quién escribe el que escribe por mí,

orilla hecha de labios y de sueño,

quieta colina, golfo,

hombro para olvidar el mundo para siempre?

Alguien escribe en mí, mueve mi mano,

escoge una palabra, se detiene,

duda entre el mar azul y el monte verde.

Con un ardor helado

contempla lo que escribo.

Todo lo quema, fuego justiciero.

Pero este juez también es víctima

y al condenarme, se condena:

no escribe a nadie, en sí se olvida,

y se rescata, y vuelve a ser yo mismo.

 

Conversar

Em um poema leio:

Conversar é divino.

Mas os deuses não falam:

fazem, desfazem mundos

enquanto os homens falam.

Os deuses, sem palavras,

jogam jogos terríveis.

 

O espírito baixa

e desata as línguas

mas não diz palavra:

diz luz. A linguagem

pelo deus acesa,

é uma profecia

de chamas e um desplume

de sílabas queimadas:

cinza sem sentido.

 

A palavra do homem

é filha da morte.

Falamos porque somos

mortais: as palavras

não são signos, são anos.

Ao dizer o que dizem

os nomes que dizemos

dizem tempo: nos dizem,

somos nomes do tempo.

Conversar é humano.

Tradução de Antônio Moura

 

Conversar

En un poema leo:

conversar es divino.

Pero los dioses no hablan:

hacen, deshacen mundos

mientras los hombres hablan.

Los dioses, sin palabras,

juegan juegos terribles.

El espíritu baja

y desata las lenguas

pero no habla palabras:

habla lumbre. El lenguaje,

por el dios encendido,

es una profecía

de llamas y un desplome

de sílabas quemadas:

ceniza sin sentido.

La palabra del hombre

es hija de la muerte.

Hablamos porque somos

mortales: las palabras

nos son signos, son años.

Al decir lo que dicen

los nombres que decimos

dicen tiempo: nos dicen,

somos nombres del tiempo.

Conversar es humano.

 

Retornar à HomePage

 

Fernando R.Genovés

  1. Nunca diga ‘sempre’ ou ‘capitalismo’

Até agora, eu tenho usado locuções como ‘dinheiro’ ou ‘fortuna’, quando poderia muito bem ter dito ‘capital’. Mas não farei isso, por não serem sinônimos e porque ‘capital’ está sujeito a um doutrinário político e ideológico bastante particular. No presente ensaio, eu uso certas palavras que, salvo por lapso ou erro, eu não uso, ainda que eu as mencione e cite. Assim como o conceito ‘socialismo’ deriva de ‘social’, ‘capitalismo’ provém de ‘capital’, termo já usado desde o século XII, na atividade comercial.

Tom G. Palmer, na introdução do livro La moralidad del capitalismo; 2013, Chile, Fundación para el Progreso[1], coloca o termo em seu contexto.

A palavra ‘capitalismo’ começou a ser usada no século XIX, geralmente em um sentido depreciativo: por exemplo, quando o socialista francês Louis Blanc definiu o termo como “a apropriação do capital por alguns em detrimento de outros”. Karl Marx usou a frase “modo de produção capitalista”, e, foi o seu fervoroso seguidor, Werner Sombart, que popularizou o termo ‘capitalismo’, em seu influente livro de 1912 Der Moderne Kapitalismus.

Por sua vez, o conceito ‘socialismo’ foi estabelecido em oposição ao ‘capitalismo’, destacando o contraste social versus capital, um como alternativo do outro; um sistema projetado para substituir outro sistema. O lanço tem sido levado muito a sério por parte dos que promovem essa antítese, chegando a afetar dezenas de países, e milhões de pessoas, até os dias de hoje; na maioria dos casos, exceto aos versados ​​no ‘materialismo dialético, sem entender o pano de fundo da suposta contradição. ‘A luta final’ abrange todas as frentes, começando pela linguagem, uma vez que são os inimigos da liberdade que encontraram, empunharam e elevaram esses conceitos, entre outros tantos, que compõem o doutrinário do ‘anticapitalismo’.

Diga-me como você fala e eu direi quem você é. Expresse-se como o camarada X e você acabará parecendo o camarada X, sendo um companheiro de linguagem: o primeiro passo para ingressar no clube dos ‘companheiros de viagem’ (poputchik). Cuidado, portanto, no uso da linguagem que cria dependência e favorece a extensão das crenças associadas a elas. George Orwell apontou com penetrante agudeza que a primeira batalha que o totalitarismo precisa vencer para impor-se no mundo, é a batalha da linguagem.

‘Socialismo’ vem da palavra ‘social’. O que há de mágico e encantador no ‘social’ que deslumbra quase todos igualmente? Para mim, esse ‘social’ não significa, afinal, nada além de ‘caro’, ‘oneroso’ e ‘imposto’, um ‘valor agregado’ que todos os cidadãos acabam pagando.

A exaltação do ‘social’ é, em suma, muito cara. Ele tece (‘tecido social’) uma profunda animosidade e um ressentimento agressivo contra o indivíduo e a liberdade, que acaba por esmagá-los. Sem dúvida, tais sentimentos derivam de um estágio anterior ao político:

O ódio ao liberalismo não vem de outra fonte. Porque o liberalismo, antes de ser uma questão mais ou menos política, é uma ideia radical sobre a vida: é acreditar que cada ser humano deve ser livre para cumprir o seu destino individual e intransferível. José Ortega y Gasset, ‘Socialización del hombre’ .

Com o decorrer do tempo, os sentimentos associados a essas palavras, a conotação que elas carregam, o seu impacto nas pessoas, não mudaram substancialmente. Talvez apenas os povos que experimentaram o sistema ‘socialista’ estejam vacinados contra esse flagelo. Muito embora, não na sua totalidade. Na Rússia atual, para citar um caso, a simpatia pelo sistema comunista e pelo passado da União Soviética continua viva em uma parte significativa da população, tanto nos que o conheceram quanto os que receberam informação sobre o mesmo. Nem mesmo a queda do Muro de Berlim e a revelação dos horrores de um sistema tão criminoso e desumano conseguiram enterrar o ‘socialismo’. Se alguma coisa ocorreu, foi exatamente o oposto.

Logo após o anúncio do ‘fim da história’ (Francis Fukuyama) e o triunfo global do ‘capitalismo’, e, especialmente, após a crise econômica desencadeada no verão de 2007, o ‘socialismo’ ganhou a esfera pública de uma forma notória, renascendo de suas cinzas. Até então disfarçado de ‘social-democracia’ (o social sempre colocado à frente), uma versão abrandada do ‘socialismo’ que não questionava a ordem econômica e social ‘capitalista’, em nossos dias, os partidos e partidários do verdadeiro ‘socialismo’ lançaram-se em uma luta sem território e com o rosto exposto, sem se incomodar em aplicar maquilagem de propaganda e ação, mostrando assim o seu verdadeiro rosto desumano.

 

  1. São só palavras

Os proclamas abertamente revolucionários, a pretensão de derrubar o ‘capitalismo’ e dar o definitivo passo a frente, compõem o discurso dominante em qualquer lugar do planeta. A ideologia ‘socialista’ reina não apenas na mídia, nas escolas e nas universidades – ‘no mundo da cultura’ como um todo – mas em toda parte.

Conforme revelam as pesquisas de opinião, entre a população jovem, o espectro do ‘socialismo’ ganha apego e predileção contra a realidade do ‘capitalismo’. Grupos ‘anticapitalistas’ tornaram-se fortes nas ruas, onde se mobilizam e demonstram descaradamente (embora muitas vezes com os rostos mascarados) pela mínima oportunidade. Contra qual ‘capitalismo’ eles lutam

Cerca de 40% da atividade econômica dos Estados Unidos (EUA) passa pelas mãos e pelo controle do governo, o que tem crescido em poder e influência em uma nação que, desde sua fundação, tem sentido e defendido o valor do privado sobre o público, o valor da liberdade, a sujeição do poder político que emana dos respectivos Estados e, acima de tudo, de Washington, a capital do país,. Os gastos federais per capita aumentaram 191% entre 1960 e 2018, de US $ 4.300 para US $ 12.545. O que aconteceu com o estilo de vida americano?

Graças a uma peculiar combinação de economia ‘capitalista’, sob a liderança do Partido Comunista Chinês, a República Popular da China conseguiu se estabelecer como primeira economia mundial, posto que no século passado era ostentado pelos EUA. Como modelo econômico, social e político, os EUA progressivamente se voltaram para o sistema que domina na Europa. Mas qual deles?  ‘Social-democrata’? ‘Capitalismo de Estado’? ‘Capitalismo social’? Como o da Europa ou como o da China?

No momento presente, é somente a partir da fabricada propaganda inimiga da liberdade, ou do descarado cinismo, ou da pura ignorância, pode-se dizer que o ‘capitalismo’ é o modelo dominante da sociedade no mundo: ‘se por ‘capitalismo’ se entende um sistema competição baseado na livre disposição da propriedade privada” (Friedrich A. Hayek, The Road to Serfdom [O caminho da servidão; 1944]). Ou o que restou da sociedade de mercado livre e aberta, baseada na propriedade privada, na divisão de poderes e no Estado mínimo, onde prevalecem os valores do individualismo, da iniciativa e da responsabilidade pessoal. Em resumo, da sociedade de proprietários.

Aqui está o cerne do problema questão, uma questão que é crucial. Bem, o seu objetivo dificilmente pode ser entendido (independentemente da experiência explicativa e da capacidade de comunicação do autor) – a transição da sociedade de proprietários para a comunidade de gerentes –  usando termos que deturpam e confundem as coisas em vez de elucidá-las, ou que denotam uma realidade inexistente, refletindo uma situação em que palavras e ações não coincidem, e na qual a linguagem não é empregada tanto para se comunicar quanto é para persuadir.

‘Capitalismo’ é um conceito que, por mais virtudes que o seu significado estrito contenha (e que não são poucas) e por mais que se explique seu sentido genuíno, a sua conotação e o seu valor estão inevitavelmente associados a más vibrações e a sentimentos negativos. O ‘socialismo’, ao contrário, soa bem, uma coisa ‘social’. O ‘progressivismo’, por sua vez, evoca um horizonte e um ideal de progresso. Quem é o indivíduo corajoso disposto a condenar ‘o social’ e o ‘progresso’?

Os homens nasceram uns para os outros. Instrua ou apoie-os. Marco Aurélio, Meditações

Tudo bem, mas quem tem paciência para explicar aos outros todas e cada uma das palavras que usam, para não ser mal interpretado, ou para continuar aumentando e reforçando, mais do que a cadeia da linguagem, a linguagem encadeada?

Um dia perguntei a uma pessoa com quem tenho confiança para falar, e, que sabe amarrar cadarços, sobre o motivo de ter votado no Partido Socialista em todas as eleições, e ela me respondeu, seriamente, e sem nenhuma piada, que era porque ela é bastante ‘social’ e ‘sociável’, e  gosta de estar com pessoas e não de ficar sozinha …

E o comunismo? Penso que a única coisa correta no comunismo é o nome, a saber: a recreação perversa de um mundo em que tudo é comum, ou seja, ordinário, público, corriqueiro, vulgar, mísero e miserável, inferior, baixo e ruim. Sim, continuarei usando esse termo a partir de agora. Ele se ajusta à realidade.

Nem ‘capitalismo’ nem ‘socialismo’ ou ‘progressivismo’. Como ficamos, então?

 

  1. Socialistas capitalistas e capitalistas socialistas

Existem ‘socialistas capitalistas’. E também ‘castristas’, ‘chavistas’ e ‘anarcossindicalistas’, o ‘socialismo realmente existente’ e um outro pendente de existir: a revolução pendente, uma expressão cunhada pelos trotskistas, aqueles comunistas que não são ‘socialistas’ e tampouco  estalinistas, e, que não são da Primeira Internacional, mas sim da Quarta. Em outras palavras, é uma confusão total.

Existem ‘liberalismo’ apenas, ‘liberalismo clássico’, neoliberalismo’ e ‘anarcocapitalismo’, ‘capitalismo com rosto humano’ e ‘capitalismo de cara dura’  (‘capitalismo de amigos e cupinchas’), ‘capitalismo de Estado’, ‘capitalismo humanista’, ‘capitalismo social’, ‘capitalismo liberal’, entre muitas outras variedades à escolha em um mercado livre…

E existem, ai!, ‘capitalistas socialistas, com ou sem a carteirinha do partido, quer a nível individual quer corporativo. No momento presente, uma notável quantidade da publicidade[2] comercial e das comunicações corporativas (privadas) tirou o seu discurso da doutrina oficial dos inimigos da liberdade e da propriedade privada. Essa conduta oportunista e mesquinha já perdura há tempos e está aumentando. Estamos em um ponto (sem retorno?) no qual é difícil diferenciar entre reportagens publicitárias e propaganda de conteúdo ideológico. Mais do que ‘politicamente corretas’, elas são corretivas: indústrias de laticínios encorajam o animalismo; agências dependentes de entidades bancárias investem em proclamas sobre revolução, ‘compromisso social’ e pedagogia socializante e inclusiva; produtores de bebidas alcoólicas, dão aula de moral e cívica; empresas de energia seguem a corrente dominante com discursos ecologísticos e feministas; empresas de produtos para barbear insultam os homens, cuspindo em suas caras slogans do tipo ‘masculinidade tóxica’ (tais como deixar crescer bigode, cavanhaque e costeletas).

Tudo isso vem ou não à mente. A revolução e o mundo estão de cabeça para baixo. A publicidade transmite publicamente o que a empresa pretende vender: o ano passado, produtos e serviços;  o ano corrente, e também fórmulas e slogans acompanhados de sinais ideológicos, não neutros, mas ‘anticapitalistas’.

Em 23 de agosto de 2011, a agência de notícias Europa Press divulgou a seguinte matéria:

“Várias das maiores fortunas e principais empresários da França, incluindo a bilionária herdeira da L’ Oreal, Liliane Bettencourt, e diretores executivos de multinacionais como Veolia, Danone, Total ou Société Générale, assinaram uma proposta na qual eles solicitam ao governo que estabeleça uma ‘contribuição excepcional’ que arrecada os rendimentos mais altos e, assim, colabore no ‘esforço solidário’ necessário para respaldar o futuro econômico do país galo.

 “Nós, presidentes e diretores de empresas, homens e mulheres de negócios, agentes financeiros, profissionais ou acionistas, pedimos o estabelecimento de uma contribuição especial que afetará os contribuintes franceses mais favorecidos”, expõe uma carta aberta publicada pelo semanário francês Le Nouvel Observateur.

“Somos cônscios de que temos beneficiado plenamente de um modelo francês e de um ambiente europeu com o qual estamos comprometidos e que queremos ajudar a preservar”, assinala a carta aberta, assinada por dezesseis das maiores fortunas e dos principais empresários do país galo.

“Essa contribuição não é uma solução em si mesma, e portanto deve ser parte de um esforço de reforma mais amplo, tanto em termos de despesas quanto de receita”, reconhecem os promotores da proposta.

“Da mesma forma, os signatários da carta enfatizaram que ‘no momento em que o déficit nas contas públicas e as perspectivas de agravamento da dívida do Estado ameaçam o futuro da França e da Europa, no momento em que o governo pede a todos nós um esforço de solidariedade, nos parece necessário contribuir’.”

O complexo de culpa, a auto-imolação, o açoitamento, o oportunismo, o abandono de si próprio, a renúncia ao que lhe corresponde e é seu, atinge os povos do Ocidente em níveis próximos aos dos maiores delírios. O republicanismo engajado de ricos complexados se manifesta na passarela parisiense, conforme temos visto. Que maneira estranha de contribuir ‘socialmente’, apelando à coerção! Não bastaria criar empregos e riqueza através da atividade empresarial? Que maneira curiosa de fazer publicidade! Assim, é anunciada a moda pós-moderna da Benetton e suas antigas mensagens multicoloridas, demagógicas e multiculturalistas.

No entanto, a questão principal é a seguinte: se esses ‘capitalistas’ e ‘socialistas’ querem contribuir e doar dinheiro à sociedade, por que o entregam ao Estado? Por que não fazem doações voluntárias? Por que eles não promovem a filantropia privada? Por que eles não jejuam e ajudam financeiramente as organizações de caridade? Por que eles não recorrem à livre iniciativa, em vez de exigir que todos sejam forçados a comungar com sua fé republicana socializante e seu forçado desapego? Por que eles não consultam um consultor ou gerente tributário mais honesto ao tomar decisões? Eles vão acreditar que todos os ricos estão em sua condição…

Há muitos indivíduos (a maioria) que fizeram fortuna com boas artes, à base de esforços, assumindo riscos, investindo suas economias, hipotecando suas propriedades, sem lisonjear os poderosos ou os políticos, sem trapacear, sem fraudes ou mentiras, e sem adular os poderosos e os políticos. E sem apelações populistas. Por que os contribuintes, ricos ou pobres, devem pagar para os pregadores republicanos à la Mitterrand ou à la  Robespierre?

Em 25 de junho de 2019, ecoando as notícias que cobrem a Europa e todo o planeta, o jornal El Mundo, publicado na Espanha, publica uma crônica com o título ‘Os bilionários dos EUA pedem por ‘questões de ética’ um imposto sobre a riqueza’. Como entrada: ‘O plano isenta de impostos os primeiros 50 milhões de dólares em ativos, mas prevê um imposto de 2% sobre fortunas de mais de 50 milhões, e aumenta a taxa para 3% para aquelas de mais de 1.000 milhões’. Entre os generosos bilionários, o texto cita Abigail Disney, herdeira do império Disney, e George Soros. O senhor Soros é  um ‘capitalista’ ou um ‘socialista’? E o Michael Bloomberg? E o Bill Gates? E a maior parte do ‘mundo da cultura e do espetáculo’, em Hollywood, Nova Iorque ou Paris?

Assim pois, capitalismo? Sim ou não?

“Sim ao capitalismo, mas limitado ao seu papel. O sistema de valores deve ser deixado em aberto para que ninguém tenha sucesso às custas da derrota do resto”. Pascal Bruckner,  no ensaio Misère de la prosperité: La religión marchande et ses ennemis (A miséria da prosperidade: a religião do mercado e seus inimigos; 2002) quando diz ‘sim ao capitalismo’, um ‘sim’ imediatamente rebaixado por um ‘mas’, está realmente dizendo ‘não’. Ou, o que equivale ao mesmo: sim, porém não… Bruckner é um escritor e filósofo francês, geralmente comedido e perspicaz, mas um intelectual que, malgrè lui, na hora de escolher entre nação (política) e mercado (economia) ele opta pelo ‘sistema de valores’ que a nação política contém, em primazia ao mercado que não tem pátria, e que atende apenas a interesses e responde à chamada do dinheiro: oferece prosperidade em troca de gerar miséria. E assim não pode ser. Bruckner não defende de forma alguma uma solução ‘socialista’ para a situação, mas também não deseja entrar no jogo (mercado de ações, empresas, lucros, dinheiro…) do ‘capitalismo’. Deixe-o correr com a sorte…

Então, ‘socialismo’? Sim ou não?

É provavelmente preferível chamar de ‘coletivismo’ os métodos que podem ser usados ​​para uma ampla variedade de propósitos, e considerar o socialismo como uma espécie desse gênero. Friedrich A. Hayek, O caminho da servidão, 1944.

 

  1. Esse falso glamour

A aversão ao ‘capitalismo’ e a ‘popularidade’ do socialismo são produtos da convicção das pessoas ou o efeito do glamour?

Em um ato público realizado há alguns anos em Madri, em defesa da democratização de Cuba, e com a notável presença  de artistas e intelectuais da ‘esquerda política’ (os incluídos e os inclusivos), o escritor Mário Vargas Llosa, porta-voz da reunião, declarou : “Temos de remover esse falso glamour da ditadura cubana”. Bravo! Embora não se saiba se o escritor espanhol nascido no Peru é ‘capitalista’ ou ‘socialista’.

Acima de qualquer outra reflexão, se alguma coisa explica a subsistência do criminoso regime castrista, é o apoio material e ‘moral’ que este recebe do ‘socialismo de todos os partidos’ (F. A. Hayek) em escala planetária. Em outras palavras, a ajuda e suporte dos que ostentam o vermelho. O mesmo vale para outros bastiões da progressivista ‘consciência infeliz’ (Hegel). Juntamente com Gaza, Venezuela, Coreia do Norte e  mais um pingo de redutos, apesar de bastante emblemáticos da ‘resistência’, a ‘esquerda política’ mantém a sua reserva doutrinária particular em pequenos territórios sacrificados pela ‘Causa’; Os territórios maiores sob o comando comunista, como a China, já estão se defendendo sozinhos. A foto de Che Guevara, a echarpe palestina, ou a foice e martelo, ainda servem de senha e contra-senha para identificar os santos (os justos), e, não são exibidos com discrição nas democracias, mas com orgulho, ostentação e insolência.

Hoje, a suástica nazista é prudentemente ilegal, e a negação do Holocausto é geralmente condenada na esfera pública. O mesmo não acontece com os sinais e os slogans totalitários da ‘esquerda’, assim como com a negação do 11 de setembro.

Todavia, o vermelho está raivoso, mamãe, o que será que o vermelho tem… Tem glamour. Um glamour falso que fascina tanto os que o portam quanto os outros, porque tem uma licença para agir impunemente, e, porque cai bem na vista dos outros. Precisamos perguntar o porquê do proceder desinibido daqueles, e da sensibilidade e complacência destes.

A ‘esquerda política’ há muito abandonou a ‘luta dos trabalhadores’ e a ‘libertação do proletariado’ (de fato, os trabalhadores que não são funcionários públicos, geralmente votam em partidos políticos de centro-direita). Mas, eles não renunciaram à ‘luta de classes’: o que mudou são as classes e o significado da luta.

Consequentemente, a ‘Revolução’ foi reduzida, em primeira instância, à ‘revolução cultural’, um ataque que tem mais contracultura e anti-cultura do que da cultura propriamente dita. A sociedade contemporânea, a ‘sociedade do espetáculo’ (Guy Debord) e do escândalo, alimenta-se da indignação e da representação teatral, do culto à imagem e à pose (postura), do exibicionismo e dos selfies, de cosmética e da maquilagem, do sentimentalismo e da empatia (palavra da moda trapaceira, em oferta especial); da intoxicação (fake news, agitprog, manipulação) e do encantamento. A sociedade, agora globalizada e midiática, tornou-se um tanto idiotizada pela mídia e pela propaganda. Uma sociedade dessas características adquire a aparência de um complexo grupal, mas na realidade é bastante simples, bastante vulnerável e maleável, e fácil de ser dominada, dirigida, e encarrilhada. Tudo o que é preciso é remover as baixas paixões de seus membros, ativar mecanismos básicos de estímulos-respostas, oferecer o que deseja (depois de prescrever os desejos), como lisonjeá-la e entretê-la, para tê-la entregue.

A sociedade, ou a coletividade, não contem ideias próprias, isto é, claras e bem pensadas. Contém apenas tópicos, e existe com base nesses tópicos. Com isso, não quero dizer que sejam ideias falsas, podem ser ideias magníficas [note a ironia do filósofo]; o que digo é que, desde que sejam vigências ou opiniões ou tópicos estabelecidos, as suas possíveis qualidades egrégias não agem; o que age é simplesmente a pressão mecânica sobre todos os indivíduos, a sua desalmada coerção. Não deixa de ter interesse o fato de que, na linguagem mais vulgar, sejam chamadas ‘as opiniões dominantes’. José Ortega e Gasset, El hombre e la gente (1949-50)

Talvez a tarefa de desencantar os encantados não dependa tanto da chamada ‘batalha de ideias’ quanto de remover a cor e a doçura do discurso das ilusões causadoras de encantamento. Remover do discurso a maquilagem é uma maneira eficaz de desarmá-lo.

 

  1. Laboratórios e observatórios em universidades: que lugares!

A guerra mundial que está sendo travada em defesa da liberdade faz parte de uma longa batalha, que nunca acaba. Assim como a riqueza é gerada, a liberdade deve ser conquistada todos os dias. Não se tratando estritamente de guerra ideológica, cheguei à convicção de que não é correto concebê-la, também, em termos de ‘batalha de ideias’, como acreditávamos há algum tempo, a saber: a ativação de um mecanismo de ação e reação, no qual a ação de um lado provoca uma reação do outro lado, num processo que cresce em violência, numa encruzilhada de indignações e embustes, como um duelo de forças. E tudo porque quem não se move não aparece na foto. Eis aqui, precisamente, a mãe de todas as batalhas: a imagem. E geralmente ganha por aquele que bate mais forte, se desgasta menos e domina com mais astúcia os aparatos da inteligência (emocional), da comunicação e da aparência, bem como da publicidade e da propaganda.

Na perspectiva do sociólogo Max Weber, o desenvolvimento da humanidade passou por diferentes fases, nas quais se observa uma direção geral e universal, verificável especialmente na sociedade ocidental, e atendendo a esses dois elementos principais: o crescimento da racionalização, unido ao processo de desencantamento da população; e, a retirada gradual do sagrado e das crenças mágicas na hora de interpretar a realidade e se ajustar à mesma. A derivação disso tudo não é, como poder-se-ia inferir, o triunfo da racionalidade, mas a extensão do niilismo.

Diferentemente daquilo que o Iluminismo do século XVIII e seus herdeiros intelectuais imaginavam, a sociedade de massa contemporânea, não cresceu no pensamento racional e no espírito crítico, em decorrência da universalização do letramento e da educação, da leitura de livros, e de uma maior injeção orçamentária em cultura. Tal mito, tal encantamento, e tal fraude, ainda não foram totalmente desmascarados; mostra momento e validade, mas não a verdade. O oposto aconteceu. O sonho da ‘razão’ levou ao estabelecimento de uma sociedade mórbida e acomodada, amiga do simples, do rápido e do instantâneo, distanciada tanto da convicção quanto da responsabilidade. E isso que eu aponto é dado a aplicar-se indistintamente às massas, às ‘elites’ e aos gestores.

Milhões de diplomados, licenciados e PhDs tem saído das universidades, mas apenas um número seleto deles, relacionado à atividade científica e ao âmbito empresarial, tem produzido conhecimento competente e prático. Foi dentro de seus muros que o portuário básico da Revolução contra a liberdade foi forjado. As universidades continuam a ser incubadoras de gerações de acadêmicos e intelectuais que intentam imitar e substituir os tradicionais templos do mito e do oráculo. Os seus departamentos emitem e disseminam as respostas e as previsões que servem como uma orientação geral básica para a conduta da sociedade, não tanto diretamente mas por meios intermediários, e pelo trabalho midiático e pedagógico de intérpretes e disseminadores. Como um laboratório (estendido ao longo do tempo para todo o sistema educacional), ele experimenta e testa os produtos processados para serem posteriormente propagados em escala geral, através de muitos meios de comunicação e de intermediários. Anteriormente, os governos dos países ‘capitalistas’ eram dominados por advogados; hoje, são dominados pelos professores de universidades e dos high schools.

A ‘batalha de ideias’ ocorre em um ambiente cada vez mais sujeito a um pensamento unificado: progressivismo, feminismo, multiculturalismo, pós-pósmodernismo. E possui o seu espaço natural em uma área liderada por professores e pelos ‘comitês de especialistas’. Transferi-lo para a sociedade é especialmente benéfico para ampliar o efeito do ‘terrorismo dos laboratórios’ (Ortega y Gasset) e a engenharia social incentivada por esses funcionários da intelligentsia, os quais, pelo pouco que se aplicam, construirão seções aqui e acolá, e as mais variadas subseções; esse procedimento também recebe o nome  de ‘extensão universitária’.

A farsa começa a operar no momento em que o mesmo conceito de ‘ideias’ é aplicado para nomear as criações e as recriações que emergem dos tubos de ensaio do campus, quando essas não passam de slogans, dogmas, fantasias, slogans, proclamas e bobagens, que só servem para governar um ‘universo frankensteiniano’. Dos meios de comunicação às editoras, dos produtores de cinema e de teatros às produções operáticas, das livrarias aos espaços públicos, tudo o que diz respeito ao ‘mundo da cultura’ é considerado propriedade do ‘marxismo cultural’; ou quem sabe dos inimigos da propriedade privada (a menos que se trate de propriedade sua, ou da ‘propriedade intelectual’, para enganar e assombrar).

Os objetivos declarados nem sempre objetam na hora de ingressar na lista dos ‘companheiros de viagem’. E aqui está o começo do fim da cultura, em sua acepção clássica e restrita, para transformar-se no apogeu da publicidade, do privilégio, da repetição, da radiodifusão panfletária e de sexto sentido, da divulgação de mensagens transgressoras,  da moda: o reino do glamour.

Na sociedade contemporânea, o fator-chave do retrocesso da sociedade de proprietários e da liberdade não reside, segundo afirmou Ortega y Gasset há um século, no protagonismo, na preponderância e na influência do homem-massa, mas nas chamadas ‘elites’ (termo a ser adicionado à lista daqueles que foram esvaziados de significado e transvalorizados).

 

  1. Livrarias e Jornalismo

Eu poderia pormenorizar vários exemplos do acima apontado. Mas vou me concentrar em dois: livrarias e jornalismo.

Diariamente, milhares de empresas e trabalhadores autônomos são obrigados a encerrar as suas atividades, na maior parte dos casos, devido ao inferno fiscal imposto pelos Governos. Algumas vozes, em baixo volume, mostram contrariedade e desgosto por essa situação. No entanto, eu não tenho ciência de muitos eventos de massa exigindo dar um basta nesse tipo de situação. Por outro lado, o anúncio do fechamento de uma livraria desperta uma imediata e vociferante solidariedade em milhares de pessoas (sejam elas amantes verdadeiros da leitura ou não) e, desta vez, dezenas de lamentações lacrimosas podem ser citadas, apelos públicos incentivando a assinar cartas de protesto, a concentrar-se nas portas da empresa que já deixou de existir, ou a organizar angariações de fundos de auxílio ao livreiro, que por uma questão de ação política, se transforma em uma vítima singular e, ao mesmo tempo, no ‘herói’ daqueles que afirmam ser seus defensores, quando não os seus representantes.

Fiquem de olho, pois aqui existem de sobra, esclarecimentos, justificativas ou sentimentos de cada qual, a propósito dos estabelecimentos cujas paredes estão cobertas por estantes de livros (em papel, exclusivamente; fala-se o livro eletrônico em público apenas para difamá-lo, e não há falta de quem assegure que o eBook e a Amazon!, são, no fundo, o motivo pelo qual tantas livrarias penduram a placa ‘À venda’. Embora esse assunto seja relevante, não é hora de analisar se, entre os paladinos do livro de papel, a primazia é ter livros ou ler livros (quem quer ficar bem na foto, quando esta for aparecer na imprensa, escolhe ficar em frente à uma estante, e não em frente da cristaleira, a vitrine da sala de estar). Em resumo: por que uma livraria, mas não uma chapelaria? Suponho que seja uma consequência da chamada ‘exceção cultural’ ou do glamour. Se as persianas estão permanentemente abaixadas em uma lanchonete, eu não me interesso por descobrir as suas especialidades e variedades, ou se a omelete de batata que serviam tinha cebola ou não. Porque não é essa a questão.

Extra! Extra! Leia tudo sobre isso! O jornalismo. Me comove ouvir um jovem estudante ou trainee (se não for imobilizado pela inspeção do Ministério do Trabalho) que confessa ter vocação profissional para ser um engenheiro industrial, um eletricista ou um alfaiate. No entanto, eu mudo de estação no meu res cogitans quando um rapazola que está terminando o ensino médio proclama que o seu sonho é ser jornalista, para o qual, naturalmente, ele planeja fazer o curso de jornalismo (Faculdade de Comunicação). Existem muitos jornalistas iniciantes cuja maior ilusão é tornar-se em uma espécie de Carl Bernstein ou Bob Woodward[3], ser um repórter provocador e sem fronteiras, fazer parte da redação de um jornal ‘sério e de prestígio’ como o The New York Times, o The Washington Post, o The Guardian, ou O País.

O cinema, a televisão e a própria imprensa tem cimentado narrativas a propósito da profissão do jornalista, descrevendo-a como épica e o lírica, mito e lenda, fabulação e  sonho, o que, por sua vez, tem deslumbrado e encantado milhares de jovens (e alguns que não são tão jovens). Em resumo, porque eu não fui à hemeroteca em busca de mais dados: hoje já não existe a distinção entre a imprensa preto e branca e a imprensa amarela[4]. A imprensa, assim como toda a galáxia de Gutenberg, perdeu uma boa parte do seu sentido com o surgimento do ciberespaço, da produção digital, da internet e das redes sociais. Mas, não perdeu o seu significado e a sua função. As novas tecnologias permitem montar, com poucos meios materiais e capital humano, uma emissora de rádio e até de vídeo-televisão, uma revista, um jornal; permitem ainda que um comunicador freelance com uma conta no Patreon e noutras plataformas de patrocínio, crie um cenário alternativo virtual para a informação e a comunicação. Não nego que haja muitas pessoas bem-intencionadas e sinceras por detrás dessas iniciativas, mas também não ignoro que o objetivo da maioria delas é, em última análise, ser recrutado por um veículo de mídia ‘convencional’. Enquanto isso, eles reproduzem e imitam os caminhos estabelecidos nesse antigo ofício, por motivação própria e por instinto. Assim, é preciso perseguir as notícias, capturá-las, e fazer com que os leitores as acompanhem e acreditem nelas. E por fim, como levar a sério a veracidade e a autenticidade de um trabalho realizado em um ambiente virtual, e que, pela sua natureza própria, refrata a notícia ao invés de reporta-la?

‘Virtual’, de acordo com o RAE[5]:

“Do lat. mediev. virtualis, e este do lat. virtus ‘poder, faculdade’, ‘força’, ‘virtude’.

  1. adj. Que tem virtude para produzir um efeito, embora não o produz no presente, frequentemente em oposição ao real ou atual.
  2. adj. Implícito, tácito.
  3. adj. Phys. Que tem uma existência aparente ao invés de real.”

No momento presente, todos os jornais ficam amarelados mais cedo ou mais tarde: aquelas folhas de papel hiper-reciclado, que impregnam as mãos com tinta e celulose, que criam fungos, chegam a ser perigosas se usadas para embrulhar anchovas. Fico alarmado em ouvir que alguém morre de vontade de pegar um diário vegetal, de devorar um suplemento cultural, ou de inalar intensamente esses cheiros de mofo junto com a essência de lignina. Não importa a justificativa de que essas sejam expressões menos próximas da realidade do que de metáforas.

As faculdades de jornalismo (ou de ‘Comunicação’) licenciam a cada ano centenas de graduados famintos pelo papel que compõe as manchetes e as reportagens rompedoras. A maior parte desses graduados é uma moçada bastante ignorante em ortografia e em redação, mas que adora os adjetivos e a atmosfera de camaradagem da redação de um jornal. Como se isso não bastasse, os seus antigos professores os teriam familiarizado com os textos de Truman Capote e Noam Chomsky, bem como com os shows de televisão da CNN. Eu tampouco duvido que as gerações progressistas que saem do centro educacional com o diploma nas mão não tenham ouvido falar de Azorín[6], de Júlio Camba[7] e de Camilo José Cela[8]; e, se por acaso o nome de Francisco Umbral[9] lhes parece familiar, é porque ele costumava aparecer na televisão para falar do seu último livro.

Por que nos enganar se os jornais de nossos dias trazem mais mentiras e meias-verdades do que verdades contrastadas com atos, e, são marcadamente tendenciosas. O viés da profissão jornalística é estrondosamente ‘esquerdista’ e quase exclusivamente, progressivista inclusivo. Ah, o jornalismo! Não há sonho maior entre os aprendizes de ‘gazetas’  (e também escritores em busca de suplemento!) que escrever para / em algum dos diários fetiche, citados anteriormente. Não há nada comparável a ser visto sentado no café Gijón, em Madri, diante de um café expresso e o jornal aberto de par a ímpar, para sentir-se estupendo, passar por intelectual, e ser observado e admirado. E o que dirá se se trata da varanda (onde você pode fumar, até o momento) do café de Flore em Paris. É puro glamour fou.

 

  1. A ‘batalha de ideias’ e a guerra do glamour

Não nego a necessidade da batalha de ideias na hora de enfrentar, neutralizar e capturar a pressão intelectual e emocional das ‘opiniões dominantes’ na sociedade contemporânea. Eu faço observar que deveriam ficar circunscritas ao local de onde surgiram: universidades, centros culturais e nas outras mais tramas do saber. E isso no mais otimista dos pressupostos, porque, como é do domínio público, a participação de conferencistas e comparecentes relapsos à doutrina oficial não é comumente aceita em eventos ou debates nas faculdades, universidades, ou reuniões de ex-alunos. E assim sendo, com tal unanimidade ao estilo búlgaro[10], pouco debate pode haver. No maior número de casos, os atos que eles assistem são flagrados, boicotados ou simplesmente cancelados por aqueles que se consideram donos absolutos dos templos do saber. Nesta área reservada, a expressão ‘batalha de ideias’ tem um significado literal e restrito. Caso a ação dos manifestantes fosse ‘malvista’, ou repudiada socialmente, eles não a fariam. Pelo contrário, é comum (e eu até diria ser o principal objetivo do número) eles gravarem a indignação com a câmera de vídeo do celular para depois postá-la no YouTube e nas redes sociais.

Enquanto eu argumento que exportar a ‘batalha de ideias’ é inútil e até fútil, de imediato me vem à mente um aforismo cristalino:

Uma afeição não pode ser reprimida ou suprimida, exceto por meio de outra afeição oposta e mais forte do que aquela a ser reprimida. Baruch (Benedito) de Spinoza, Ética, Parte IV. Proposição VII

As paixões não recuam face às razões. Uma condição, como a tristeza, só pode ser combatida no momento em que a alegria cresce em um indivíduo, com o resultado de que esta desloca aquela. É uma crença vã (e com aparência de tautologia) que uma pessoa chegue à razão pela força de razões, quando está possuída, intoxicada ou sob o efeito de um encantamento, do qual, comumente, não está ciente, ou quando a esperança e o medo a dominam… Ou, quando é proveitoso viver na ilusão.

Sugiro, em vez disso, libertar o indivíduo dos porta-bandeiras, dos hábitos viciantes, das confianças adquiridas, das obediências cegas ou impostas; forneça-lhe um antídoto que limpe a sua mente de conteúdos tóxicos, a sua boca de palavras impuras, e o seu comportamento das más ações. Em resumo, que ele tome gosto pela liberdade e não pela submissão, que substitua o ‘princípio do prazer’ e o merengue do glamour pelo ‘princípio da realidade’ (Sigmund Freud), pelo senso de responsabilidade e pela decência. Se é que o indivíduo os aceita e se lhe convém…

Sob o manto do politicamente correto e da doutrina oficial, o indivíduo sente-se protegido contra contradições, mudanças de opinião e de governo, birras, e mudanças nas modas culturais. Fora dessas, certamente faz muito frio e vive-se na intempérie. Lá dentro cheira a uma manjedoura, mas se está agasalhado e aquecido. Pois é…

Um bocejo ventilado e uma lufada de ar fresco podem ser mais curativos para um asmático ou alguém sufocado por slogans do que uma estatística reveladora ou um argumento trabalhado com convicção e bom senso. Conseguir que um indivíduo intoxicado de manifestos, agindo de acordo com um roteiro preestabelecido, experimente perturbação ou vergonha quando pego em flagrante é mais eficaz do que zombar do bandido (que, por despeito, reforçará a sua conduta tola). Eu garanto que é mais importante parar de divulgar (ou retuitar) as tolices do outro e os desabafos pessoais do que ficar atrelado à zanga do colega ao rufião; a mesma coisa vale para os sermões dos influencers youtubers, os paladinos e generais de divisão na ‘batalha de ideias’.

Considerar que o comportamento servil, de seguir a corrente e ser o porta-voz do seu mestre, não faz dele um herói mas uma carne de rebanho, é mais provável que seja irritante e embaraçoso para o indivíduo tocado pelo encantamento, do que por meio de múltiplas  recomendações e reconvenções sobre o seu estado delirante. Ver crescer a autoestima e a força da dignidade, penso eu,  faz mais bem a alguém do que ver alguém suar enquanto justifica o mal.

Quem apenas segue o glamour tem cara de sobra, mas isso é porque o glamour tem abundantes perfis.

 

  1. Sobre a leveza do ser e o parecer ‘progressista’

Eu não trago para estas páginas uma poção mágica ou um bálsamo que cura tudo, porque eu não sou nem mágico nem alquimista, e tampouco um médico de cabeceira. Entretanto, a moléstia que eu aponto é profunda.

Acontece que uma notória maioria dos cidadãos se colocaram tacitamente na margem esquerda da política; isto quer dizer: antepõe-se a igualdade à liberdade; o público ao privado; o coletivismo ao individualismo; a solidariedade emocional ao egoísmo racional; a redistribuição de riqueza ao enriquecimento pessoal; a ação do governo à iniciativa privada; eles queixam dos impostos mas não acreditam que o objetivo de eliminá-los seja justo; consideram mais do que aceitáveis a previdência social supremacista e o ruinoso sistema piramidal de aposentadorias ​​(a maior parte dos espanhóis o coloca entre os melhores do mundo), sem sequer conhecer e muito menos se interessar pelos fundos de capitalização pessoal (contas em fundos de pensões; a chamada mochila austríaca), como uma alternativa mais viável e justa.

Na realidade, o interesse e a preocupação pela aparência física e para parecer legal faz com que as crenças e os postulados comprometidos evoluam na cidadania em um nível semelhante ao dos estabelecimentos dedicados à beleza e ao fitness, tais como nail bars,  academias que oferecem aulas de Pilates, ioga, e dança (zumba, salsa, reggaeton), clínicas de tatuagens, e as diversas intervenções das redes sociais. Poderíamos dizer que essas compartilham uma tendência semelhante. A opinião pública se move irremediavelmente para o ritmo dos modismos e das forças coletivas, mas causa consternação ver a facilidade e a velocidade com que os fundamentos básicos (tradicionais) da sociedade são abalados, o que mostra que eles não estavam seguros e tampouco eram verdadeiramente assumidos.

A respeito das Eleições Gerais realizadas na Espanha em 2019, a maioria dos espanhóis votou nas candidaturas da ‘esquerda política’, vários milhões ao agrupamento comunista Unidas-Podemos, com laços ideológicos e financeiros que o vinculam à Venezuela chavista e ao Irã islamista. Como resultado, surgiu um governo de coalizão ‘social-comunista’, que ameaça (e já está a trabalhar nisso) desmantelar a sociedade de proprietários. Entretanto, a partir desses dados, não se deve concluir que na Espanha, aqueles que votaram e trouxeram tal Executivo ao poder são todos comunistas.

Independentemente da ação do governo em diferentes gabinetes socialistas, o Partido Socialista dos Trabalhadores Espanhóis (PSOE) mantém, em todo o território nacional, um terreno eleitoral que não cai abaixo dos 25% dos eleitores. Não parece tampouco razoável deduzir desses números que a grande maioria dos espanhóis deseja para a Espanha um modelo de vida como o dos soviéticos ou o da Cuba castrista.

Movem-se numa tendência política como quem está apaixonado pela moda jovem, sem perceber que existem ‘roteiros de viagens’ e viagens de aventuras que não são necessariamente de ida e volta. O retorno à sanidade e a uma sociedade bem ordenada será lento, caro e bastante doloroso.

 

  1. Quando a publicidade é uma pechincha

Diz-se que a populosa e desnorteada massa social forma esse magma disforme chamado ‘maioria silenciosa’. Estritamente falando, mais do que ‘silenciosa’, caberia qualificá-la de ventríloqua, pois apesar de que fale (ou aparente falar), ela diz muito pouco; ela tagarela e balbucia, visceralmente, em falsete, ou através da boca dos outros. Apenas uma pequena proporção dessa população estrategicamente localizada, agita e faz barulho, o suficiente para marcar a pauta e o território, para apontar os ritos e as rotas que os demais se limitam a seguir. É um absurdo, insisto eu, inferir de tudo isso que milhões de espanhóis seguem os preceitos ‘comunistas’ e os protocolos ‘progressistas’ com conhecimento de causa, com convicção e por princípios, por lealdade ao legado marxista-leninista. O que eles fazem é seguir a corrente.

Muito mais do que ser ‘de esquerda’, as pessoas desejam evitar, acima de tudo e a qualquer custo, aparecer em público como sendo ‘de direita’, e serem rotuladas como ‘ultra’ ou ‘fascista’. Devido a essa evitação, elas são capazes de seguir alguém, fechar a boca e ser depenadas, em troca de não se sentirem excluídas do grupo e segregadas. A sensação de estar agasalhado e socializado, em companhia, entre ‘amigos’ e ‘seguidores’, de ser bem-visto, antepõe-se ao agir livremente, trabalhar e ganhar dinheiro. Porque as pessoas percebem, com medo e tremor, que é pior ficar sozinho do que mal acompanhado, e que o orgulho do pobre é melhor do que a solidão e o penar de um Sr. Scrooge.

É dito e repetido sem cessar que a ‘esquerda política’ goza de uma ‘superioridade moral’ que a torna blindada e intocável em todas as frentes. A fama lhe sai, de fato, grátis, já que geralmente são os seus oponentes na arena política que ficam repetindo essa mantra, a ponto de acabar acreditando nela; em boa medida, isso é uma desculpa ou uma evasiva culpabilização disfarçada de lamento; explica porque é tão difícil refutar e interromper a presumida ‘hegemonia’ cultural e receptividade social.

França, no rebuliço da década de 1960. O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre inspira e assina o ‘Manifesto dos 121 contra a Guerra na Argélia’, dirigido à opinião pública (e, em particular, ao exército), pedindo a insubordinação e a deserção das tropas. O governo do general De Gaulle avalia a possibilidade de prender o filósofo insurgente. A dúvida, no entanto, é resolvida logo após com esta frase: ‘Não se coloca Voltaire na cadeia’.

Da margem direita frequentemente ouvimos que a ‘esquerda política’ é uma mestra na arte da publicidade. Dito isto, um já se coloca, de imediato e por iniciativa própria, no papel de aluno, de ouvinte ou de estagiário. E com a intenção de reforçar tão ousada revelação, frequentemente acrescenta-se que na primeira metade do desventurado século XX, a publicidade serviu de base e de inspiração ao aparato propagandista de Goebbels e dos nazistas (quando, na realidade, esse foi uma réplica do que foi anteriormente empregado pelo KGB soviético). Aqui temos um novo ato fracassado: o sensível e meticuloso comentarista  acaba de reconhecer que, implicitamente, a referência comunista não ofende ou assusta da mesma forma que a referência nazista. Com atitudes como essas, as salvaguardas e as armaduras saem baratas para os meios de comunicação comunistas e o apparatchik da propaganda.

                                                                                                                                  

O presente artigo foi extraído do livro Dinero S.L De la sociedad de proprietaries  la comunidad de gestores (Dinheiro S.A. Da sociedade de proprietário à comunidade de gestores; 2020) de Fernando R. Genovés. Kindle Edition. Tradução para o português e notas de rodapé de JPO.

Fernando R. Genovés (Valência, 1955) é escritor, ensaísta, crítico literário e de cinema. Doutor em Filosofia pela Universidade de Valência, Espanha, em 1999 ele recebeu o Prêmio Juan Gil-Albert de ensaios. É autor de inúmeros artigos em jornais e revistas especializadas, como Libertad Digital, Las Provincias, ABC Cultural, Claves de Razón Prática, Debats, Revista de Occidente, e El Catoblepas. Além do livro acima referido, o seu último, ele publicou: Marco Aurelio. Una vida contenida (2012), La ilusión de la empatía (2013), Dos veces bueno. Breviario de aforismos y apuntamientos (2014), El alma de las ciudades. Relatos de viajes y estancias (2015), La riqueza de la libertad. Librepensamientos (2016), Aforo ilimitado. Asientos libres y otras liberalidades (2017), La hora moral. Para una ética del presente (2019).

 

Retornar à HomePage

Notas do editor

[1] Palmer, Tom G., editor. The morality of capitalism: what your professors won’t tell you. © 2011, Students For Liberty y Atlas Economic Research Foundation. Jameson Books, Inc.

[2] O emprego das palavras ‘publicidade’ e ‘propaganda’ como sinônimos uma da outra é semanticamente incorreto. Embora a publicidade e a propaganda tenham um denominador comum na divulgação, a publicidade é um tipo de divulgação caracterizada por ser politicamente neutra, enquanto que a propaganda é um tipo de divulgação carregada de sinais ideológicos.

[3] Dois jovens repórteres que, em 1972, revelaram o escândalo de Watergate.

[4] O termo imprensa amarela foi empregado nos Estados Unidos para designar os  jornais que tinham uma linha editorial baseada no sensacionalismo e abusavam de manchetes em letras garrafais, grandes ilustrações e exploração de dramas pessoais. No português brasileiro, assim como no francês, o termo equivalente é ‘imprensa marrom’.

[5] Dicionário de espanhol da Real Academia Espanhola.

[6] Pseudônimo de José Martínez Ruiz, (1873-1967), foi um escritor espanhol pertencente à geração de 98, que cultivava todos os gêneros literários: o romance, o ensaio, crônica jornalística e crítica literária e, em menor grau, teatro.

[7] Pseudônimo de Villanueva de Arosa (1882 – 1962), foi um escritor e jornalista espanhol que durante a Guerra Civil expressou suas simpatia pelo grupo franquista.

[8] Nome completo, Camilo José Cela Trulock (1916 –  2002, foi um escritor espanhol que notabilizou-se pelas narrativas do período logo após a Guerra Civil.

[9] Pseudônimo de Francisco Alejandro Pérez Martínez, (1932 – 2007) foi um poeta, jornalista, romancista, biógrafo e ensaísta espanhol.

[10] O autor refere-se ao fechamento, em 2018, da Universidade Centro-Europeia (CEU) fundada em Budapeste em 1991 pelo financista George Soros, com o propósito de ajudar os países da Europa Central e Leste na transição do comunismo de sociedades fechadas para a democracia de sociedades abertas, e inspirada naquela do filósofo Karl Popper (1902-1994), a quem Soros conheceu quando era aluno da London School of Economics (LSE). A CEU é reconhecida nos Estados Unidos e as suas aulas são ministradas em inglês. Por essas e outras razões, atraía alunos dos mais diversos países da Europa e do resto do mundo, embora também irritasse os grupos nacionalistas de direita da Bulgária. Durante muito tempo a CEU sobreviveu às críticas do grupo de mídia de Delyan Peevski, que domina a cerca de 80 por cento da imprensa naquele país, o qual é conhecido pelos seus ataques a organizações cívicas e indivíduos que defendem os valores liberais. A decisão do governo da Bulgária de não mais reconhecer os diplomas da CEU foi a causa do encerramento de suas atividades em Budapeste. Em 2019, a CEU iniciou o processo de transferir-se para deu novo campus em Viena. Em Janeiro de 2020, George Soros anunciou no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que irá criar uma rede mundial de universidades a partir do modelo da CEU, e com o mesmo objetivo desta, de incentivar o combate ao autoritarismo.

Fernando R. Genovés

  1. Never say ‘always’ or ‘capitalism’

So far, I have used phrases like ‘money’ or ‘fortune’, when I might as well have said ‘capital’. But I will not do that, because they are not synonymous and ‘capital’ is subject to a very particular political and ideological doctrinaire. In this essay, I use certain words that, save for lapse or error, I do not use, even though I mention and quote them. Just as the concept ‘socialism’ derives from the voice ‘social’, ‘capitalism’ comes from ‘capital’, a term already used since the 12th century, in commercial activity.

Tom G. Palmer, in the introduction to the book The morality of capitalism: what your professors won’t tell you (© 2011, Students For Liberty y Atlas Economic Research Foundation. Jameson Books, Inc.; La moralidad del capitalismo, 2013, Chile, Fundación para el Progreso), puts the term in its context.

The word ‘capitalism’ started to be used in the 19th century, generally in a derogatory sense: for example, when the French socialist Louis Blanc defined the term as “the appropriation of capital by some to the detriment of others”. Karl Marx used the phrase “capitalist mode of production”, and it was his fervent follower, Werner Sombart, who popularized the term ‘capitalism’ in his influential 1912 book Der Moderne Kapitalismus.

In turn, the concept of ‘socialism’ was established in opposition to that of ‘capitalism’, highlighting the social versus the capital, one as an alternative to the other; a system designed to replace another system. The haul has been taken very seriously by those who promote this antithesis, even affecting dozens of countries, and millions of people, until today; in most cases, except those versed in the dialectical materialism, without understanding the background of the alleged contradiction. ‘The final struggle’ covers all fronts, starting with language, since the enemies of freedom are the ones who find, wield and elevate these concepts, among many others, that make up the doctrine of ‘anti-capitalism’.

Tell me how you speak and I will tell you who you are. Express yourself as Comrade X and you will end up looking like Comrade X, being a companion of language: the first step to joining the club of ‘fellow travellers’ (poputchik). Be careful, therefore, in the use of language that creates dependency and favours the extension of the beliefs associated with them. George Orwell pointed out with penetrating acumen that the first battle that totalitarianism must win in order to impose itself on the world, is the battle of language.

‘Socialism’ comes from the word ‘social’. What is magical and enchanting about ‘social’ that dazzles almost everyone equally? For me, this ‘social’ means, after all, nothing but ‘expensive’, ‘onerous’ and ‘tax’, an ‘added value that all citizens end up paying.

The exaltation of ‘social’ is, in short, very expensive. It weaves (‘social fabric’) a profound animosity and an aggressive resentment against the individual and liberty which ends up crushing them. Such sentiments undoubtedly stem from a stage that is earlier than the political one:

The hatred of liberalism does not come from any other source. Because liberalism, before being a more or less political issue, is a radical idea about life: it is to believe that each human being must be free to fulfil his individual and non-transferable destiny. José Ortega y Gasset, ‘Socialización del hombre’.

Over time, the feelings associated with those words, the connotation they carry, their impact on people, have not changed substantially. Perhaps only people who have experienced the ‘socialist’ system are vaccinated against this scourge. Although not in its entirety. In today’s Russia, to cite a case, sympathy for the communist system and the Soviet Union’s past remains alive in a significant part of the population, from those who knew it and those who received information about it. Not even the fall of the Berlin Wall and the revelation of the horrors of such a criminal and inhuman system failed to bury ‘socialism’. If anything, it was just the opposite.

Shortly after the announcement of the ‘end of history’(Francis Fukuyama) and the global triumph of ‘capitalism’, and, especially, after the economic crisis unleashed in the summer of 2007, ‘socialism’ gained a public notoriety, rising from its ashes. Disguised as ‘social democracy’ (the social always placed at the forefront) until then, a softened version of ‘socialism’ that did not question the ‘capitalist’ economic and social order, in our day, the parties and supporters of true ‘socialism’ launched themselves into a struggle without territory and with their faces exposed, without bothering to put on the makeup of propaganda and action, thus showing their true inhuman face.

 

  1. It’s only words

Openly revolutionary proclamations, the plea to overthrow ‘capitalism’ and to take the definitive step forward, make up the dominant discourse anywhere on the planet. The ‘socialist’ ideology reigns not only in the media, in schools and universities – ‘the world of culture’ as a whole –  but everywhere.

As opinion polls reveal, among the young population, the spectrum of ‘socialism’ gains attachment and predilection against the reality of ‘capitalism’. ‘Anti-capitalist’ groups have become strong on the streets, where they mobilize and demonstrate shamelessly (though often with masked faces) at the slightest opportunity. Against which ‘capitalism’ do they fight…?

About 40% of the economic activity in the United States of America (USA) passes through the hands and the control of the government, which has grown in power and influence in a nation that, since its foundation, has understood and defended the value of the private over the public, the value of freedom, the subjection of political power emanating from the respective states and, above all, from Washington, the country’s capital. Federal spending per capita increased 191% between 1960 and 2018, from $ 4,300 to $ 12,545. What happened to the American way of life?

The People’s Republic of China, thanks to a peculiar combination, in practice, of a ‘capitalist’ economy, under the leadership of the Chinese Communist Party, has managed to establish itself as the first world economy, a rank that the USA held until the last century. As an economic, social and political model, the USA has progressively turned to the system that dominates in Europe. But which one?  ‘Social democrat’? ‘State capitalism’? ‘Social capitalism’? Like Europe or like China?

At the present moment, it is only from the false propaganda against freedom, or from a shameless cynicism, or pure ignorance, that one can say that ‘capitalism’ is the dominant model of society in the world: “if by ‘capitalism’ is understood as a system competence based on the free disposition of private property” (Friedrich A. Hayek, The Road to Serfdom, 1944). Or what remains of the free and open market society, supported on private property, the division of powers and the minimum state, where the values ​​of individualism, enterprise and personal responsibility prevail. In short, from the society of owners.

Here is the heart of the matter, a crucial issue. Well, its purpose can hardly be understood (regardless of the author’s ability to communicate and his explaining expertise) – the transition from the society of owners to the community of managers – using terms that distort and confuse things rather than elucidating them, or that denote a non-existent reality, reflecting a situation in which words and actions do not coincide, in which language is not so much used to communicate as to persuade.

‘Capitalism’ is a concept that, no matter how many virtues its strict meaning contains (and which are not few) and how much its genuine meaning is explained, its meaning and value are inevitably associated with bad vibes and negative feelings. ‘Socialism’, on the contrary, sounds good, the ‘social’ thing. ‘Progressivism’, in turn, evokes a horizon and an ideal of progress. Who is the brave individual willing to condemn ‘the social’ and ‘progress’?

All men were made for one another: either then teach them better or bear with them. Marcus Aurellius, Meditations

Okay, but who has the patience to explain to others each and every one of the words they use, in order not to be misinterpreted, or to continue to increase and reinforce, more than the language chain, the chained language?

One day, I asked a person with whom I have the confidence to speak, and who knows how to tie shoelaces, about why she voted for the Socialist Party in all elections, and she answered me, seriously and without a hint of a joke, that it was because she is very ‘social ‘and’ sociable ‘, and enjoys being with people rather than being alone …

And communism? I think that the only correct thing in communism is the name, namely: the perverse recreation of a world in which everything is common, that is, ordinary, public, current, vulgar, miser and miserable, inferior, low and bad. Yes, I will continue to use that term from now on. It adjusts to reality.

Neither ‘capitalism’ nor ‘socialism’ or ‘progressivism’. What are we left with then?

 

  1. Capitalists socialists and socialist capitalists

There are ‘capitalist socialists’. And there are also ‘Castroists’, ‘Chavists’ and ‘Anarco-syndicalists’, a ‘truly existing socialism’ and another pending to exist: the pending revolution, an expression coined by Trotskyists, those communists who are not ‘socialists’ from the First International, but from the Fourth, and rather less, Stalinists. In other words, it’s a helter-skelter.

There is ‘liberalism’ by itself, ‘classic liberalism’, ‘neoliberalism’, and ‘anarcho-capitalism’, ‘capitalism with a human face’ and hard face capitalism (‘capitalism of friends and minions’), ‘state capitalism’, ‘humanist capitalism’, ‘social capitalism’, ‘liberal capitalism’, among many other varieties to choose from in a free market …

And, ouch, there are ‘socialist-capitalists’, with or without the party card, both at individual and corporate levels. At the present time, a notable amount of commercial advertising and corporate (private) communications has made its speech from the official doctrine of the enemies of freedom and private property. This opportunistic and petty conduct has been around for a long time and is increasing. We are at a point (with no return?) when it has become hard to differentiate it from the script of advertising and of propaganda with ideological content. More than ‘politically correct’, they are corrective: dairy industries encourage animalism; organizations which are dependent on banks invest in proclamations about revolution, the ‘social commitment’ and the pedagogy that is socializing and inclusive; manufacturers of alcoholic beverage teach public morality; energy companies follow the mainstream with speeches on ecologism and feminism; companies that sell masculine shaving products insult men by spitting ‘toxic masculinity’ slogans into their faces (such as growing a moustache, a goatee or sideburns).

All of this comes to mind or not. The revolution and the world are upside down. Advertising conveys publicly what the company intends to sell: yesteryear, products and services; the current year, and also, formulas and slogans accompanied by ideological signs, not neutral, but ‘anti-capitalist’.

On August 23, 2011, the Europa Press news agency released the following story:

“Several of France’s biggest fortunes and top entrepreneurs, including L’Oréal’s billionaire heiress Liliane Bettencourt, and CEOs of multinationals like Veolia, Danone, Total or Société Générale, have signed a proposal in which they ask the government to establish an ‘exceptional contribution’ imposed to the highest incomes, as a way to collaborate in the ‘solidarity effort’ necessary to support the economic future of the Gallic country.

”We, presidents and directors of companies, men and women in business, financial agents, professionals or shareholders, call for the establishment of a special contribution that will affect the most favoured French taxpayers”, explains an open letter published by the French weekly Le Nouvel Observateur.

“We are aware that we have fully benefited from a French model and a European environment to which we are committed and want to help to preserve”, points out the open letter, signed by sixteen of the biggest fortunes and the main entrepreneurs in the Gallic country.

“This contribution is not a solution in itself, and therefore must be part of a broader effort of reform, both in terms of expenditure and revenue”, the promoters of the proposal recognize.

Likewise, the signatories of the letter emphasized that “at a time when the deficit in public accounts and the prospects for the worsening of the State’s debt threaten the future of France and Europe, at a time when the government asks us all for a solidarity effort, it seems necessary to contribute”.”

Guilt complex, self-immolation, flogging, opportunism, abandoning oneself, renouncing that which is yours and corresponds to you, reach the peoples of the West at levels close to the greatest of all the delusions. The engaged republicanism of rich people with complexes is manifested on the Parisian catwalk, as we have seen. What a strange way to contribute ‘socially’, this appealing to coercion! Wouldn’t it be enough to create jobs and wealth through business enterprises? What a curious way to generate publicity! Thus, Benetton’s postmodern fashion and its old multi-coloured messages, demagogic and multiculturalist, are announced.

Yet, the main question is: if these ‘capitalists’ and ‘socialists’ want to contribute and donate money to society, why don’t they hand it over to the state? Why don’t they make voluntary donations? Why don’t they promote private philanthropy? Why don’t they help charitable organizations financially? Why don’t they resort to free enterprise instead of demanding that everyone is compelled to partake with their socializing republican faith and their forced detachment? Why don’t they seek a more honest tax consultant or manager when making decisions? Perhaps they believe that all rich people are like them…

There are many individuals (the majority) whose fortune was made through good enterprises, such as industriousness, taking risks, investing their savings, mortgaging their properties, respecting free competition, without cheating, without frauds or lies, and without flattering the powerful and politicians. And without playing to the gallery. Why should the taxpayers, rich or poor, pay for the republican preachers à la Mitterrand or à la Robespierre?

Echoing a piece of news that runs through Europe and the entire planet, on June 25, 2019, the Spanish newspaper El Mundo published an article entitled “US billionaires ask for ‘a tax on wealth’ for ethical reasons”. The entry point: “The plan exempts the first $ 50 million in assets from tax, but provides for a 2% fortune tax of more than 50 million, and raises the rate to 3% for those over 1,000 million”. Among the generous billionaires, the article cites Abigail Disney, heir to the Disney empire, and George Soros. Is Mr. Soros a ‘capitalist’ or a ‘socialist’? And Michael Bloomberg? And Bill Gates? And most of the ‘world of culture and entertainment’ in Hollywood, New York or Paris?

So, ‘capitalism’? Yes or no?

“Yes to capitalism, but limited to its role. It is needed that the value system is kept open so that nobody succeeds at the expense of the defeat of the rest”. Pascal Bruckner, in the essay The misery of prosperity: the religion of the market and its enemies (Misère de la prosperité: La religion marchande et ses ennemis; 2002) states that when one says ‘yes to capitalism’, but a ‘yes’ that is immediately demoted by a ‘but’, what he is really trying to say is ‘no’. Or something that amounts to the same: yes, but no… Bruckner is a French writer and philosopher, who is generally reasonable and perceptive, but an intellectual nevertheless, in spite of himself. When choosing between nation (politics) and market (economy) he opts for the ‘value system’ that the political nation contains, ahead of the market, which has no motherland, and which only serves interests and answers the call of money: it offers prosperity in exchange for generating misery. And that can’t be. Bruckner does not in any way advocate a ‘socialist’ solution to the situation, but neither he wishes to join the game (stock market, companies, profits, money…) of ‘capitalism’. Let it take its course…

So ‘socialism’? Yes or no?

It is probably preferable to call ‘collectivism’ the methods that can be used for a wide variety of purposes and to consider socialism as a species of this genus. Friedrich A. Hayek, The Road to Serfdom, 1944.

 

  1. This false glamour

Is the aversion to ‘capitalism’ and the ‘popularity’ of socialism a product of people’s conviction or the effect of glamour?

In a public act held years in Madrid some ago, in defence of the democratization of Cuba, and with the notable presence of artists and intellectuals from the ‘political left’ (the included and the inclusive), the writer Mario Vargas Llosa, spokesman for the meeting, declared: “We have to remove this false glamour from the Cuban dictatorship”. Bravo! Although it is not known whether the Peruvian-born Spanish writer is a ‘capitalist’ or a ‘socialist’.

If there is anything that explains the survival of the criminal Castroist regime, it is, above any other considerations, the material and ‘moral’ support it receives from ‘socialists of all parties’ (F. A. Hayek) on a planetary scale. In other words, the help and the backing from those who flaunt the red. The same goes for other bastions of the progressivist ‘unhappy consciousness’ (Hegel). Together with Gaza, Venezuela, North Korea and a few other strongholds, although very emblematic of ‘resistance’, the ‘political left’ maintains its particular doctrinal stronghold in small territories sacrificed for the ‘Cause’; the larger territories under the communist rule, such as China, are already defending themselves alone. The Che Guevara photo, the Palestinian scarf, or the sickle and hammer, still serve as signs and countersigns to identify the saint (the righteous); and far from being displayed discretely in democracies, but rather with pride, ostentation and insolence.

Today, the Nazi swastika is prudently illegal, and Holocaust denial is generally condemned in the public sphere. The same is not true of the left-wing totalitarian signs and slogans, as well as the denial of  9/11.

Nevertheless, the red is anger, mummy, what is it that the red has… It has a glamor. A false glamour that fascinates both the ones who wear it and the others, because it has a license to act with impunity and because it is becoming. What about the uninhibited behaviour of the former, and the sensitivity and complacency of the latter, we must ask.

The ‘political left’ has long since abandoned the ‘workers struggle’ and the ‘liberation of the proletariat’ (in fact, workers other than civil servants, generally vote for political parties on the centre-right). But, they did not renounce the ‘class struggle’: what has changed are the classes and the meaning of struggle.

Consequently, the ‘Revolution’ has been reduced, in the first instance, to the ‘cultural revolution’, an attack that has more counterculture and anti-culture than culture itself. Contemporary society, the ‘society of the spectacle’(Guy Débord) and of scandals, feeds on indignation and theatrical representation, poise and the cult of image, exhibitionism and selfies, cosmetics and makeup, sentimentalism and empathy (a cheating buzzword, on special offer); on intoxication (fake news, agitprop, manipulation) and enchantment. Society, now globalized and media-savvy, has become somewhat idiotic by the media and the advertising industry. Such a society acquires the appearance of a complex group, but in reality is very simple, vulnerable, malleable, and easily dominated, driven and controlled. All that is needed is to remove the low passions from its members, by activating simple stimulus-response mechanisms, offering what it wants (after prescribing the wants), with flattery and entertainment.

Society, or collectivity, do not contain ideas as such, that is, those which are clear and well thought out. It contains only platitudes and exists from those platitudes. With this, I do not mean that they are false ideas, they could be magnificent ideas [note the philosopher’s irony]; what I’m saying is that, although the established opinions or topics are valid, such possible distinct qualities do not act; what acts is simply the mechanical pressure exerted over all individuals, their soulless coercion. It is not without interest that, in the most ordinary language, they are called ‘the leading opinions’. José Ortega and Gasset, Man and people (1949-50)

Perhaps the task of breaking the spell of the enchanted ones does not depend as much on the so-called ‘battle of ideas’ as it does on removing the colour and the sweetness from the discourse of enchanting illusions. Removing its makeup is an effective way to disarm it.

 

  1. Laboratories and observatories in universities: what places!

The world war that is being waged in defence of liberty is part of a long fight, one which never ends. Just as wealth needs to be created, liberty must be earned on a daily basis. Since the war in defence of liberty is not, strictly speaking, an ideological war, I came to the conviction that it also would not be correct to conceive it in terms of the ‘battle of ideas’, as we believed for some time, that is: the activation of an action-reaction mechanism in which an action on one side causes a reaction on the other side, in a process that grows in violence, at the crossroads of indignations and trickery, like a duel of forces. All because he who doesn’t move doesn’t appear on the photo. Behold here, precisely, the mother of all battles: the image. It is usually won by the whoever hits harder, wears out less, and dominates with greater cunning the apparatus of (emotional) intelligence, communication and appearance, publicity and propaganda.

In the perspective of the sociologist Max Weber, the development of humanity has gone through different phases, in which a general and universal direction, especially verifiable in Western society, complying with these two main elements: the growth of rationalization, together with the process of disenchantment of population; and the gradual withdrawal of sacred and magical beliefs when interpreting and conforming to reality. The derivation of all this is not, as one could infer, the triumph of rationality, but the extension of nihilism.

Unlike what the 18th century Enlightenment and its intellectual heirs imagined, contemporary mass society, did not grow in rational thought and critical spirit, as a result of the universalization of literacy and education, of reading books and the greater budgetary injection into the culture. Such a myth, such an enchantment, and such a fraud, have not yet been fully unmasked; it shows momentum and validity, but not the truth. The opposite has happened. The dream of ‘Reason’ has led to the establishment of a morbid and accommodating society, friendly to the simple, the fast and the instantaneous, and distanced from both conviction and responsibility. And this which I point out applies to crowds, ‘elites’ and managers, without distinction.

Millions of diploma-holders, graduates, and PhDs have emerged from universities, and only a select number of them, linked to the areas of science and business, have produced knowledge that is authoritative and practical. It was within their walls that the basic outline of the  Revolution against freedom was forged. Universities are still the hotbeds of generations of academics and intellectuals who try to imitate and replace the traditional temples of myths and oracles. Its departments issue and disseminate the responses and forecasts that serve as a basic general guideline for society’s conduct, not so much directly but through an intermediary mechanism involving the pedagogical and the media-driven work of interpreters and disseminators. Like a laboratory (eventually spread to the entire educational system), they experiment and test processed products to be subsequently propagated on a general scale, through a variety of media and intermediaries. Previously, the governments of  ‘capitalist’ countries were dominated by lawyers; today, they are dominated by university and high school teachers.

The ‘battle of ideas’ takes place in an environment that is increasingly subject to a unified thought: progressivism, feminism, multiculturalism, post-postmodernism. And its natural space is an area led by professors and ‘expert committees’. Transferring it to the heart of society is especially beneficial to amplify the effect of ‘laboratory terrorism’(Ortega y Gasset) and the social engineering encouraged by those officials of the intelligentsia, who, for the little they apply themselves, they are able to build sections here and there, and the most varied subsections; this procedure also receives the title of ‘university extension’.

The farce begins to operate at the moment when the same concept of ‘ideas’ is applied to designate the creations and recreations emerged from the campus test tubes, which are nothing more than slogans, dogmas, fantasies, mottos, catchphrase and nonsense, which serves only to govern a ‘Frankenstein universe’. From the media to publishers, from film and theatre producers to operatic productions, from bookstores to public spaces, everything that concerns the ‘world of culture’ is considered the property of ‘cultural Marxism’; or perhaps of the enemies of private property (but not to their own property, or to ‘intellectual property’, to dispel and deceive).

The stated objectives do not always object when it comes to joining the list of ‘travel companions’. And here is the beginning of the end of culture, in its classic and restricted sense, to become the apogee of advertising, privilege, repetition, pamphleteering and sixth-sense broadcasting, the dissemination of transgressive messages, of fashion: the kingdom of glamour.

In contemporary society, the key factor in the fall back of the society of owners and liberty does not consist, as Ortega y Gasset stated a century ago, in the ascendancy, the preponderance and the influence of the mass-man, but in the so-called ‘elites’ (term to be added to the list of emptied of meaning and transvalued).

 

  1. Bookstores & Journalism

I could cite in detail several examples of the above. I will focus on two: bookstores and journalism.

Every day, thousands of business and self-employed workers are forced to close their activities, in most cases due to the fiscal hell imposed by Governments. Some voices, in low volume, show their annoyance and disgust for this situation. However, I am not aware of many crowd gathering events demanding its curbing. The announcement of the closing of a bookstore arouses prompt and vociferous solidarity on thousands of people (whether they are true lovers of reading or not), and, in this instance, one could cite dozens of tearful lamentations, appeals to the public to sign letters of protest, to gather in front of the business that has ceased to exist, or to organize fundraisings in aid of the bookseller, who by the political action, is converted into a singular victim and, at the same time, in the ‘hero’ of those who claim to be his defenders, if not his proxies.

Eyes open, for there are here plenty of clarifications, justifications or feelings from each one, regarding the establishments with wall to wall bookshelves full of books (although paper books only; about the electronic book, one only speaks publically to vilify it, and there is no shortage of people who assure that the eBook and Amazon!, are, ultimately, the reason why now have the ‘For Sale’ is now hung at the doors of so many bookstores). Although this topic is relevant, this is not the place to analyse what comes first to the paladins of the paper book, ‘having’ books’ or ‘reading’ books (it suffices to say that anyone who wishes to look good in a photo for the press, would choose to stand in front of a bookcase, rather than in front of the crystal cabinet, the lounge’s showcase). In short: why a bookshop, and why not a millinery? I suppose that it is a consequence of the so-called ‘cultural exception’ also called the glamour. If the blinds in a café are permanently lowered, I am not compelled to check their specialities and how good they are, for instance, if the potato tortilla they serve has onions or not. For this is not the question.

Extra! Extra! Read all about it! Journalism. I’m touched to hear a young student or an apprentice (if not immobilized by inspection by the Ministry of Labour) who confesses that he has a professional calling to become an industrial engineer, an electrician or a tailor. However, I change stations in my res cogitans when a lad about to finish secondary school states that his dream is to become a journalist, for which, of course, he plans to study journalism (Faculty of Communications; School of Media and Communication, etc.). There are many novice journalists whose biggest illusion is to become another Carl Bernstein or Bob Woodward, or to be an aggressive and borderless reporter, or to be part of the Newsroom of a ‘serious and prestigious’ newspaper such as The New York Times, The Washington Post, The Guardian, or El País.

Cinema, television and the press have crystallized narratives concerning the profession of journalism, describing it as epic and lyric, mythical and legendary, fabulous and fanciful, which, in turn, have dazzled and bewitched thousands of young (and not so young) people. Since I didn’t go to the newspaper archive to look for more data, I’ll put it succinctly: nowadays, the old distinction between the black and white press and the yellow press has disappeared. The surge of cyberspace, digital production, the internet and social networks has caused the press (and the entire galaxy of Gutenberg) to lose a great deal of its sense, although not its significance and function. These new technologies allow one to set up, with little material resources and human capital, a broadcaster for a radio station and even for video-television, a magazine, a newspaper; not to mention the alternative virtual information and communication space that a freelance communicator can achieve with a Patreon account or access to other supporting platforms. I don’t deny that there are many sincere and well-intentioned people behind these initiatives, but I also do not ignore that the purpose of most of them is, in the final analysis, is to be recruited by a ‘conventional’ media vehicle. In the meantime, they reproduce and imitate the pathways established in this ancient craft, by their own motivations and by instinct. Thus, one has to chase the news, capture them, and make the readers follow and believe in them. And finally, how can a work that is carried out in a virtual environment that, by its very own nature, refracts the news rather than reports them, can be taken seriously for its truthfulness and authenticity?

‘Virtual’, according to the RAE (Spanish Royal Academy):

“From Middle Age Latin virtualis, and this from lat. virtus ‘power, faculty’, ‘strength’, ‘virtue’.

  1. adj. That which has virtue to produce an effect, although it does not produce it at present, often in opposition to the real or actual.
  2. adj. Implicit, tacit.
  3. adj. Phys. That has an apparent rather than real existence.”

On the present moment, every newspaper turns yellow sooner or later: those sheets of over-recycled paper, which impregnate the hands with ink and pulp and fosters fungi, and which are dangerous even to be used to wrap anchovies. I am alarmed to hear that someone dies to get a vegetable diary, to devour a cultural supplement or to inhale intensely those musty smells and the essence of lignin. It matters not the justification that these are expressions less close to reality than to metaphors.

Each year, the schools of journalism (or ‘Communication’) license hundreds of graduates who are hungry for paper and for writing striking headlines and reports. Most of these young graduates are quite ignorant in spelling and composition, although they love adjectives and the atmosphere of camaraderie at the newspaper’s newsroom. As if this weren’t enough, their former professors would have familiarized them with the writings of Truman Capote and Noam Chomsky, as well as with the CNN television scripts. I don’t doubt that the progressive generations that have emerged from the educational centres with their diplomas haven’t heard of Azorín, Júlio Camba and Camilo José Cela; and if by chance the name of Francisco Umbral seems familiar to them, it is because he used to appear on television to talk about his latest book.

If today’s newspapers are markedly biased and they print more lies and half-truths than truths that have been fact-checked, why do we deceive ourselves? The bias of the journalistic profession is loudly ‘leftist’, and almost exclusively punctuated with inclusivity progressivism. Ah, journalism! There is no greater dream among trainee journalists (and writers in search of a supplement!) than to write for one of the fetish diaries, above mentioned, or, if that is not possible, to scribble in them. There is nothing comparable to be seen at Café Gijón, in Madrid, in front of an espresso and with newspaper fully opened, to feel awesome, to pass as an intellectual, and to be seen and admired. And what wouldn’t one say about being seen on the veranda (where one can smoke, up to the moment) of Café de Flore in Paris. It’s pure glamour fou.

 

  1. The ‘battle of ideas’ and the war of glamour

I do not deny the need for a battle of ideas at the time one has to confront, neutralize and apprehend the intellectual and emotional pressure of the ‘leading opinions’ in contemporary society. I point out that they should concentrate, if anything, on the place where they came from: universities, cultural centres and other learning meshes. And this is a most optimistic assumption, since it is common knowledge that unorthodox speakers and attendees have been habitually barred from debates or similar events held in universities, colleges, or alumni reunions. And therefore, with such Bulgarian-style unanimity, there can be little debate. The events where the unorthodox are invited to speak are frequently busted, boycotted or simply cancelled by those who consider themselves to be the absolute owners of the temples of knowledge. In this reserved area, the expression ‘battle of ideas’ does have a restricted and literal meaning. If the disrupters actions were socially repudiated or seen as ‘malicious’, they would not do them. But what commonly happens is the opposite (and I would go on to say that causing outrage it is the main purpose of the gathering) for they use their cell phone’s video camera to record their actions so that they can be posted on social media and on YouTube.

I argue that exporting the ‘battle of ideas’ is useless and even futile, and immediately a crystal clear aphorism comes to mind:

Affection cannot be suppressed or suppressed, except by means of an opposite affection and stronger than that to be suppressed. Baruch de Spinoza, Ethics, Part IV. Proposition VII

Passions do not recede in the face of reasons. A condition, such as sadness, can only be counteracted when joy grows in an individual, with the result that the later displaces the former. It is a frivolous belief (and a tautology) that a person comes to reason by virtue of reasons, when he is possessed, intoxicated or under the effect of a bewitchment, of which, he is not normally, aware, or when hope and fear dominate him… Or, when living in an illusion is beneficial.

I suggest that it is better to free the individual from flag-bearers, addictive habits, secured trust, blind or imposed obedience; to provide the individual with an antidote that cleanses his mind of toxic contents, his mouth of impure words, and his behaviour of bad actions. In short, that he develops a taste for freedom rather than submission, that he substitutes the ‘pleasure principle’ and the merengue of glamour for the ‘reality principle’ (Sigmund Freud), the sense of responsibility, and decency. If he can accept these and these suit him…

Under the cloak of the orthodox doctrine and the political correctness, the individual feels protected from contradictions, changes in government and in opinion, in whims, and in cultural fashions. Outside, it is certainly very cold and one would be exposed to the elements. Inside, it smells like a manager, but it’s protected and warm. That’s it then…

Fresh air and a yawn in the wind can be more curative for an asthmatic or someone who happens to be chocked by slogans than a revealing statistic or an argument intertwined with certainty and good sense. To get an individual who is intoxicated with manifestos and who acts according to a pre-established script, to experience embarrassment or shame when caught in the act, is more effective than poking fun of the fool (who would reinforce his foolish conduct out of spite). I guarantee that it is more effective to stop spreading (or retweeting) other people ’s nonsense and personal outbursts than to stay put accompanying the colleague’s anger at the ruffian, as well as the sermons of YouTuber influencers, those knights and major-generals in the ‘battle of ideas’.

Considering that the servile behaviour, the following of the current, and being the spokesman of one’s master, makes the meat of the flock rather than heroes, is more likely to be irritating and embarrassing to the individual touched by the spell, than by way of multiple points and counterpoints regarding his delusional state. I reckon that seeing the growth of self-esteem and dignity does more good to a person than seeing him sweating while justifying evil.

He who just chases of glamour appears so very faced, but that’s because glamour has countless profiles.

 

  1. About the lightness of being and the ‘progressivist’ look

I do not bring to these pages a magic potion or a balm that cures everything, because I am neither a magician nor an alchemist, or even a bedside doctor. Nevertheless, the malady which I identify is insidious.

It turns out that a noted majority of citizens have tacitly placed themselves on the left bank of politics; what this means is: placing equality ahead of freedom; the public ahead of the private; collectivism ahead of individualism; emotional solidarity ahead of rational egoism; the redistribution of wealth ahead of personal enrichment; government action ahead of private initiatives; people complain about taxes, but do not believe to be fair the objective of eliminating them; they consider the [Spanish] supremacist social security and its ruinous pyramidal systems of pension to be more than acceptable (most Spaniards considers them to be among the best in the world), without even knowing or having any interest on personal capitalization funds (Individual Retirement Accounts; the so-called Austrian backpack), which are a fairer and more feasible alternative.

In reality, the interest and the concern for physical appearance and to look cool to others in terms of beliefs and committed postulates, evolve amid the citizenry at the same level as to those establishments dedicated to beauty and wellbeing, such as nail bars, gyms that offer classes in fitness, Pilates, yoga, and dance (Zumba, salsa, and reggaeton), tattoo parlours, and the various social media interventions. We could say that these share a similar trend. Public opinion moves irremediably to the pace of the fads and of the collective forces, but it causes dismay to see the ease and speed with which the basic (traditional) foundations of society are shaken, which shows that they were neither safe nor properly assumed.

Regarding the General Elections that were held in Spain in 2019, the majority of Spaniards voted for the candidacies of the ‘political left’, with several million votes going to the communist group Unidas-Podemos, whose ideological and financial ties connect it to Chavist Venezuela and Islamist Iran. As a result, a ‘social-communist’ coalition government has emerged, which threatens (and it is already working on it) to dismantle the society of owners. From these data, one should not conclude that those who voted and brought such an executive to power in Spain, are all communists.

Regardless of the government’s action in different socialist offices, the Spanish Socialist Party of Workers (PSOE) maintains, throughout the national territory, an electoral terrain that does not drop below 25% of voters. It also doesn’t seem reasonable to deduce from these figures that the vast majority of Spaniards want for Spain a model of life like that of the Soviets or the Castroist Cuba.

People move in a political trend as someone who is passionate about youth fashion, without realizing that the ‘travel guides’ offers certain adventure trips that are one way only. The return to sanity and to a well-ordered society will be slow, expensive and very painful.

 

  1. When propaganda is a bargain

Someone has said that the bewildered social masses form this amorphous magma called ‘the silent majority’. However, strictly speaking, rather ‘silent’, one could describe it as a ventriloquist, for the simple fact that it speaks (or pretends to speak) but says very little; it chatters and babbles, viscerally, in falsetto, or through the mouth of others. It is only a small proportion of this population, strategically positioned, that agitates and makes noise, although sufficiently enough to mark the agenda and the territory, to point out the rites and the routes which the others simply follow. It is an absurd thing, I insist, to infer from it all that millions of Spaniards follow the ‘communist’ precepts and the ‘progressivist’ protocols knowingly, and with conviction and principles, out of loyalty to the Marxist-Leninist legacy. What they do is to follow the current.

More than being ‘left-wing’, people want to avoid, above all and at all costs, appearing in public as being ‘right-wing’, or being labelled an ‘ultra’ or a ‘fascist’. This avoidance makes them amenable to follow anyone, to shut their mouths and be plucked, in exchange for not feeling excluded from the group, segregated. The sensation of being bundle up and socialized, accompanied, among ‘friends’ and ‘followers’, and being well-regarded, is placed ahead of acting freely, working and earning money. For they realize, with fear and trembling, that it is worse to be alone than unaccompanied, and that the pride of the poor is better than the loneliness and grief of a Mr Scrooge.

It is said and repeated over and over, that the ‘political left’ enjoys a ‘moral superiority’ that makes it secure and impervious on all fronts. Fame comes, in fact, free of charge to the ‘political left’, since it is usually their very opponents in the political arena the ones who repeat this mantra in unison, to the point that they end up believing in it; in good measure, this is an excuse or a pang of evasive guilt disguised as a lament; it explains why it is so difficult to challenge the ‘political left’ and to stop its presumed cultural ‘hegemony’ and social receptivity.

France, in the rustle and bustle of the 1960s. The existentialist philosopher Jean-Paul Sartre inspires and signs the ‘Manifesto of the 121 against the Algerian War’, aimed at influencing the public opinion (and the army, in particular), calling for the troops insubordination and defection. The government of General de Gaulle is considering whether or not to arrest the insurgent philosopher. The doubt, however, is soon resolved with this sentence: “One does not put Voltaire in jail”.

We often hear from the right margin that the ‘political left’ is a master in the art of publicity. Such a statement immediately places people, by their personal initiative, in the roles of pupil, listener or trainee. And with the intent of reinforcing such a bold revelation, it is usually added that this art of publicity inspired and served the propaganda machine of Goebbels and the Nazis, in the first half of the unfortunate 20th century (even though, on reality, it was a replica of the methodology previously employed by the Soviet KGB). Here we have a new failed act: the sensitive and fastidious commentator has only just recognized, implicitly, that the communist reference does not offend or scare off in the same way that the Nazi one does. With attitudes as these, the safeguarding and the shielding come cheap for the communist communication and propaganda apparatchik.

                                                                                                                                   

This article was extracted from the book Dinero S.L De la sociedad de proprietaries a la comunidad de gestores (Money Inc. From the society of owners to the community of managers; 2020) by Fernando R. Genovés. Kindle Edition. Translated by JPO.

Fernando R. Genovés (Valencia,  Spain, 1955) is a writer, essayist, literary and film critic. With a PhD in Philosophy from the University of Valencia, Spain, in 1999 he received the Juan Gil-Albert Essay Award. He is the author of numerous articles in magazines such as Libertad Digital, Las Provincias, ABC Cultural, Claves de Razón Práctica, Debats, Revista de Occidente, and El Catoblepas. Dinero S.L De la sociedad de proprietaries a la comunidad de gestores is his latest book. His other books are: Marco Aurelio. Una vida contenida (2012), La ilusión de la empatía (2013), Dos veces bueno. Breviario de aforismos y apuntamientos (2014), El alma de las ciudades. Relatos de viajes y estancias (2015), La riqueza de la libertad. Librepensamientos (2016), Aforo ilimitado. Asientos libres y otras liberalidades (2017), La hora moral. Para una ética del presente (2019).

Return to the

Home Page

Human character is ambivalent by nature and by nurture, and this ambivalence is reflected in almost everything that man does. Nietzsche identified this ambivalence in art, through the concepts of Appolonian and Dyonisian art, the first appealing to logic, prudence and purity, and the second to emotions and instincts. Psychologists recognize that people often fall in one of the two clusters of values. One very common representation of human ambivalence is the different judgements of historical persons, while the capacity to judge oneself is another. This edition of PortVitoria has essays on three historical individuals who were judged incorrectly by public opinion: Sigmund Freud (1856-1939), Louis Agassiz (1807-1873) and the Marquis of Pombal (1699-1782). As Wilfried McClay suggests in his article on Freud, he was vilified for about forty years, but that a fresh look into his legacy revealed him as an endowed and original social philosopher. In my essay on the Marquis of Pombal, I try to show that for over a century he was reputed as a power craze tyrant, until a fresh look on his life revealed his great intelligence and statesmanship in guiding Portugal in the aftermath of the Lisbon earthquake of 1755. Michelle Raji’s article on Agassiz, a Swiss biologist and geologist who in 1832 became a university professor first at Neuchâtel, Switzerland, and in 1847 of Harvard, when he gained notoriety for his method of observing and analysing fishes, deals specifically with an expedition he made to Brazil from 1865 to 1868. As Raji points out, Agassiz was a ‘sensational figure in his day’, loved by many of his colleagues, although one of the students who accompanied him to Brazil spotted his biases and was disgusted by them. The student in question was no other than William James (1842-1910), the future founder of pragmatism. A fourth character in this edition is the Mexican poet, thinker and a polymath Octavio Paz (1914-1998), a man I consider the most brilliant mind that came of Latin America, but who is sadly underappreciated among the speakers of Spanish and Portuguese.

It is easy to make mistakes in judging the character of other people; it is easy to ignore the deserving and to put the undeserving on pedestals. However, the problems that arise from our mistakes in judging others are now much greater, since the advent of the digital age and the availability of social media make everyone a potential judge of character, deeds and reputations. As early as 2013 Bruce Schneider, a technologist in safety, raised the alarm regarding the recrudescence of the court of public opinion since the advent of social media, in an article published in Wired,  here republished in Portuguese. To Schneider, the court of public opinion is about reputational justice, when the arguments of each party are measured in relation to reputation, and the end result is not justice but the loss of reputation. Reputation is also an important theme in the essay by Fernando Genovés, which is an excerpt from his latest book Dinero S.L De la sociedad de proprietaries a la comunidad de gestores, or Money Inc. (From the society of owners to the community of managers, Kindle edition. 2020). In this book, Genovés shows that in the existing conflict between the left and the right, the left wins not because it is the better alternative but because it has a kind of glamour that attracts people to it. As he points out, people don’t go for substance but for images, which is why it makes no difference that the glamour they fall for is false. Reading Genovés book reminded me how universities have become cohortative to the cult of image and false glamour. It inspired me to write an essay on the history of teaching and the universities, which I hope will serve as food for thought on the future of middle and higher education, especially in my native Brazil.

On a final note, when I created PortVitoria as the magazine of the Iberian culture, back in 2010, what I had in mind was well-informed scholarly articles that could incentivize reflection and discussion. This is obviously a disadvantage in a world that highly addicted to soundbites and images. The reader of PortVitoria is an individual who is well-educated but never takes his education for granted, habitually reflects about things that matter, and enjoys face to face conversation with others.  If this is you, and you would like PortVitoria to continue, you can help by putting a link to it in your site, or by simply spreading the word of mouth about it.

Joaquina Pires-O’Brien

July 2020

Rob Hopkins

Review of the book Reclaiming Conversation: the power of talk in a digital age by Sherry Turkle, Penguin Press, 2015, 436 pp.

This is one of the best books I have read in a very long time.  Essential reading for any parent, for anyone who interacts with digital technologies, social media, smartphones, indeed for anyone living in the complex world of 2017.  It’s a book that had a deep impact on me, and I think it will on you too.  Sherry Turkle is a psychologist who has spent 30 years studying the psychology of how people relate to technology.  Initially she researched what, in games, the avatars people created for themselves revealed about them.  But as time went on, she became increasingly concerned with the impact that technologies, in particular the smartphone, are having on society, and in particular on our ability to seek out and sustain conversations with each other.

We find ourselves, she argues, at the beginning of a new “silent spring”, one in which “technology is implicated in an assault on empathy”, and where we are being “cured of talking”.  While we live in a time when most of what we hear is the positives of these new technologies, their ability to enable us in our pursuit of the new, to keep in touch, to feel connected.  “We like to hear [these stories]”, she reflects, “because if these are the only stories that matter, then we don’t have to attend to other feelings that persist – that we are somehow more lonely than before, that our children are less empathic than they should be for their age, and that it seems nearly impossible to have an uninterrupted conversation at a family dinner”.

Something is going horribly wrong, she suggests.  Research shows that college students who have grown up with these technologies as commonplace are 40% less empathic than their equivalents 10 years before.  It shows that frequent multitasking is associated with depression, social anxiety and trouble reading human emotions.  It shows that even the presence of a phone, or open screens, degrade the ability of everyone who can see them to do the task they were doing before.  Even putting your phone on the table during a meeting or a conversation has been shown to change the quality and depth of that conversation.  Teachers report that children are not developing empathy in the way they should and not only struggle to sustain a conversation, but actively avoid putting themselves in situations where conversation will be required.

So why is conversation so important?  As Turkle writes:

It is the most human – and humanizing – thing we do.  Fully present to one another, we listen and learn.  It’s where we develop the capacity for empathy.  It’s where we experience the joy of being heard, of being understood.  And conversation advances self-reflection, the conversations with ourselves that are the cornerstone of early development and continue throughout life.

Yet the amount of conversation actually taking place is in decline.  We increasingly prefer to communicate via email, via Facebook, where we can edit ourselves, and minimize the risk that we will end up in conversations that are uncomfortable, that leave us exposed in some way.  Some families now argue not in the kitchen, but over email, as they find it is somehow neater, more controlled, and less likely to spill over into family life.  Some couples do the same, finding that having a record of their arguments means they have something to refer back to.

Yet there is a contradiction at the heart of our sense of “being connected”.  As we detach from the conversations that since forever formed the bedrock of our culture, we imagine that the ability to be always connected will make us less lonely.  And yet loneliness is a national epidemic.  Three-quarters of older people identify as being lonely, and chronic loneliness has health impacts equivalent to smoking 15 cigarettes a day.  Yet ironically, at the root of our troubles with technology is that they deny us the opportunity, the possibility, of being alone, quiet, still.

As Turkle writes, “If we are unable to be alone, we will be more lonely.  And if we don’t teach our children to be alone, they will only know how to be lonely”.  Believing that we are in conversation through texting on our mobiles, rather than sitting with each other, means we miss out on the very kind of conversations we need, those that Turkle identifies as “artless, risky and face-to-face”.

We are experiencing what neuroscientist Richard Davidson calls a “national attention deficit”.  The myth that we can “multitask” is a pervasive one, the idea that we can text while we read while we update our Facebook profile while we draft emails while we check the news while we plan our travel next week while we shop for shoes online.  Yet all that multitasking does, research shows, is lead to us doing lots of things badly, as she puts it, “multitasking degrades performance”.

She calls for ‘unitasking’, consciously creating the space and self-control to relearn to do one thing at a time, and thereby to do it better.  Many businesses are now learning that, as she puts it, “the more you talk to your colleagues, the greater your productivity”.  Offices are being redesigned to maximize interaction and opportunities for conversation.  Meetings are being designed with a ‘parking lot for smartphones’, and regular opportunities, say 10 minutes per hour, for people to check their phones.

This is a book that is so rich with fascinating research, and with implications, that I am still digesting it.  That phone in your pocket is just a phone, right?  No.  As Turkle writes, “It’s not an accessory.  It’s a psychologically potent device that changes not just what you do but who you are”.  And yet this is not a depressing book.  It is a powerful call to review and rethink your relationship to that phone, to the technology in your life.  To redouble your efforts to not itch the scratch that arises in any quiet moment that offers the possibility of boredom to reach for our phone.  The hopeful message of this book is “conversation can cure”.  Research shows that after just 5 days at a summer camp that bans all electronic devices, children show greater empathy and attention.

For me, this book a powerful affirmation of the Transition approach, that where possible we seek to bring people together, to enable and foster conversation, to create spaces where people meet and imagine together.  Might it be that the best antidote to loneliness, to the drifting apart of our communities, to the pervasive sense of hopelessness, is to enable, to invite, public conversations? As Turkle writes: “A public conversation can model freedom of thought.  It can model courage and compromise.  It can help people think things through”.

I always start my talks by inviting people to introduce themselves to their neighbour.  So far at least 3 couples have come up to me and said “you remember that talk in [wherever] where you said to turn to the person next to you?  That’s how we met!”  And there has been, so far as I know of, one baby that resulted from it.

If you only read one book this year, make it this one.  It is delightfully readable, incredibly well-researched, rich with insight, and will make you rethink your relationship to that device in your pocket.  And invite conversation back into your life, indeed to insist upon it.  The kind of conversation that is slipping out of our culture, and out of our lives, the kind she describes as “a certain kind of face-to-face talk.  Unplanned. Open-ended. The kind that takes time”.

                                                                                                                             

Note

This review was originally published on the blog ‘Imagination taking power’, in April 2017. Source: https://www.robhopkins.net/2017/04/17/book-review-reclaiming-conversation-the-power-of-talk-in-a-digital-age-by-sherry-turkle/

Read in English, Portuguese and Spanish

 

Desiderata (Desired Things) by Max Ehrmann, © 1927, is a well-known poem about the search for happiness in life.

 

ENGLISH

Desiderata (Things Wanted)

Max Ehrmann

 

Go placidly amid the noise and haste,

and remember what peace there may be in silence.

As far as possible without surrender

be on good terms with all persons.

Speak your truth quietly and clearly;

and listen to others, even the dull and the ignorant;

they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons,

they are vexations to the spirit.

If you compare yourself with others,

you may become vain and bitter;

for always there will be greater and lesser persons than yourself.

Enjoy your achievements as well as your plans.

Keep interested in your own career, however humble;

it is a real possession in the changing fortunes of time.

Exercise caution in your business affairs;

for the world is full of trickery.

But let this not blind you to what virtue there is;

many persons strive for high ideals;

and everywhere life is full of heroism.

Be yourself. Especially, do not feign affection.

Neither be cynical about love;

for in the face of all aridity and disenchantment

it is as perennial as the grass.

Take kindly the counsel of the years,

gracefully surrendering the things of youth.

Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.

But do not distress yourself with dark imaginings.

Many fears are born of fatigue and loneliness.

Beyond a wholesome discipline,

be gentle with yourself.

You are a child of the universe,

no less than the trees and the stars;

you have a right to be here.

And whether or not it is clear to you,

no doubt the universe is unfolding as it should.

Therefore, be at peace with God,

whatever you conceive Him to be,

and whatever your labors and aspirations,

in the noisy confusion of life keep peace with your soul.

With all its sham, drudgery, and broken dreams,

it is still a beautiful world.

Be cheerful.

Strive to be happy.

 

 

PORTUGUESE

Desiderata (Coisas Desejadas)

Max Ehrmann

Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa,

lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.

Tanto quanto possível, sem humilhar-se,

viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e claramente;

e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes,

eles também têm sua própria história.

Evite pessoas agressivas e transtornadas,

elas afligem o nosso espírito.

Se você se comparar com os outros,

você se tornará presunçoso e magoado;

pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você.

Viva intensamente o que já pôde realizar.

Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde;

ele é o que de real existe ao longo de todo o tempo.

Seja cauteloso nos negócios,

porque o mundo está cheio de astúcias.

… mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre;

muita gente luta por altos ideais,

e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.

Seja você mesmo. Principalmente, não simule afeição;

nem seja descrente do amor;

… porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto

ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos,

mas também seja compreensivo aos impulsos inovadores da juventude.

Alimente a força do espírito que o protegerá num infortúnio inesperado.

Mas não se desespere com perigos imaginários.

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma diciplina rigorosa,

seja gentil para consigo mesmo.

Você é filho do universo,

irmão das estrelas e árvores;

você merece estar aqui.

E mesmo se você não pode perceber,

a terra e o universo vão cumprindo com seu destino.

Portanto, esteja em paz com Deus,

como quer que você o conceba;

e quaisquer que sejam os seus trabalhos e aspirações,

na fatigante jornada pela vida,

mantenha-se em paz com sua própria alma.

Acima da falsidade, nos desencantos e agruras,

o mundo ainda é bonito.

Seja prudente.

Faça tudo para ser feliz.

 

SPANISH

 Desiderata (Cosas Deseadas)

Max Ehrmann

 Camina plácido entre el ruido y la prisa…

…y piensa en la paz que se puede encontrar en el silencio.

En cuanto sea posible y sin rendirte, manten buenas

relaciones con todas las personas.

Enuncia tu verdad de una manera serena y clara.

Escucha a los demás, incluso al torpe o el ignorante:

también ellos tienen su historia.

Evita las personas ruidosas y agresivas, ya que son un

fastidio para el espíritu.

Si te comparas con los demás, te volveras vano y

amargado, porque siempre habrá personas más grandes

y más pequeñas que tú.

Disfruta de tus exitos, lo mismo que de tus planes

Mantén el interés en tu propia carrera por humilde que

sea: ella es una verdadero tesoro

en el fortuito cambiar de los tiempos…

Sé cauto en tus negocios,

porque el mundo está lleno de engaños…

… mas no dejes que esto te vuelva ciego

para la virtud que existe.

Hay muchas personas que se esfuerzan por alcanzar

nobles ideales, la vida está llena de heroísmo.

Sé sincero contigo mismo. En especial no finjas el afecto y

no seas cinico en el amor..

…pues en medio de todas las arideces y desengaños es

perenne como la hierba.

Acata dosilmente el consejo de los años,

abandonando con donaire las cosas de la juventud.

Cultiva la firmeza del espiritu, para que te proteja en

las adversidades repentinas

muchos temores nacen de la fatiga y la soledad

Sobre una sana disciplina, sé benigno contigo mismo.

Tú eres una criatura del universo, no menos que las

plantas y las estrellas, tienes derecho a existir!

Y sea que te resulte claro o no, indudablemente el

universo marcha como debiera.

Por eso debes estar en paz con Dios, cualquiera que

sea tu idea de él.

Y sean cualesquieras tus trabajos y aspiraciones.

Conserva la paz con tu alma en la

bulliciosa confusión de la vida.

Aun con todas su farsa, penalidades y sueños fallidos,

el mundo es todavía hermoso!

Se cáuto.

Esfuérzate por ser feliz

***

James Meek

Reseñas:

The Once and Future Liberal. After Identity Politics de Mark Lilla. Harper, 160 pp, £19.00, agosto 2017, ISBN 978 0 06 269743.

The Shipwrecked Mind. On Political Reaction (La mente naufragada: reacción política y nostalgia moderna) de Mark Lilla. NYRB, 166 pp, £9.99, setembro 2016, ISBN 978 1 59017 902.

 

¿Qué es la política de identidad? ¿Sería, parafraseando a Dylan Thomas, la parte de la sociedad que usted no tiene gusto y que está luchando tan ferozmente por los propios intereses como usted por los suyos? ¿O sería, como Mark Lilla coloca en The Once y Future Liberal (El liberal/progressista del pasado y del futuro), “una pseudopolítica de autoestima, y por la autodefinición, estrecha y excluyente”? El libro pertenece al género de respuestas a la elección de Donald Trump, en el que los académicos liberales estadounidenses vuelven su rabia hacia la propia clase intelectual-política. Lilla argumenta que la búsqueda de políticas de identidad por graduados liberales – víctimas del lavado cerebral efectuada por sus profesores, consistente en una visión de mundo egocéntrico y que filtra todas las cuestiones a través de su propio conjunto de opresiones – debilitó a los demócratas, distrayéndolos de la lucha por el poder institucional en los niveles municipal, estadal y del congreso nacional. Para Lilla, el fracaso de los demócratas en ganar elecciones no es una consecuencia de candidatos malos, noticias falsas, Rusia, o la camaradería del establecimiento demócrata con la clase billonaria, o personas pensando que muchos inmigrantes están llegando y muchos empleos están saliendo. El motivo es que los liberales no establecieron una “visión imaginativa y esperanzadora” de ciudadanía en la que todos los estadounidenses podrían creer. Al contrario, ellos se dispersaron, desgastándose en la pureza hermética de las causas.

Lilla retrata las universidades de América (él es profesor de humanidades en la Universidad de Columbia) como lugares oscuros y sospechosos, donde el debate fue sofocado por la corrección política y donde el uso del pronombre ‘nosotros’ es anatematizado. Los grandes movimientos por la justicia en el pasado de América, por derechos civiles y derechos de los homosexuales y el feminismo, dice el, funcionaron a través de instituciones políticas para corregir los errores. Ellos buscaron igualdad en la ciudadanía. Aquellos que se juntaron a ellos querían formar parte de las cosas, tener las mismas oportunidades y libertades que los hombres blancos heterosexuales. Pero durante las décadas de 1970 y 1980, alentados por profesores de izquierda que fueron inspirados, a su vez, por pensadores franceses como Foucault y Derrida, criaron una nueva política que rechazaba los conceptos vinculantes como ciudadanía y deber, la cual se diseminó en los campi universitarios. Tal política enfatizaba el estatus especial que los individuos podrían adquirir en virtud de su reivindicación a una identidad específica, sea relacionada con género, orientación sexual o etnia, sea el tipo de cuerpo, incapacidad o condición médica crónica:

Lo que es extraordinario – y chocante – sobre las últimas cuatro décadas de nuestra historia es que nuestra política ha sido dominada por dos ideologías que alientan y hasta celebran el deshacer de los ciudadanos. A la derecha, una ideología que cuestiona la existencia de un bien común y niega nuestra obligación de ayudar a otros ciudadanos, a través de acciones del gobierno, si es necesario. A la izquierda, una ideología institucionalizada en facultades y universidades que hacen fetiche de nuestros apegos individuales y colectivos, aplaude la autoabsorción y lanza una sombra de sospecha sobre cualquier invocación de un nosotros democrático y universal.

El solipsismo de la política de identidad liberal es, según Lilla, el responsable de la pérdida de una generación de jóvenes activistas liberales. En vez de entonaren con las personas con un mensaje inspirador sobre cómo avanzar juntos, cuidar a los demás como ciudadanos con objetivos comunes, los jóvenes graduados de izquierda buscan la autovalidación en movimientos que enfatizan, a través de una reivindicación de opresión, las diferencias genéticas que los separan. Para ellos, la unidad del activismo político es el yo romántico; su expresión más completa, la demostración urbana en apoyo a una causa particular, tan grande y turbulenta como sea posible. Ellos son románticos, dice Lilla, y no de una buena manera. “No necesitamos más manifestantes, necesitamos más alcaldes.” Él llama al movimiento Black Lives Matter (Vidas Negras Importan), creado para desafiar la brutalidad policial contra los negros, “un ejemplo clásico de cómo no construir solidaridad”, y, empleando una expresión extraída de un artículo de Tom Wolfe, de 1970, sobre los negros que explotaron la culpa blanca para obtener donaciones municipales, acusa el movimiento de usar “tácticas Mau para disminuir la disidencia”.

En una colocación suave, los demócratas tienen un problema de base. Mucho antes de Trump se tornar presidente y los republicanos cimentar el control de ambas casas del Congreso, el Partido Republicano estaba apretando su poder en el nivel estatal. Cada estado americano tiene un mini-congreso y un jefe de Estado propio, el gobernador. De las 99 cámaras legislativas estatales (sólo Nebraska posee un legislativo de una sola cámara), los demócratas ahora controlan sólo 32; sólo 16 de los 50 gobernadores son demócratas. Durante los dos mandatos de Obama, los demócratas sufrieron una pérdida neta de casi mil asientos a nivel estatal. Mientras los progresistas estaban ocupando a Wall Street, parece que los republicanos estaban ocupando el país.

Hay una gran suposición en el centro de la tesis de Lilla. Él la presenta como un argumento de que la obsesión de los liberales con la política de identidad les impide crear una narrativa universalmente atractiva para una América cívica y comunitaria. En realidad, él tiene dos argumentos: primero, que los liberales tienen esa obsesión; y, segundo, que la política de identidad es culpable por las no comparecencias de los liberales en las batallas regionales. La suposición es que si los activistas liberales gastasen menos tiempo con políticas de movimientos, protestas y campañas de causas únicas, conducidas en las ciudades costeras, tendrían más tiempo para acercarse al Illinois de las ciudades pequeñas, entrando en contacto con los votantes indecisos para conversar sobre los emocionantes planes fiscales del candidato demócrata al Senado estadal. Esto podería suceder. Pero es igualmente probable que si los energizados jóvenes liberales, los apasionados idealistas románticos que Lilla ve con tanta hostilidad, fueren desanimados de las políticas de identidad, ellos abandonarían de una vez la política; en vez de convertir un ejército diversificado y caótico de activistas sobrepuestos en un ejército disciplinado de soldados moderados, la propia energía que mantiene a los demócratas en acción seria extinguida.

“Si quieres ganar el país de vuelta a la derecha, y traer cambios duraderos a las personas que te importan”, Lilla aconseja a los activistas, “es hora de bajar del púlpito.”

Usted necesita visitar, incluso con la mente, lugares donde el wi-fi es inexistente, el café es débil, y  donde usted no tendrá ganas de publicar en el Instagram una foto de su cena. Y donde usted va a comer con personas que agradecen genuinamente por la cena en oración. No los menosprecies. Como uno buen liberal, has aprendido a no hacer eso con campesinos en tierras lejanas; aplique la lección a los pentecostalistas del sur ya los propietarios de armas en los estados montañosos … No imponga ninguna prueba de pureza en aquellos que usted podría convencer.

Se reanuda a este mensaje algunas páginas a continuación:

Lo que se diga sobre las preocupaciones legítimas de los partidarios de Trump, no tienen excusa para votar en él. Dada su manifestación inapropiada para cargos más altos, un voto para Trump fue una traición de ciudadanía, no un ejercicio de ella … sus electores en general no sabían cómo funcionan nuestras instituciones democráticas … Todo lo que ellos parecían tener era una imagen paranoica y conspiradora del poder.

Entonces, sin pruebas de pureza, con excepción de los 63 millones de estadounidenses que votaron en Donald Trump.

Es verdad que la pasión se ha convertido en una comodidad barata, una palabra de marketing obsoleta y un accesorio político banal; y que la justificación por la pasión corre el riesgo de abrir el camino para la justificación por la rabia. Es correcto desconfiar de aquellos que traen al activismo político un deseo egoísta de trascendencia personal. Pero es difícil distinguir el charlatán, el exhibicionista y el egocéntrico del idealista genuino que quiere hacer el bien y cuya pasión puede ser sincera. Las generalizaciones de la polémica de Lilla eliden tales sutilezas. En libros anteriores, él ha sido fastidioso sobre la complejidad del pasado y contundente sobre la mitología reaccionaria de las eras de oro pasadas; acá el patina sobre las diferencias entre las varias manifestaciones históricas de la ‘política de identidad’, haciendo una división simplista de los últimos cien años de la historia política estadounidense, muestreando una ‘dispensación de Roosevelt’ y una ‘dispensación de Reagan’.

La expresión  ‘política de identidad’ es a menudo trazada a un comunicado divulgado en 1977 por la organización feminista negra Combahee River Collective, que declaró estar luchando contra sistemas interconectados de opresión, basados en raza, sexo, sexualidad y clase. “Nosotros percibimos”, ellos dijeron, “que las únicas personas que cuidan lo suficiente de nosotros para trabajar consistentemente por nuestra liberación somos nosotros … Esta focalización en nuestra propia opresión se encuentra incorporada en el concepto de política de identidad. Nosotros creemos que la política más profunda y potencialmente más radical viene directamente de nuestra propia identidad, en lugar de la lucha para acabar con la opresión de los otros.” Barbara Smith, una de las mujeres que redactó la declaración original de Combahee, apuntó, en 2015, que no había inventado el término ‘política de identidad’ para excluir a nadie, sólo para incluirse a si propios. Sin embargo, la expresión fue aprovechada por comentaristas conservadores y sufrió una mutación para adquirir el sentido peyorativo en que Lilla la usa. Lo que comenzó como una autoproclamación se convirtió en una investidura nivelada del designador al participante. El participante hace una afirmación de opresión y una reivindicación por el trato justo; el designador hace la acusación de que el participante no es realmente oprimido, que está simplemente haciendo una demanda de trato irracional que no es tan justa como especial.

La distinción que Lilla hace entre el Movimiento por Derechos Civiles de los negros en los años 1960, que buscaba la ciudadanía igualitaria en relación a los blancos, y el movimiento Vidas Negras Importan, que admite estar buscando también ciudadanía igual a los blancos (en el sentido de que tanto los negros cuanto los blancos tienen el derecho de no ser muertos por la policía sin motivo), no está claro. Ciertamente no es una distinción que Barbara Smith, una participante activa en la dessegregación desde que era estudiante en los años 1960 y una grande defensora del Black Lives Matter, reconocería. Lilla no parece notar la semejanza que hay entre su actitud hacia el movimiento Black Lives Matter – de que es una malta agresiva e impertinente de identidad política y que, a pesar de toda la legitimidad de sus demandas, necesitan ser más pacientes y tranquilos – y la actitud mareada de aquellos blancos ‘moderados’ dos cuales Martin Luther King lamentó en su famosa carta de la prisión en Birmingham, Alabama, como siendo más dedicados a la ‘orden’ do que a la ‘justicia’.

“La cosa es,” Smith dijo a la revista Curve a principios de este año,

que todo el mundo tiene una identidad – histórica, cultural, política y económicamente basada – y usted no puede deshacerse de eso. Usted no puede huir de eso. Lo que queríamos decir como feministas de color en el Combahee[1] no era que las únicas personas importantes fueran personas como nosotros. La razón por la que afirmamos tan fuertemente la política de identidad en aquel momento  – en el momento en que las mujeres negras eran tan desvalorizadas y tan marginadas que nadie pensaba que contáramos por alguna cosa – era que nadie creía que era legítimo tener nuestras propias perspectivas políticas, o incluso que había una perspectiva política para empezar. ¿Dónde estaban las mujeres negras? Era ese el punto que estábamos haciendo.

¿Sería realmente posible encontrar un período en la vida de cualquier país cuando no hubiera una minoría perjudicada – étnica, de clase, género o sexualidad, geográfica, lingüística, sectaria –, buscando reconocimiento y aceptación? ¿No sería posible que las propias mayorías tengan se creado de minorías reunidas por el escepticismo en relación a las quejas de los demás? ¿No podría ser que ‘política de identidad’ sea exactamente lo que la política se ha vuelto – o lo que siempre ha sido, de una manera que sólo ahora se ha vuelto imposible de ignorar? La estructura formal de la política de los EEUU puede todavía ser binaria, republicana versus demócrata, y es un mundo binario de liberales y conservadores lo que sostiene el libro de Lilla, pero en la realidad, como en todas las democracias mundiales, es que la política no es más unidimensional, realizada a lo largo de un eje izquierda-derecha, y sino multidimensional. Ha sido difícil encontrar términos tan ágil como ‘izquierda’ y ‘derecha’ para el nuevo escenario. Desde 1999 la Encuesta de Peritos de la Universidad de Carolina del Norte, de Chapel Hill, por ejemplo, viene trazando las ideologías de los partidos europeos en un doble eje – uno izquierda/derecha, y otro calibrada con la llamada “escala GAL-TAN”, que significa Verde (‘green’)/Alternativa/Libertária-Tradicional /Autoritaria/Nacionalista. Es pesada y no muy precisa: ‘nacionalista’, en Europa, puede significar dos cosas muy diferentes, y un gobierno verde moderno sería extremadamente hostil a los libertarios. Pero el esfuerzo amplio es el mismo sea la quien está intentando: conceptualizar la nueva política en una estructura única que incorpore los ejes económicos y culturales. El eje económico se origina en el comunitarismo, en el cual los ciudadanos son compelidos, por su propio interés, a contribuir igualmente a estructuras estatales poderosas que atienden a muchas de sus necesidades, y llega al libertarianismo, el cual afirma que cada individuo es responsable de su propio bienestar y su propia suerte, y que no debe ser obligado a ayudar a los demás. El eje cultural va del tradicionalismo, en el que los ciudadanos están vinculados por el patrimonio cultural, personalizado, y por la justicia natural, divinamente revelada (con una gran ventaja para los desviantes), por observar conceptos  – consagrados por el tiempo – acerca de género, clase y raza, al liberalismo, de acuerdo con lo cual todos los seres humanos reciben derechos iguales, junto con la libertad de ser diferente, hasta donde eso no restringe las libertades de los demás.

En los Estados Unidos y en Gran Bretaña, dos países que luchan notablemente para mantener la pretendida política unidimensional, los laboristas y los demócratas están unidos por el comunitarismo, los republicanos y los conservadores británicos por el libertarianismo. Cada partido es dividido entre tradicionalistas y liberales; cada uno sabe que sus defensores en un eje son pasibles de cruzar líneas partidarias en el otro. Hubo una época en que los centristas moderados, como Lilla, anhelaron por simplemente enfrentar al enemigo delante de él y tomar cuidado en no ser apuñalados en la espalda por los radicales en sus retaguardias. Centristas modernos, como Hillary Clinton y Ed Miliband, parecían aislados porque así estaban: ellos estaban cercados. Es demasiado tarde para pedir que los activistas abandonen la política de movimiento en favor de algún ideal de política, cuando la política de movimientos es lo que toda la política se ha se convertido. Y no sólo en el nivel superior: el Tea Party, el Momentum, el Ukip y el Scottish National Party (Partido Nacionalista Escocés) mostraron que la política de movimiento es capaz de entrar en los ayuntamientos de una manera pacífica y apasionada.

Hay uno otro problema, que Lilla evita: la cuestión incómoda de la política de identidad en la era de la globalización. Se si enmarca la ‘política de identidad’ como una distracción auto-indulgente del negocio vital de crear una visión compartida de América en que todos los estadounidenses puedan creer, usted no estará quitando sólo identidades de género, raza o sexualidad del juego; usted también estará tomando como seguro lo que significa ser ‘americano’. En un mundo sin internet o viajes aéreos baratos, en un mundo donde antes no había un sistema global de enseñanza superior, en un mundo donde el capital no podía comprar mano de obra más barata y tener impuestos más bajos, en un mundo donde los gobiernos no suministraban a sus ciudadanos pensiones y tratamiento de salud que podrían compararse con los de otros países, usted podría escapar de eso. Pero hoy nosotros no vivimos en este mundo. Es la extrema fluidez del capital, de las culturas y de las personas que crearon la política multiaxial de hoy; y rechazar la preocupación por raza, género u orientación sexual como ‘política de identidad’, aunque manteniendo una inversión incuestionable en la nacionalidad, es un razonamiento borroso.

                     *

Sólo puede ser coincidencia que la publicación de un nuevo libro de Lilla tienda a señalar que algo terrible está a punto de suceder en los Estados Unidos. Su trabajo sobre los pensadores que proporcionan cobertura intelectual para la tiranía, Pensadores temerarios: los intelectuales en la política, fue, observa tristemente en un posfacio para su reciente reedición, publicado originalmente el 9 de septiembre de 2001. El Dios que no nació, sobre la separación entre religión y Estado, apareció cuando la crisis financiera de 2007-8 saltó de la sección de negocios a la primera página. La mente naufragada, sobre reaccionarios, apareció en el año pasado, poco antes de que Donald Trump hacerse presidente. The Once and Future Liberal (El liberal / progresista del pasado y del futuro) es inusual por ser una respuesta a una crisis, al envés de una explosión de ideas que ocurren en el contexto de una crisis, como una exhibición de fuegos artificiales en medio de una represa de artillería.

Los libros anteriores de Lilla son estudios meticulosos, elegantes y eruditos sobre pensadores cuasi siempre muertos, y principalmente europeos. Él navega por las bibliotecas como una ballena azul académica, filtrando el océano de aprendizaje para ganar los plancton de la percepción. Hay una conexión – no expuesta, pero perceptible – entre sus análisis incisivas de los recriminables descaminos de diversos pensadores para lejos del camino de la iluminación, y su reciente ataque a los ‘compañeros liberales’, aunque esté lidiando con opuestos. Por un lado, la corrupción del filósofo por un exceso de celo por una verdad integral sobre los asuntos del mundo. Por otro lado, la corrupción del estudiante por un exceso de celo por una sola Causa política, arraigada en una preocupación solipsista por la definición personal, que explícitamente excluye la idea de acción abarcando todo el universo político. En realidad, la conexión es suficientemente clara: A Lilla no le gusta el celo. Él desconfía de la conexión de la razón con la ‘pasión’.

La mente naufragada, escribe Lilla, es un producto de “mi propia aleatoria lectura”  – ‘aleatoria’ presumiblemente sonaría demasiado aleatorio. No importa, pues un lector aleatorio puede estar buscando algo específico. Si los pensadores pueden ser divididos en erizos con una gran idea y zorros con muchas ideas[2], los estudiosos que se sumergen en los pensadores pueden estar leyendo tanto como zorro cuanto como erizo – tomando cualquier cosa que encuentren, o sea, buscando en todo lugar por versiones de una única y esencial manifestación. Lilla es un erizo, y la recurrencia que lo fascina y perturba es la pasaje del filósofo hacia un reino vecino de pensamiento (sea, por ejemplo, el político o el religioso), una jornada propensa a la corrupción por un exceso de fe, de emoción, de romanticismo, de deseo personal, o de creación de mitos.

En el libro La mente naufragada, la ilusión disfrazada de razón asume la forma de nostalgia, la fe visceral y peligrosa del reaccionario en una era de oro perdida que nunca existió. Lilla selecciona Eric Zemmour, autor de Le Suicide français (El suicida francés; 2014), una dosis de best-seller de autogratificación del apocalipsis, que enumera la miríada de heridas autoinfligidas que condenaron a Francia, incluyendo el control de la natalidad, el fin de la muerte de la norma de oro y de la conscripción militar, a la comida ‘halal’ en las escuelas, la prohibición de fumar, la UE y la rendición general a los musulmanes, que escribe sobre el popular libro de Brad Gregory The Unintended Reformation (La reforma no planeada) que fantasía la Europa medieval como un lugar agradable, amoroso y armonioso, infundido con una espiritualidad cristiana universal, que la Reforma entonces destruyó, condenándonos al infierno de la modernidad. Él escribe sobre Leo Strauss, un americano nacido en Alemania, y el fundador de una escuela de ciencia política en la Universidad de Chicago, el cual afirmó que los mayores pensadores están posiblemente muertos, y que es, sólo a través del estudio detallado de sus obras y de sus enseñanzas crípticas, que una cátedra neoaristocrática de iluminados puede amenizar la ignorancia de las masas pseudodemocráticas de hoy en día. Estas ideas, dice Lilla, fueron apropiadas y distorsionadas tras la muerte de Strauss, en 1973, por neoconservadores americanos que deseaban identificar a Estados Unidos como el nuevo avatar de la sabiduría ateniense.

Lilla contrasta la historia ‘americana’ de Strauss con la historia ‘alemana’ de Martin Heidegger, otro creyente en un idilio filosófico ‘prelapsariano’[3] –  mientras para Strauss, Sócrates era los buenos viejos tiempos, para Heidegger Sócrates era donde la podredumbre comenzaba. El ensayo de Lilla sobre Heidegger abre Pensadores temerarios: los intelectuales en la política, su primer libro sobre grandes pensadores que descaminaron, y es en su relato sobre la relación entre Heidegger, Hannah Arendt y Karl Jaspers que su sentido de las fronteras de la filosofía emerge más claramente, junto con su fascinación por lo que sucede cuando se las violan.

Los tres se cruzaron en Alemania en la década de 1920, cuando Heidegger era el brillante joven filósofo y profesor en Marburg, Jaspers, su amigo filósofo, ligeramente más viejo y un tanto temeroso, y Arendt, la estudiante al borde de su propia vida como pensadora . Ella asistió a las conferencias de Heidegger y por algunos años, durante los cuales Heidegger publicó su obra maestra, Ser y tiempo (Sein und Zeit), ellos mantuvieron un caso amoroso intermitente. Jaspers supervisó su disertación. En abril de 1933, Heidegger se convirtió en rector de la Universidad de Friburgo; en el mes siguiente, se afilió al Partido Nacional Socialista y se convirtió en un nazi activo y ardiente.

Después de la guerra, Jaspers y Arendt parecían considerar al impenitente y auto competente Heidegger como más allá de la redención, menospreciando sus ideas, que ostensiblemente buscaban renunciar a la metafísica como una nueva forma de superstición y misticismo. Pero al final fue sólo Jaspers que mantuvo la ruptura con su viejo amigo. Arendt decidió que no podía quedarse sin la amistad de Heidegger; ellos mantuvieron una relación on-off de 1950 hasta su muerte en 1975. Ella encontró maneras de elogiar su grandeza y ayudó a traducir sus obras al inglés; él escribió poemas para ella. Ella no habló con él sobre su nazismo. ¿Por qué?

La palabra ‘pasión’ surge a menudo en el ensayo de Lilla. Más de cuarenta años después de la primera vez que asistió a una conferencia de Heidegger, Arendt escribió sobre ese primer encuentro: “Estamos tan acostumbrados a la vieja oposición de la razón contra la pasión, del espíritu versus la vida, que la idea de un pensamiento apasionado, el pensamiento y la vitalidad se convierten en uno solo, nos sorprende un poco.” Intentando explicar el comportamiento de Arendt, Lilla escribe: “Ella sabía que Heidegger era políticamente peligroso, pero parecía creer que su peligrosidad era alimentada por una pasión que también inspiraba su pensamiento filosófico. El rechazo de Jaspers a Heidegger, Lilla piensa, hizo de él un amigo mejor que Arendt:

[Jaspers] se sintió traicionado por Heidegger como un ser humano, como alemán y como amigo, pero especialmente como filósofo … él vio a un nuevo tirano entrar en el alma de su amigo, una pasión salvaje que lo desencadenó para que apoyara el peor de los dictadores políticos y luego lo atrapó a la brujería intelectual … Jaspers demostró más celo por su antiguo amigo que Hannah Arendt y un amor más profundo por la llamada de la filosofía.

Todo esto tiene que ver con las pasiones: la pasión personal de Arendt por Heidegger, la creencia de Arendt en el deseo intenso, en la posibilidad de un ‘pensamiento apasionado’’ y la inclinación Heidegger por el fascismo como una ‘pasión salvaje’. Estos son los fuegos os cuales Lilla cree que amenazan al alma sabia, aunque también son los fuegos cuyo calor despierta su propio interés.

Ni siempre fue tan fácil como hoy retratar a los apasionados como nobles y los desapasionados como ignorantes. En varios momentos, el héroe fue el filósofo que tranquilamente bebió la cicuta, el santo que silenciosamente fue para el martirio insoportable, el estoico, el de la cara imperturbable, el racional, el reflexivo, o, más recientemente, las Elizabeth Bennets del mundo, los que son resignadamente y conscientemente, escépticamente ingeniosos. La palabra ‘entusiasmo’ fue tomada a préstamo del griego en el siglo XVII, como un término de abuso para aquellos cristianos que eran vistos como intoxicados por revelaciones personales de lo divino – que eran, en otras palabras, por demasiado pasionales. Hemos progresado bastante desde entonces. En Pensadores temerarios, Lilla da una buena noción de lo que un desapasionado moderno enfrentaría en su comentario sobre el emigrado ruso Alexandre Kojève. Kojève, que manteneve la corte entre los intelectuales de París antes de la Segunda Guerra Mundial, fue un apóstol de Hegel que creía que Stalin o los Estados Unidos – no importaba cuál –  al final serian obligados a crear una orden global pacífica y próspera. Cualquiera que fuera el contenido del discurso intelectual, lo que era de vital importancia para Kojève y sus iniciados era el hecho de que estaban involucrados en el ‘pensamiento apasionado’. Lilla cita Georges Bataille el cual dijo que cada encuentro con Kojève lo dejó “roto, machacado, muerto diez veces: sofocado y clavado.” Bataille sintió la necesidad de validar una experiencia intelectual, redescribiéndola en términos corporales, a fin de purificar un encuentro sináptico, haciéndolo hormonal.

En un epílogo de Pensadores temerarios, Lilla escribe sobre los intentos fracasados de Platón de chequear los impulsos filosóficos del gobernante de Siracusa, Dionisio, que tenía aspiraciones filosóficas. Platón advirtió que las almas de los intelectuales de mente débil son atrapadas de la atracción de eros, un anhelo apasionado por una verdad que no pueden alcanzar y que, en consecuencia, los enloquece. Es razonable argumentar que la pasión es la etiqueta de la clave que abre la puerta que separa le filósofo del tirano. Es verdad que la pasión es la última defensa del charlatán intelectual. El problema es que ‘pasión’ es también una palabra para describir el medio emocional a través del cual, en nuestra democracia moderna – y menos ateniense – de ‘una persona, un voto’, un movimiento político fundamentado en ideas puede reanimar el pensamiento del electorado.

El ensayo más instigador de Pensadores temerarios trata del estudioso jurídico y teórico político alemán Carl Schmitt. Schmitt se afilió al Partido Nazi en la misma época que Heidegger, en mayo de 1933, y se convirtió en un panfletista entusiástico, haciendo prosélitos por los derechos del Volk alemán de unirse en pureza racial bajo un Führer nacional-socialista. Él llamó la atención del futuro equipo de transición de Hitler en 1932, cuando defendió la cuestión del último gobierno alemán pre-nazi obtener poderes de emergencia para gobernar la Prusia. (Él perdió.) Él entonces defendió la masacre de Hitler a opositores políticos en la ‘Noche de los Cuchillos Largos’ aunque uno de los muertos era amigo íntimo de él. En una conferencia en 1936, para discutir las mejores maneras en que los abogados alemanes no judíos podrían hacer las cosas más calientes para los alemanes judíos, sugirió que se limpiasen los estantes de las bibliotecas de libros de autores judíos. “Al repulsar los judíos”, dijo, citando a Hitler, “yo luto por la obra del Señor”.

Aún así, los nazis no lo consideraron lo suficientemente duro, incluso cuando creó una base legal para la expansión territorial de Alemania. Él cayó en desgracia. Después de la guerra, fue detenido por los estadounidenses y los soviéticos, respondió al interrogatorio con autojustificaciones arrogantes, fue liberado y regresó a Westfalia. Allí murió en 1985, a los 96 años, completamente impenitente; sus cuadernos particulares, publicados algunos años después, le mostraban un virulento enemigo de judíos incluso después de la guerra.

El pasado nazi de Schmitt no se quedó en el camino de su rehabilitación intelectual tras la guerra, y, mientras sea, , de acuerdo con Lilla, poco conocido en los Estados Unidos, el es considerado en Europa (y, escribió Lilla en un intrigante artículo hace algunos años, por la mayor parte de la intelligentsia china) como uno de los grandes teóricos políticos del siglo XX. Él escribe bien; y el más importante, argumenta Lilla, después de la guerra, fue el último alemán vivo que escribió hábilmente sobre cosas como soberanía, pueblos nacionales y la guerra. El argumento de la derecha para estudiar Schmitt es que el expone como falso el ideal del liberalismo – de un continuo global tolerante de seres humanos de individualidades diversas, pero con derechos iguales, sus derechos de identidad protegidos por leyes basadas en valores universales:

Cuando intentan cultivar el liberalismo mientras descuidan de los fundamentos genuinos de una orden política, los resultados son desastrosos, especialmente en la política exterior. Desde las dos guerras mundiales, los liberales occidentales consideraron la guerra ‘impensable’. En la visión de los admiradores conservadores de Schmitt, eso significa que la guerra se ha vuelto más irreflexiva, no menos frecuente o menos brutal.

En parte por las mismas razones, Schmitt también ha sido útil para algunos pensadores de la izquierda – Derrida, Kojève, Alain Badiou, Jacob Taubes, y, más recientemente, Slavoj Žižek. El llamamiento de Schmitt en este extremo del espectro es su evocación de una fuerza que aplasta la fachada liberal de la clase dominante, su endoso a la virtud del antagonismo cuando hay una elite dominante a ser derribada.

Aisladamente, elementos de la filosofía política de Schmitt pueden ser presentados para sonar razonables, y hasta sensatos. Su crítica de la guerra de la década de 1920, emprendida por gobiernos liberales por motivos humanitarios – que implícitamente hace a sus oponentes inhumanos, y así marcados no por la derrota, sino por el exterminio – encontró una resonancia en los años alrededor del cambio del milenio. Pero, como un todo, sus ideas son horribles, a pesar de la objetividad y la brillantez como son expresas. Schmitt no se opone a la guerra, sólo a las guerras hechas por los liberales. Para Schmitt, la guerra no es necesaria ni inevitable, pero los Estados sólo tienen sentido en la medida en que están perpetuamente al borde de una. Su propia definición de política se basa en la idea de enemigos. Cuando la estética distingue lo bello del feo y la moralidad entre el bien y el mal, el escribe en The Concept of the Political  (El concepto de lo político; 1932), la política es la habilidad de distinguir amigo de enemigo. “Para Schmitt”, escribe Lilla, “una colectividad es un cuerpo político sólo en la medida en que tiene enemigos”. Y, para Schmitt, no hay medio término. En sus palabras, “si una parte de la población declara que no reconoce más a los enemigos, entonces, dependiendo de la circunstancia, ella se une a ellos y los ayuda”.

Porque el Volk es definido por su enemigo, y está siempre al borde de una guerra, un punto está hadado a ser alcanzado en la vida de una democracia liberal cuando su fe en la paz, el amor y la comprensión se muestra como fuera de lugar, y así pierde su autoridad. Un soberano natural asume el poder: un dictador conceptual, tal vez no en la forma de una persona, sino de un evento, libre de leyes o principios universales, un decisor (de ahí la doctrina de Schmitt del ‘decisionismo’). Pero el soberano no está simplemente rescatando el Volk de la vacilación de liberales flácidos: él trae el Volk fuera de un estado de blasfemia, una vez que una sociedad definida por enemigos es el orden natural impuesto por Dios. La injunción bíblica de amar al prójimo, dice Schmitt, “ciertamente no significa que se debe amar y apoyar a los enemigos del propio pueblo”. Y como Schmitt dejó claro en 1938 en un ataque a Thomas Hobbes, el enemigo especial que Dios había decretado para el Volk era en relación a los judíos, los mayores beneficiarios del orden liberal, el ‘enemigo providencial’.

Hay mucho que es schmittiano en el ascenso de Trump. Distinguir amigo de enemigo es lo que hace el nuevo presidente. Sus ideólogos favoritos predican el desprecio por el liberalismo, abrazan la idea de un mundo lleno de enemigos de América y quieren que esos enemigos no sólo respeten el poder estadounidense, sino también lo teman. Sin embargo, lo que yo pensaba, leyendo el ensayo de Lilla sobre Schmitt, era Brexit: como una democracia liberal con un sistema representativo y judicial aparentemente robusto, que se utiliza para equilibrar innumerables grupos de interés y proyectos y regulaciones, de repente se vio subyugada de la noche a la mañana, para la generación final, de una respuesta de una palabra a una pregunta de 16 palabras. Una pequeña mayoría del Folk británico encontró a su enemigo providencial en la Unión Europea, y el Brexit permanece soberano sobre todos, involucrando al Parlamento en lugar de ser por el involucrado.

No sólo eso: así como el aparente ‘realismo’ de Schmitt sobre un mundo dividido en amigos y enemigos cede, en una inspección más cercana, a una divinidad antisemita y no cristiana que incita a los humanos a la guerra, a los supuestamente obstinados y de buen senso ideólogos do Brexit acabaron por empujar, a los británicos, una religión pagana de culto a los antepasados británicos, una mitología del excepcionalismo británico proyectada para un futuro que se construye solamente sobre la fe. Muchas personas compraron esa idea, y eso no debería sorprender: ideas metafísicas como patriotismo, auto identificación con el heroísmo de los ancestros en guerras por las cuales usted no luchó, la unicidad de la tierra y del pueblo, la santidad de las banderas, símbolos y colores, la santidad especial de ciertos tumbas y monumentos, los ritos de peregrinación a lugares consagrados por la presencia pasada de personajes mitologizados en una historia nacional, el sentimiento de pertenecer a un paisaje y el miedo de corrupción por parte de no miembros están presentes en alguna medida en la mayoría de los votantes. Llamar esto de ‘cultura’ no captura bien el hecho de que, incluso los menos religiosos entre nosotros, probablemente tienen sentimientos neorreligiosos, y que incluso el más cristiano, islámico o judío probablemente también tiene interés en tales nociones paganas como patriotismo.

En sus ensayos sobre los filósofos que equivocáronse, Lilla es altamente sensible a las señales de que la caída de un pensador en la política puede ser causada por un exceso de entusiasmo neorreligioso, de pasión, de anhelo romántico por el más allá. No hay ninguna razón aquí para el se desviar de su estrecho enfoque en las cumbres intelectuales de Alemania, Francia y Estados Unidos en el siglo XX, a fin de considerar a las centenas de millones de personas que, desde el advenimiento del sufragio universal, se vieron obligadas, aunque brevemente, a producir una filosofía política personal, ya actuar sobre ella en la cabina de votación. Sin embargo, en The Once y Future Libera (El liberal/progressista del pasado y del futuro), cuando Lilla entra en el terreno de la política práctica, la filosofía de los votantes – las creencias y las pasiones de los votantes –  esas deben ser llevadas en cuenta, y no sólo sus capacidades de recibir racionalmente ideas racionales. En vez de eso, el prefiere reprender a los activistas cuyos anhelos románticos pueden ser el único recurso de los liberales para conectarse con aquellos que fueran alienados.

                                                                                                                                               

James Meek es editor colaborador del LRB y autor de varias novelas, de las cuales los más recientes son We Are Now Beginning Our Descent (Ahora estamos comenzando nuestro descenso) y The Heart Broke In (La desconexon del corazón).

 

Post Script de la traductora

Acerca de Mark Lilla

Mark Lilla nació en Detroit (EEUU) en 1956, y asistió a las universidades de Michigan y de Harvard. Fue profesor en las universidades de Nueva York y de Chicago, y es actualmente profesor de Humanidades en la Universidad de Columbia. Recibió becas de investigación de varias instituciones, como la Fundación Rockefeller, la Fundación Guggenheim, el Instituto para el Estudio Avanzado (Princeton), el Institut d’études avances (París) y la American Academy (Roma). Escribe regularmente en la New York Review of Books (NYRB), en el The New York Times y en otras publicaciones de renombre mundial. Sus libros están siendo publicados en varios países. En 2015, fue distinguido por el Verseas Press Club of América con el Premio a Mejor Comentario de Noticias Internacionales. Fuente: https://www.wook.es/autor/mark-lilla/133096.

Libros de Mark Lilla en inglés, español y portugués:

Lilla, Mark. The Reckless Minds: Intellectuals in Politics. New York, NYRB, 2001. Revised Edition 2016. ISBN: 9781681371177

Lilla, Mark (2001). Pensadores temerarios: los intelectuales en la política. Editorial Debate, 2004. 192 PAÍS: 9788483065921

Lilla, Mark (2001). A mente imprudente: os intelectuais na política. Tradução de Clóvis Marques. Record, 2017, 196 pp. ISBN: 9788501111326

 

Lilla, Mark. The Stillborn God: Religion, Politics, and the Modern West. Vintage, 2007, 2008. ISBN: 9781400079131.

Lilla, Mark. El Díos que non nació: religión, política y el Ocidente Moderno (ebook). Editorial Debate, 2010. ISBN: 9788499921020..

Lilla, Mark. A grande separação: religião, política e o Ocidente Moderno. Gradiva, 2010, 2008, 324pp. ISBN: 9789896163501.

 

Lilla, Mark. The Shipwrecked Mind: On Political Reaction. New York, NYRB, 2016. ISBN: 9781590179024.

Lilla, Mark. La mente naufragada: reacción política y nostalgia moderna  (ebook). Editorial Debate, 2017. ISBN: 9788499927824.

Lilla, Mark. A mente naufragada: sobre o espírito reacionário. Tradução de Clóvis Marques São Paulo, Record, 2018. ISBN: 978-8501109934.

 

Lilla, Mark. The Once and Future Liberal: After Identity Politics. New York, Harper, 2017. ISBN: 9780062697431*.

* Traducciones para el español y el portugués en curso. Este libro fue reseñado en español por Christopher Domínguez Michael (El Universal, Opinión, 10/11/2017) y Eduardo Madina (El País, 09/02/2018).

 

Notas

Esta reseña fue publicada en el London Review of Books, bol. 39 No. 23, 30 de noviembre de 2017.

© London Review of Books

Traducción: J Pires-O’Brien (UK)

***

[1] Una organización feminista de lesbias negras que actuó en Boston desde 1974 hasta 1980, que fue instrumental para resaltar que el movimiento feminista blanco no estaba abordando sus necesidades particulares. Nota del traductor (NT).

[2] Los pensadores erizo y zorro se refieren a los dos estilos reconocibles de pensamiento, de monistas y pluralistas, como lo discutió Isaias Berlin (1909-1997) en su ensayo titulado “El erizo y el zorro”, en el que reconoce haber tomado prestada la narración del El poeta griego Archilochus (680-645 AEC) escribió: “El zorro sabe muchas cosas, pero el erizo conoce una gran cosa”. NT.

[3] Traducción de ‘prelapsarian’. Que occurió em uma fecha anterior a la caída del hombre en el Jardín del Edén. NT.

Fernando R. Genovés

Raymond Aron (1905-1983) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) nascem em Paris (França) no mesmo ano, viveram uma existência longa e uma intensa atividade intelectual de notável interesse público. Mas aí acabam as principais similaridades entre os dois personagens. O quinquagésimo aniversário de Maio 1968, que ocorre neste ano de 2018, é uma excelente oportunidade para refletir sobre a discrição e a integridade moral, assim como sobre a lição de liberdade desdobrada por Aron, para confrontá-la com a praxis daqueles filósofos e escritores que, como Sartre, se embriagaram com a ideologia marxista totalitária e se tornaram viciados no ‘ópio dos intelectuais’.

Seguindo a linha argumentativa do historiador britânico Paul Johnson no livro Intelectuals: From Marx and Tolstoy to Sartre and Chomsky (Intelectuais: de Marx e Tolstói a Sartre e Chomsky), de 2007, tal foi a decadência e a deterioração do período em questão, que se torna aconselhável e deveras prudente, distinguir entre a seita dos modernos ‘sacerdotes, escribas e profetas’, tidos como padrões do ‘mundo da cultura’, e a seita dos ‘verdadeiros livre pensadores e aventureiros da mente’, aqueles que são conhecidos de maneira mais concisa e precisa como ‘homens de letras’.

Temos aqui um caso característico de vidas inicialmente paralelas que, num dado momento e devido a causas profundas, se separam, gerando dois modelos opostos de como entender a prática do saber e o compromisso político na época contemporânea. Depois de passarem pela prestigiada École Normale Supérieure, em Paris, durante a década de 1920, Aron e Sartre completam suas formações acadêmicas na Alemanha da década de 1930, com ambos alcançando elevados níveis de competência em suas respectivas áreas. De fato, pouco depois eles se distanciam um do outro e tomam caminhos de direção oposta, reencontrando-se, fugazmente, muitos anos depois.

 

André Glucksmann e Jean Paul Sartre no Palácio Eliseu em 26 de junho de 1979. Atrás de Sartre, à direita, Raymond Aron.

Recordemo-nos da imagem em que um jovem André Glucksmann os reúne no Palácio Eliseu em 26 de junho de 1979, como parte de uma delegação de intelectuais franceses que reivindicavam ao Presidente da República que desse o reconhecimento e o apoio do governo aos boat people, os vietnamitas que haviam fugido em desespero do comunismo, depois da saída dos americanos da zona de guerra – uma retirada forçada que foi em grande parte causada pela pressão da opinião pública, e divulgada como uma bandeira emblemática do ‘espírito de maio de 68’.

Os dois personagens têm então a mesma idade venerável. Aron, de terno e gravata, sorri e exibe uma boa condição física. Sartre, apoiado em Glucksmann, vestido informalmente com uma camisa polo e um capote de malha, mostra-se circunspecto. Enquanto o primeiro encontra-se no seu lugar, cumprindo a missão à qual se dedicou em toda a sua vida, de defender a liberdade e denunciar qualquer tipo de totalitarismo, o segundo, oscilando-se entre Flaubert e os maoistas, incluindo cogitação sobre ser da existência e o nada do marxismo revolucionário, mostra-se deslocado, fora de seu lugar. Ao velho intelectual da revolução restam apenas alguns meses de vida. Talvez tivesse cumprido ali um ato de contrição formal e final, sempre de frente para os espectadores. Tarde demais. Aron, ao contrário, atende ao evento em um gesto de confirmação, de ratificação de sua fé na luta pela justiça e pela sociedade livre, e contra a tirania; discretamente, mas permanentemente, como era o seu costume. A foto que imortalizou a cena conserva todo o seu simbolismo: Sartre situa-se na frente e é o centro das atenções; Aron fica atrás, quase que encoberto por Sartre, mas seguro de si e digno, sem fingir protagonismos, e sem buscar espaço por um eventual empurrão ou acotovelamento a fim de sair na foto.

Aron e Sartre: dois personagens célebres e celebrados. No entanto, quão diferentes são as suas personalidades! Ambas as existências são grandiosas e florescentes, mas de modo algum são experiências comparáveis em termos de efeitos e reflexões; de alguma forma, são duas vidas exemplares, pelo menos em termos de mesmo sentido e valor. De fato, ambos mostram as duas faces do sábio, a do intelectual, e a do ‘homem de letras’; afinal, oferecem modelos diferentes e até antagônicos de como conceber a relação entre a busca do conhecimento e a ação política, as atitudes respectivas do pensador e do cidadão.

Podemos dizer assim: Sartre, sem entender completamente a política, entra na política, vocifera e desvaria. Ele se importa mais do que tudo em ser e se fazer notado, e em sentir-se protegido pelo grupo e pela seita devota. Ele adora sentir-se reverenciado pela multidão e por um exército de admiradores incondicionais. Quem diria isso do ‘papa’ do existencialismo, que em seus livros abominava qualquer indicação e sinal de referência, e que afirmava que o homem está completamente só na existência!

Aron, por outro lado, dedica a sua energia intelectual, que é intensa, a estudar e buscar compreender não apenas a natureza e a relevância da esfera política, mas também a sua repercussão e as suas consequências. Ele não se mete em política, mas entra na matéria política, gerando uma extensa obra. A título de exemplo, eis aqui alguns de seus títulos: L’Homme contre les tyrans (O homem contra os tiranos; 1944), Démocratie et totalitarisme (Democracia e totalitarismo;), D’une sainte famille à l’autre. Essai sur le marxisme imaginaire (De uma santa família à outra. Ensaios sobre marxismos imaginários; 1969), Études politiques (Estudos políticos; 1972). Analisando o significado da paz e da guerra, publica Penser la guerra: Clausewitz (Pensar a guerra: Clausewitz; 1976), Les Guerres en Chaine (As guerras em cadeia; 1951), Paix et guerre between les nations (Paz e guerra entre as nações;1962). Refletindo sobre o papel das elites intelectuais no destino das sociedades livres, como um tema recorrente, ele escreve L’Opium des intellectuels (O ópio dos intelectuais; 1955). Sobre maio de 68, vale destacar o seu livro Réflexions sur la révolution de mai 1968 (Reflexões sobre a revolução de maio de 1968).

Discípulo fiel do sociólogo alemão Max Weber, Aron entende que o cientista e o homem de ação, assim como a ética dos princípios e a ética da responsabilidade, não constituem parelhas próximas, mas tendem a se encontrar no horizonte da experiência. Na sua bem conhecida introdução aos não menos favoráveis ensaios de Weber, La ciencia como vocación e La política como vocación (A ciência como vocação e A política como vocação), o pensador francês de ascendência judaica escreve o seguinte:

A reciprocidade entre conhecimento e ação é imanente à própria existência do homem histórico, e não ao historiador. Max Weber proibia que o professor, dentro da universidade, tomasse partido nas brigas de fórum, mas não podia deixar de considerar a ação, pelo menos a ação mediante a caneta ou a palavra, como último objetivo de seu trabalho.

O cenário que compõe os centros de ensino, a mídia, e, em geral, os espaços culturais formadores de opinião, é uma área muito sensível e vulnerável para tomar partidos e adquirir hegemonia. Acontece que a propaganda totalitária e liberticida tomou-a como um objetivo privilegiado de dominação e expansão, algo como um laboratório e um campo de testes de engenharia social, posteriormente aplicável a toda a sociedade.

Neste cenário decide-se, em grande medida, o destino do pensamento livre e a sua sobrevivência. Ali se formam e se projetam as elites que inspiram e lideram a ação social (e também os movimentos revolucionários, as tendências e as modas ideológicas), e ali é necessário que a esfera da liberdade sobreviva. Bem, Raymond Aron, longe do trabalho de proselitismo praticado por muitos de seus colegas de profissão, foi um resistente e um sobrevivente, um homem de ação, um combatente da liberdade, que tinha de lidar, quase sempre, com a solidão intelectual e pessoal, na querela contra a seita todo-poderosa dos ‘filotirânicos’ (neologismo criado por Mark Lilla) agentes do totalitarismo, como Jean-Paul Sartre. Aron sabia que nas democracias, devido à sua natureza de sociedade aberta e seu regime de opinião pública, o impacto esmagador do ‘progressismo’ dogmático era demolidor e muito difícil de ser combatido apenas com o rigor do pensamento e a honradez intelectual.

O grande perigo que envolve os homens da ciência metidos em política, o ópio dos intelectuais, como explicou Max Weber, é, acima de tudo, a vaidade. Os espaços acadêmicos e científicos, diz o sociólogo alemão, cultivam esse tipo de doença ocupacional, que, apesar de desagradável e dolorosa para quem a sofre diretamente, é ‘relativamente inócua’. No entanto, quando eles saem desses templos e invadem a arena política, ‘a necessidade de aparecer sempre em primeiro plano’ desperta os dois grandes vícios dos políticos e de seus companheiros de jornada: a ausência de finalidades objetivas e a falta de responsabilidade.

O desvio e a pomposa irresponsabilidade moral e intelectual que Weber descreveu, e que tanto incomodou a Aron, são hoje um problema globalmente perceptível. Em todo o mundo, o ópio dos intelectuais leva muitos professores e cientistas a presidirem altos comissariados, a se juntarem a ‘comitês de peritos e acadêmicos’, aos mais diversos conselhos de pesquisa e de Estado, onde lisonjeiam os poderosos, justificando pela palavra oral e escrita o injustificável, colaborando com a mídia progressista e compartilhando os seus objetivos, ardendo-se com o desejo de ser ouvido, e dessa maneira, poder influenciar; colocando de outro modo, participar do poder, porque não é de outra maneira que eles entendem a ‘democracia participativa’.

Cinquenta anos depois de maio de 68, Jean-Paul Sartre continuará aparecendo na mídia como o símbolo, o santo e o emblema do intelectual ‘engajado’. Raymond Aron, no entanto, permanecerá, como sempre, num segundo plano, senão no esquecimento.
***
Nota do autor. Este ensaio é uma versão atualizada e ampliada de Raymond Aron y el opio de los intelectuales, publicado no jornal Libertad Digital em 17 de março de 2005.

Nota
Tradutora: J Pires-O`Brien (UK)
Revisora: D Finamore (Br)

Norman Berdichevsky

Reseña del libro El hombre razonable y otros ensayos de Joaquina Pires-O’Brien. Beccles, UK, KDP, 2016. Disponible en Amazon.com.

El anuncio de la adopción de la nueva palabra post-truth (posverdad) por los autores del diccionario Oxford, en el 16 de noviembre de 2016, llegó días después de la publicación de O homem razoável e outros ensaios, un e-book en portugués y ya traducido para el español (El hombre razonable y otros ensayos) – una colección de 23 ensayos sobre algunos de los más definitorios, y controvertidos, aspectos de la civilización occidental. La proximidad de los dos eventos muestra que la autora es de hecho bien sintonizada con la civilización occidental y sus problemas. Uno de los ensayos de este libro se ocupa específicamente del posmodernismo, la doctrina o mentalidad da cual que la palabra post-truth se originó. Además del posmodernismo, este libro abarca otros temas de actualidad como la educación liberal, las dos culturas (la división entre la ciencia y las artes y las humanidades) y el 9/11, así como algunos temas atemporales como la utopía, el amor, y el apego humano a los mitos. La autora, Jo Pires-O’Brien, una brasileña residente en el Reino Unido, es la editora de PortVitoria, periódico en línea, bianual, sobre actualidades, cultura y política, centrado en la cultura ibérica y su diáspora, cuyos artículos son publicados en español, portugués e inglés.

El ensayo con el tema más difícil de se entender – en cualquier idioma – es precisamente lo que habla del posmodernismo, el cual es descrito través de su fascinación con el concepto de ‘narrativas’; es decir, donde muchos hacen de los medios de comunicación un juguete – una actitud escéptica o desconfianza en relación a las ideologías y los diversos principios del pensamiento racional, incluyendo la existencia de una realidad objetiva, de la verdad, y de las nociones de progreso que existen – el posmodernismo afirma que el conocimiento y la verdad son productos de los sistemas históricos y sociales y de la interpretación política. La preocupación da autora con el postmodernismo de la amenaza no es sin justificación. El término post-truth, – adoptado en 2016 por los autores del diccionario Oxford – capta la idea posmodernista de que ‘no hay hechos, hay interpretaciones’. Si no hay hechos, entonces la ciencia y otros elementos de la moderna Civilización Occidental, como el canon literario, son irrelevantes.

El título del libro fue tomado del primero ensayo, que se ocupa del hipotético ‘hombre razonable’ (reasonable man), conservado en el derecho civil y contractual en Gran Bretaña y en los Estados Unidos, pero sin una definición precisa. Tal ‘hombre razonable’ – sin el artículo definido que aparece en las versiones en portugués y español – o ‘el hombre en el ómnibus de Clapham’ en el folklore británico, es una persona dotada de sentido común y cuya opinión es tomada como la opinión pública, y por eso, valorada en muchos casos particulares, como en la definición de cómo alguien debe comportarse (en términos de acción o inacción) en relación con otro en situaciones de amenaza. No hay necesidad de establecer una intención maliciosa, y es esperado que dicha persona ficticia pueda cometer ‘errores razonables’ de acuerdo con las circunstancias, siendo, por lo tanto, una cuestión de la ética. Hay, efectivamente, mucho alimento de reflexión acerca de cuanto de los sistemas legales del Occidente, os cuales, sobre todo en los países anglosajones, decoren de alguna tradición distinta. A partir del ensayo aprendemos que el concepto del hombre razonable se extiende a la Antigüedad, al concepto de ‘phronēsis’ o ‘sabiduría práctica’ de los antiguos griegos. Para Sócrates, ‘phronēsis’ (frónesis) era la capacidad de discernir cómo y por qué alguien debe actuar virtuosamente, mientras que Aristóteles, – y en la víspera de la edad moderna, Spinoza, – lo definió como la capacidad de pensar lógicamente. La calidad de una sociedad depende de su riqueza humana, medida por la proporción de ciudadanos razonables. El tema de la ley vuelve a aparecer en otro ensayo que se ocupa del delito affray – o riña – el uso o amenaza del uso de la violencia ilegal contra otra persona para que una persona de ‘firmeza razonable’ en el tema de la escena por su propia seguridad. La etimología de la palabra affray es explicada, demostrando que proviene de una palabra en protogermánica con un radical protoindo-europeu.

Varios ensayos se ocupan de pensadores influyentes como Friedrich Hayek, Jacques Jean-Jacques Rousseau, Thomas Hobbes, Elias Canetti, Stefan Zweig y George Orwell. El ensayo titulado ‘El filósofo de la libertad’ habla de Hayek, notoriamente desaventajado por los críticos de izquierda de las sociedades opulentas modernos y sus políticas económicas. Hayek fue uno de los pocos que no perdió la fe en el capitalismo el día siguiente al viernes negro de noviembre de 1929. En Camino de servidumbre (1944), que se convirtió en un éxito de ventas, Hayek explicó los malentendidos sobre el sistema económico del capitalismo y destacó el valor de la libertad de cada uno de usar su propia iniciativa empresarial y sus habilidades para progresar y, sobre todo, afirmó que la democracia no era un valor final, sino un medio para alcanzar la libertad. Los fundamentos de la libertad es otro gran libro de Hayek, aunque no ha sido un éxito de ventas. Hayek fue muy admirado por la primera ministra Margaret Thatcher, que una vez llevó el libro Los fundamentos de la libertad para una sesión en el Parlamento y golpeó el mismo contra la caja de despacho en cuanto dijo: “Esto es lo que creemos”. Otra personalidad que evidencio es George Orwell (Eric Blair), autor de 1984 y Sin blanca en París y Londres, el cual es cubierto en dos ensayos; un que da un resumen crítico acerca de la vida de Orwell y otro que describe las poderosas metáforas contenidas en su libro 1984.

La carrera anterior de la autora en Brasil, como investigadora botánica con un doctorado en ecología forestal, se pone de manifiesto en un ensayo sobre el nefasto ‘Proyecto Floram’, un proyecto de reforestación. La autora basó su ensayo en los archivos del Instituto de Estudios Avanzados de la Universidad de São Paulo (IEA/USP) así como en su memoria personal. En este ensayo, ella muestra cómo el proyecto Floram fue concebido y explica cómo la murmuración pública inmerecida hizo con que los inversores del sector privado retirasen su apoyo. La inhibición del Proyecto Floram es sintomática de uno de los principales problemas de nuestro tiempo – el calentamiento global. Como Pires-O’Brien correctamente concluyó… “… el Proyecto Floram es un ejemplo de la eterna contienda entre lo real y lo ideal”.

Un ensayo corto, pero afilado, habla de la cultura y el relativismo cultural, trazando el nuevo significado dado à la palabra cultura por algunos antropólogos y sociólogos, y muestreando su conexión con el relativismo cultural. Los ensayos restantes se ocupan de las grandes ideas que florecieron en el Occidente y ayudaron a formar la Civilización Occidental – la Bíblia, la idea del paraíso, la utopía, el aprendizaje al longo de la vida, el amor, la mente sana en un cuerpo sano y la educación liberal –, así como tratan de los mayores retos y amenazas actuales de la Civilización Occidental: el posmodernismo y el extremismo islámico. Aunque se trata de una ecléctica colección de ensayos, hay un denominador común en su temática: la lucha de la razón contra la irracionalidad.

Por último, pero no menos importante, la autora aborda el extremismo islamita responsable de los ataques del 9/11 y el uso del yihad, como un medio para alcanzar el poder político. Esto se hace en forma de una serie de preguntas y respuestas que abordan no sólo a los perpetradores de los ataques del 9/11, sino también muchos temas relevantes a cerca de la religión islámica: la historia de los conspiradores y su motivación; la naturaleza del Corán; la rivalidad entre las sectas islámicas rivales (chiíes y suníes); el yihad; el wahabismo y el salafismo; la Hermandad Musulmana; la aspiración de un nuevo califato; las creencias de la mayoría de los musulmanes comúns que non son fundamentalistas; y, ayunque, el fracaso, la falta de cooperación y los supuestos ingenuos de las agencias de inteligencia de los Estados Unidos. Todo eso es explicado de forma clara y sin exageros.

Este es un libro para leer y volver a leer, con el fin de ayudarnos a poner en perspectiva ideas diferentes pero cruciales. Como un usuario cuyo primer idioma es el inglés y con una capacidad razonable de leer en español, encontré el texto en español bastante fácil de leer – claro, preciso y leve, tanto entretiene cuanto informa. El estilo es el tipo que captura la atención del lector y sin ‘vagar’ o ‘cansar’ como es común en casos de textos similares, que abarcan docenas de temas diversos y provocativos. Otro diferencial de El hombre razonable es que sus ensayos de temática variada están bien conectados.

En el momento, el libro apareció en portugués y en español, y hay una declaración en el prefacio que una traducción al inglés no está sobre la mesa: “El repertorio de los temas abordados ya es bien conocido en los países situados en el centro de la Civilización Occidental pero no en los países de la periferia. La presente recopilación tiene por objetivo contribuir a corregir esa distorsión.” Aunque esto es probablemente cierto, creo que, mismo en la lengua inglesa, hay un espacio en la literatura para una análisis concisa y clara como esta, que reflecte acerca de las ideas que formaron la Civilización Occidental y acerca de aquellas que son una amenaza à misma. Tengo una profunda esperanza de que una edición en inglés ocupe de pronto esto espacio. Este es un libro valioso que debería ser una lectura obligatoria para los estudiantes que están a entrar en la universidad para estudiar historia, filosofía, ciencias sociales y relaciones internacionales.

                                                                                                                                               

Dr. Norman Berdichevsky es un estadounidense especializado en geografía humana y con fuerte interés en las culturas hispánica y portuguesa. Es autor de varios libros y numerosos artículos y ensayos, y forma parte del Consejo Editorial de PortVitoria.

Fernando R. Genovés

I. A identidade em discussão

Ser liberal [libertário] é uma determinada atitude ante a realidade ou envolve também a adoção de um credo político definido e uma linha normativa de ação? A caracterização de ‘radical’ ao liberal é justa? Por que o liberal não acaba se ajustando ao protótipo do conservador e muito menos ao do extremista?

Extrair a voz ‘radical’ ou o ‘radicalismo’ em relação à práxis do liberalismo [libertarianismo] conduz, numa primeira aproximação do assunto, ao encontro com os usos da linguagem ordinária, onde ‘radical’ é, geralmente, aceito como sinônimo de ‘violento’, ‘extremista’. É necessário limpar o terreno de obstáculos conceituais que não deixam visualizar o horizonte abrangente.

Ser radical significa, no sentido restrito, ir à raiz das coisas. Os primeiros filósofos foram, essencialmente e necessariamente, radicais: buscavam conhecer o princípio fundamental — a natureza — das coisas; não o que parece a nós, mas sim, o que são na realidade. ‘Radical’ pressupõe, portanto, e principalmente, uma determinada atitude perante a vida.

A noção de ‘liberalismo’ nasceu na Espanha durante o século XIX. Não obstante, o debate sobre o que constitui políticas radicais (políticas no sentido restrito de politics, e também no sentido mais amplo de policies) na História do Ocidente surgiu no final do século XVIII nas terras britânicas e americanas, quando muitos de seus pensadores e políticos se viram sacudidos pela fenomenal comoção (o ‘cataclismo’, na denominação de Leo Strauss) causada pela Revolução Francesa. Todavia, as controvérsias sobre as potencialidades do radicalismo político remetem a feitos anteriores, todos eles vinculados, de uma maneira muito significativa, a eventos revolucionários: a Revolução Gloriosa britânica de 1688 e a Revolução Americana de 1776.

Os panfletos radicais da época, que construíam virtudes normativas a partir de feitos consumados, eram repletos de otimismo; em todo lugar eles animavam o aprofundamento e a extensão dos direitos naturais do homem, a soberania popular, o sufrágio universal e a derrocada das tiranias de todos os tipos.

Enquanto que Edmund Burke rejeitou de cara e sem reservas a opção revolucionária francesa desde o primeiro momento, Alexis de Tocqueville, por sua vez, adotou uma atitude suavemente compreensiva a respeito da mesma, dividindo entre os dois lados em jogo (cf. o Antigo Regime e a Revolução) as responsabilidades e os erros. Thomas Carlyle, com o espírito repleto de romantismo e apaixonado pelo heroico, confrontou a questão pelo ponto de vista de um poeta que canta eventos de estatura épica e com sabor de sangue e de tragédia.

Durante o século XIX, o radicalismo adquire nos países anglo-saxões um tom marcadamente teórico e filosófico, de orientação utilitarista, o que fez com que não perdesse a índole prática e consequencial do tema. ‘Filósofos Radicais’ é, precisamente, a rotulagem que John Stuart Mill e seus seguidores adotaram na hora em que se fizeram conhecer no Parlamento e na sociedade. O seu objetivo era acelerar as reformas sociais e revitalizar a abertura das crenças (ou das mentes) na população, tudo isso pela transformação final do antigo regime aristocrático numa sociedade livre, de mercado, moderna, secular, democrática e liberal.

Apesar de ter uma disposição decidida para aprofundar e ampliar as conquistas de liberdade na vida pública, o ser radical remete mais a uma atitude pessoal do que ao seguimento restrito de um prontuário programático coletivo; para pôr em prática o coletivismo e o planejamento já há o comunismo em suas variadas versões. Não importa que a doutrina radical tenha, em certas ocasiões, se materializado em programas de partidos políticos identificados por tal rótulo. Seja como for, o ser radical, pela sua própria natureza, resiste a atrelar-se a um programa político de objetivos últimos, ou submeter-se à disciplina da aparelhagem de partidos.

Algo similar poderia ser dito do indivíduo liberal, se entendermos por tal o indivíduo para quem a ideia de liberdade significa algo ‘sagrado, como a vida ou a propriedade’ (Lorde Acton); e, o ‘sagrado’ entendido como sinônimo de superior, principal, intocável e inalienável. Lorde Acton afirmou enfaticamente que a liberdade é mais uma questão de moral do que de política. Porque, se a liberdade implica não estar submetido ao domínio dos outros, ou estar o mínimo possível, é preciso que os indivíduos aprendam a controlar-se por si mesmos, a cuidar de si mesmos e a praticar a liberdade na primeira pessoa. Nenhuma outra coisa significa, a rigor, a ética.

Eis aqui a vivência radical do liberalismo. Conforme declarou José Ortega y Gasset, na mesma linha de pensamento de Lorde Acton, o liberalismo ‘é uma ideia radical sobre a vida’; significa crer que cada qual pode (e deve) realizar a sua individualidade e o seu ‘intransferível destino’. Essa posição abunda na tradicional interpretação da liberdade, caracterizada como liberdade negativa, isto é, como a inexistência ou o livramento de coação nas ações humanas. Devemos a Isaiah Berlin algumas das mais relevantes contribuições sobre o tema. Não obstante, há outras menos conhecidas, como esta de Jaime Balmes, que nos parecem igualmente concludentes: “Seja qual for a acepção adotada para a palavra liberdade, é patente que o seu significado inclui sempre a ausência daquilo que impede ou constrange o exercício de alguma faculdade.”

É, na ênfase posta na caracterização da liberdade, na importância reconhecida de sua própria existência e na radicalidade de sua defesa, onde encontramos notórias diferenças entre liberais e conservadores. Para o liberal, não há outro objetivo humano maior do que a liberdade. Nenhum outro valor o solapa ou supera, pois tudo o que é valioso no homem requer necessariamente a sua presença e a sua ajuda. O conservador, em troca, mostra-se menos zeloso com a liberdade. De acordo com os conservadores, advertiu Lorde Acton, a liberdade para os homens é tida como um luxo e não como uma necessidade. Em tal escala de valores, a liberdade pode, consequentemente, ser sacrificada, se as circunstâncias assim o exigirem, ou ficar sujeita à desvalorização por algum bem distinto tido como superior, como a ordem e a segurança, o bem-estar ou a paz, a tradição ou os bons costumes.

Num ensaio intitulado O que é ser conservador?, Michael Oakeshott mostra que o conservador não se identifica na política pela defesa intransigente de alguns determinados princípios, mas, sim, pelo fato de mostrar, perante a política, uma particular ‘disposição’, a saber: a sua desdobrada tendência à moderação. Segundo ele, um conservador é aquela pessoa propensa a atuar de modo moderado e como moderador. Dentro dessa perspectiva, a função do Governo consistiria, em primeira instância, em evitar a excitação dos ânimos dos indivíduos, a fim de minimizar o impacto de conflitos e querelas. O conservador aprecia a contenção e a conciliação, a concórdia e a evitação de tensões; em consequência, repudia qualquer tipo de radicalismo…

Segundo Oakeshott não há nada inconsistente nem contraditório em ser conservador a respeito do Governo e radical a respeito de qualquer outra esfera, como os costumes e os valores. É possível combinar as obrigações morais e as convicções éticas, os compromissos públicos e os sentimentos privados, sem cisões internas e sem ‘rasgar as roupas’. As possibilidades de tal convivência afetam tanto a área das coerências pessoais quanto a das alianças práticas. Liberais e conservadores podem, portanto, entender-se mutuamente e chegar a acordos, desde que a responsabilidade não falhe ou o humor não se desfaça. Em matéria de mestres, o parecer de Oakeshott é de que “há mais que aprender acerca desta disposição [a conservadora] de Michel de Montaigne, Blaise Pascal, Thomas Hobbes e David Hume do que da de Edmund Burke ou Jeremiah Bentham.” Contudo, a ‘disposição’ conservadora e a ‘atitude’ liberal não confluem facilmente, embora não falte quem fomente na política a adoção de uma postura liberal-conservadora, como expressão efetiva de uma práxis niveladora.

Inclinar-se pelo liberalismo e distanciar-se do conservadorismo não significa relegar ou renunciar àquilo que é mais proveitoso em cada tradição. Mas, se existem liberais que chegam à conclusão de não ser conservadores, talvez eles devam explicar por que não o são.

II. Porque ser liberal não significa, necessariamente, ser conservador

Numa espécie de post-scriptum do livro Os fundamentos da liberdade (The Constitution of Liberty, 1960) o importante ensaio de Friedrich A. Hayek, ‘Por que não sou conservador?’ constitui uma declaração de princípios do autor sobre o que é ser liberal e o que não é. Nele ficou demarcado o espaço próprio de atuação daqueles que, desde a época do liberalismo, encontram-se, vivencialmente, mais entre conservadores e socialistas, servindo de fachada de uns e enfrentando outros. De fato, sustém Hayek, na prática política, o liberal muitas vezes não tem outra alternativa senão apoiar-se em partidos conservadores, procurando não perder a alma e a própria identidade em tal operação, a fim de frear o avanço do socialismo.

Diferentemente dos socialistas e dos conservadores, o liberal não é, quer por definição quer por coerência prática, um homem de partido. É um partidário da liberdade. Em tal esforço ele empenha a sua ação, a dimensão prática de sua vida. O compromisso com esse ideal e objetivo faz com que se sinta completamente incompatível com o socialismo. Isso inclui qualquer forma de socialismo que os mais diversos grupos e partidos políticos adquiram ou adotem. O partidário da liberdade é o indivíduo que se mostra oposto — ‘radicalmente oposto’, sublinha Hayek — ao conservadorismo. Por que um verdadeiro liberal não pode ser um conservador?

Estritamente falando, o liberal mantém um conflito de ideias com o conservador. Como já anteriormente assinalado, o conservadorismo exibe uma determinada ‘disposição’ perante a ação (ou a não ação), enquanto que o liberal revela sobretudo uma ‘mentalidade’. Na hora de delimitar objetivos, a disposição conservadora olha para o passado, mede as palavras e os passos que dá; ou seja, se modera. O conservador não estimula nas pessoas o gosto pela novidade (no fundo ele a teme e a detesta); a atitude liberal, pelo contrário, “sempre olha adiante” (Hayek, op. cit.). O liberal não se opõe à evolução, às reformas e tampouco às mudanças: “não lhe preocupa a distância em que estamos nem a velocidade em que vamos; a única coisa que lhe importa é esclarecer se estamos a caminhar na direção certa” (Hayek, op. cit.). Tal inclinação está muito relacionada com aquilo que necessariamente anda junto com a liberdade, como a espontaneidade.

Lorde Acton dizia que a essência da liberdade consiste em não crer na santidade do passado, uma vez que nada é mais sagrado do que a liberdade. Eis aqui, talvez, a chave do nosso assunto.

Aceitar a livre evolução dos fatos, o movimento dos acontecimentos e da vida, implica confrontar com valentia a contingência irredutível e ingovernável que é própria da sorte. A planificação e as regulagens obsessivas que definem o modo de atuação socialista (o seu ‘racionalismo torpe’) não se distanciam muito, no fundo, da paixão conservadora pela lei e a ordem, do desejo de que tudo esteja sob controle. O movimento da liberdade implica derrubar ídolos, bem como todo e qualquer obstáculo que freie ou impeça o desenvolvimento pleno das possibilidades humanas e a espontaneidade dos nossos atos, embora ignorando, às vezes, onde possam nos levar, posto que frequentemente “procedemos um tanto às cegas” (Hayek, op. cit.). Isso não significa abandonar-se a uma conduta louca e irresponsável, mas sim, entregar-se à defesa de uma existência aberta e expedita. A ação do homem livre só está limitada àquilo que a lei expressamente proíbe ou que a experiência acumulada prudentemente desaconselha.

A ligação estreita com a ordem e com o controle das ações explica a ‘afeição’ do conservador pelo autoritarismo, a rejeição da liberdade plena e a disposição a aceitar a coação e a ‘arbitrariedade estatal’ como veículos de imposição de crenças e objetivos práticos, especialmente quando as coisas não vão de acordo com os seus planos. Frente a esta disposição, a atitude do liberal oferece um perfil certamente radical.

Um regime de liberdade pressupõe fixar uma atitude que prescinda “substancialmente da coação e da força” (Hayek, op. cit.), embora tenhamos anseios por modos de atuação atraentes, estimulantes e tentadores. Sobre isso Hayek adverte com uma pungente perspicácia que, devido à sua substancial falta de princípios, os conservadores em geral rechaçam as medidas socializantes, protecionistas e dirigistas próprias dos seus adversários, exceto… quando essas medidas os beneficiam ou lhes são lucrativas.

Contudo, há uma “debilidade do conservador” que dificulta bastante a convergência com o ser liberal. Trata-se da distinta posição adotada por um e outro perante o progresso das ciências, os valores morais e a abertura das ideias. Nesse capítulo de profundas convicções, Hayek se mostra radicalmente sincero: “Vamos falar claramente: o que me incomoda no conservador é o seu obscurantismo” (Hayek, op. cit.). Hayek confessa, por exemplo, a irritação que lhe causa a oposição teimosa de tantos conservadores à teoria da evolução e às explicações “mecanicistas” do fenômeno da vida.

Se tal incômodo foi expresso pelo autor austríaco em 1959, que tipo de sentimento pode ter um liberal do início do século XXI, quando percebe que não poucos conservadores, criacionistas e partidários do “desenho inteligente e intencional” da natureza, por exemplo, põem em pé de igualdade a letra da Bíblia e o discurso científico dos cientistas evolutivos e neoevolutivos?

Quando perguntado, anos atrás, acerca da definição de neoconservador, Irving Kristol respondia o seguinte: é “um liberal atracado na realidade”.

III. Radicais e extremistas

O filósofo norte-americano Robert Nozick publicou, em 1997, um sucinto e bastante esclarecedor artigo titulado ‘As características do extremismo’, incluído no livro de recompilação Socratic puzzles (Quebra-cabeças socráticos, 1997), bastante útil para não confundir o conceito de extremismo com o de radicalismo. Nele, Nozick oferece um retrato sucinto do tipo extremista articulado a oito sinais indicativos desse comportamento.

O primeiro sinal específico de um extremista é a sua tendência a tensionar as posições e levá-las ao limite, o que o coloca literalmente às margens da realidade e o compele a adotar habitualmente posturas excessivas, ‘marginais’ e, eventualmente, meramente testemunhais. Assim, o extremista se exercita sobre a corda estirada ou sobre “o que for o mais difícil de tudo”, e, em tal faina de aeromodelismo, não teme ser visto com admiração e tampouco aplaudido por uma plateia extasiada. Nessa exibição, como noutras que veremos a seguir, um extremista tem muito pouco em comum com um radical.

A segunda característica do extremismo é tomar como inimigo quem quer que se mostre contrário aos seus postulados: “quem não está comigo está contra mim”. Eis aqui uma afecção infectada de ardor e fanatismo: o que o extremista odeia, até a morte.

A terceira característica do extremista é a repugnância que sente por acordos e compromissos, sempre interpretados como deserção dos objetivos. A seus olhos, fazer um acordo ou propor um contrato significa forçosamente “rebaixar-se”. Ao observar um adversário muito distante de onde o mesmo se encontra (de onde ele próprio se fixou), acaba julgando-o como uma pessoa inacessível, incompreensível e intratável.

Em quarto lugar, os comportamentos extremos e endurecidos estão próximos do uso da força, o que nas mãos de um intransigente torna-se de imediato em pura violência. A manifestação mais patente — diríamos quase, ‘mais natural’ — do extremismo é, portanto, o terrorismo. A rigor, o terrorismo não significa violência radical, mas sim violência extrema.

Em quinto lugar, destacam-se a impaciência e a incontinência: os objetivos e os propósitos perseguidos hão de ser alcançados de imediato e por completo. O extremista é um indivíduo precipitado e expedito. Enxerga qualquer atraso na vitória como um fracasso ou derrota. O extremismo não se traduz apenas num “tudo ou nada”, como também num “agora ou nunca”.

O extremismo, em sexto lugar, não se proclama na solitude ou de modo individual, pois requer um cenário grupal e comunal. O extremista, pouco convencido, na realidade, de suas próprias forças (sempre humanas, demasiadamente humanas), necessita estar rodeado de camaradas para assim sentir-se “compelido” a agir. Como impõe objetivos “impossíveis”, necessita amplificar a sua ação com o concurso de outros para assim sentir-se vestido.

A sétima característica do extremista é o fato de situar-se, como norma, no extremo do espectro político, não de fato ou conjunturalmente, mas sim sistematicamente. Se alguém ocupar o seu lugar extremado, ele se arredará dando um passo mais adiante. Quem joga o jogo do extremismo não permite que ninguém seja mais extremista do que ele. O extremista não consegue parar; é preciso que alguém o pare.

Finalmente, em oitavo lugar, o extremismo prático (não há outro; o teórico não passa de simples retórica) se nutre do extremismo de base psicológica ou de atitudes. Não é extraordinário que um extremista ziguezagueie pelo arco político ininterrupto, passando, por exemplo, da extrema esquerda para a extrema direita, e vice-versa. Tampouco permite a criação de convergências. A história do totalitarismo, sem ir mais longe, traz abundantes casos deste gênero. O movimento do extremista é horizontal; o do radical, vertical.

Radical, conservador ou extremista? Na minha opinião, o político que tenta ofender o seu adversário acusando-o de ser radical não age inteligentemente. Tal imputação representa, na prática, um elogio. O mesmo não ocorre com a qualificação ‘extremista’. Como afirmou Nozick: “raramente há alguém disposto a dizer ‘Esta é a postura correta, e é uma postura extremista’”. Tal sentença foi proferida por um filósofo que costuma ser qualificado como ‘libertário’. A propósito, Hayek não gostava dessa última designação: era demasiadamente “artificial e rebuscada”, segundo ele próprio confessou.

Isso não vai à raiz das coisas, mas busca arrancá-las pela força.

Isso não se dará, digo eu, por haver dentro do liberalismo um posicionamento extremo, ou para fugir, no final das contas, de outro tipo conservador, mas talvez por adotar em seu seio uma atitude marcadamente radical. Mas isso é um outro capítulo na história do liberalismo.


*****
Fernando R. Genovés (Valência, 1955) é escritor, ensaísta, crítico literário e analista cinematográfico. É doutor em Filosofia pela Universidade de Valência (Espanha), e ganhador do Prêmio Juan Gil-Albert de Ensaio em 1999. É autor de numerosos artigos em jornais e revistas especializadas, como Libertad Digital, ABC Cultural, Claves de Razón Práctica, Debats, Revista de Occidente e El Catoblepas. Até o momento já publicou 13 livros de não ficção, entre os quais cabe citar Marco Aurelio. Uma vida contenida (2012), La ilusión da empatía (2013), Dos veces bueno. Breviario de aforismos y apuntamientos (2014), El alma das ciudades. Relatos de viajes y estancias (2015). Mantém os seguintes blogs: Los viajes de Genovés, Cinema Genovés y Librepensamientos.

 

Nota

© F R Genovés. O presente ensaio foi extraído do libro La riqueza da libertad, 2016. ISBN e-book 978-84-608-6112-6, disponível na Amazon.

 

Tradução: Jo Pires-O’Brien (UK); Revisão: Débora Finamore (Br)

 Referência

Genovés, Fernando Rodriguez. O Liberal é um radical ou um conservador? PortVitoria, UK, v.14, Jan-Jun, 2017. ISSN 20448236, https://portvitoria.com