Octavio Paz (1914-1998), poeta e polímata mexicano

 Joaquina Pires-O'Brien

 

 

 

Além de ter sido um dos maiores poetas do século XX, o mexicano Octavio Paz, nascido  Octavio Irineo Paz Lozano, foi também um grande estudioso e um notável pensador. Felizmente o talento de Paz foi reconhecido pela academia sueca, que em 1990 lhe concedeu o Premio Nobel de Literatura. Para Paz,

 

 

 

 

O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade.

Sentir-se só possui um duplo significado: por um lado, consiste em ter consciência de si; por outro, um desejo de sair de si. A solidão, que é a própria condição de nossa vida, surge para nós como uma prova e uma purgação, no fim da qual a instabilidade e a angústia desaparecerão. A plenitude, a reunião, que é repouso e felicidade, e a concordância com o mundo, nos esperam no fim do labirinto da solidão.

O livro Labirinto da solidão (El laberinto de la soledad) de Paz é uma reflexão sobre a modernidade inserida no contexto identitário, e, por essa razão, considerada uma peça-chave da literatura moderna universal. De igual importância é  O ogro filantrópico (El ogro filantrópico), no qual descreve o Ocidente como um período de grande abundância material, mas corroído pelas maladias do hedonismo, da religião, e do egoísmo.

No conjunto dos poetas mais reconhecidos da América Latina Paz foi o mais humano e o que enxergou mais longe. Em todo o Ocidente, Paz foi um dos primeiros intelectuais públicos a identificar a crise da modernidade nas superestimadas expectativas ao progresso. Segundo Paz, o progresso existe, mas não é retilíneo e tampouco é inexorável. Paz analisou a pós-modernidade com o mesmo ceticismo com que analisou a modernidade. Deu a entender que a  pós-modernidade foi uma consequência das incongruências da modernidade. A prosa de Paz era quase poesia, conforme mostra o texto a seguir:

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero a alimentam. Oração, ladainha, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio todos os conflitos objetivos se resolvem e o homem finalmente toma consciência de ser mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar de uma forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da ideia. Loucura, êxtase, logos. Retorno à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo.

Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo e metros e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todos os rostos mas há quem afirme que não possui nenhum: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana! O Arco e a Lira. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

 

Segue alguns exemplos da poesia de Paz traduzidas para o português, cada qual seguida do original em espanhol.

 Silêncio

Assim como do fundo da música

brota uma nota

que enquanto vibra cresce e se adelgaça

até que noutra música emudece,

brota do fundo do silêncio

outro silêncio, aguda torre, espada,

e sobe e cresce e nos suspende

e enquanto sobe caem

recordações, esperanças,

as pequenas mentiras e as grandes,

e queremos gritar e na garganta

o grito se desvanece:

desembocamos no silêncio

onde os silêncios emudecem.

 

Silencio

Así como del fondo de la música

brota una nota

que mientras vibra crece y se adelgaza

hasta que en otra música enmudece,

brota del fondo del silencio

otro silencio, aguda torre, espada,

y sube y crece y nos suspende

y mientras sube caen

recuerdos, esperanzas,

las pequeñas mentiras y las grandes,

y queremos gritar y en la garganta

se desvanece el grito:

desembocamos al silencio

en donde los silencios enmudecen.

Certeza

Se é real a luz branca

desta lâmpada, real

a mão que escreve, são reais

os olhos que olham o escrito?

 

Duma palavra à outra

o que digo desvanece-se.

Sei que estou vivo

entre dois parênteses.

 

Certeza

Si es real la luz blanca

de esta lámpara, real

la mano que escribe, ¿son reales

los ojos que miran lo escrito?

De una palabra a la otra

lo que digo se desvanece.

Yo sé que estoy vivo

entre dos paréntesis.

 

Vento, Água, Pedra

A água perfura a pedra,

o vento dispersa a água,

a pedra detém ao vento.

Água, vento, pedra.

 

O vento esculpe a pedra,

a pedra é taça da água,

a água escapa e é vento.

Pedra, vento, água.

 

O vento em seus giros canta,

a água ao andar murmura,

a pedra imóvel se cala.

Vento, água, pedra.

 

Um é outro e é nenhum:

entre seus nomes vazios

passam e se desvanecem.

Água, pedra, vento.

 

 

Viento, agua, piedra

El agua horada la piedra,

el viento dispersa el agua,

la piedra detiene al viento.

Agua, viento, piedra.

El viento esculpe la piedra,

la piedra es copa del agua,

el agua escapa y es viento.

Piedra, viento, agua.

El viento en sus giros canta,

el agua al andar murmura,

la piedra inmóvil se calla.

Viento, agua, piedra.

Uno es otro y es ninguno:

entre sus nombres vacíos

pasan y se desvanecen

agua, piedra, viento.

Escritura

Quando sobre o papel a pena escreve,

a qualquer hora solitária,

quem a guia?

A quem escreve o que escreve por mim,

margem feita de lábios e de sonho,

colina quieta, golfo,

ombro para esquecer o mundo para sempre?

 

Alguém escreve em mim, move-me a mão,

escolhe uma palavra, se detém,

pende entre mar azul e monte verde.

Com um ardor gelado

contempla o que escrevo.

A tudo queima, fogo justiceiro.

Mas o juiz também é justiçado

e ao condenar-me se condena:

não escreve a ninguém, a ninguém chama,

escreve-se a si mesmo, em si se esquece,

e se resgata, e volta a ser eu mesmo.

Tradução de Haroldo de Campos

 

Escritura

Cuando sobre el papel la pluma escribe,

a cualquier hora solitaria,

¿quién la guía?

¿A quién escribe el que escribe por mí,

orilla hecha de labios y de sueño,

quieta colina, golfo,

hombro para olvidar el mundo para siempre?

Alguien escribe en mí, mueve mi mano,

escoge una palabra, se detiene,

duda entre el mar azul y el monte verde.

Con un ardor helado

contempla lo que escribo.

Todo lo quema, fuego justiciero.

Pero este juez también es víctima

y al condenarme, se condena:

no escribe a nadie, en sí se olvida,

y se rescata, y vuelve a ser yo mismo.

 

Conversar

Em um poema leio:

Conversar é divino.

Mas os deuses não falam:

fazem, desfazem mundos

enquanto os homens falam.

Os deuses, sem palavras,

jogam jogos terríveis.

 

O espírito baixa

e desata as línguas

mas não diz palavra:

diz luz. A linguagem

pelo deus acesa,

é uma profecia

de chamas e um desplume

de sílabas queimadas:

cinza sem sentido.

 

A palavra do homem

é filha da morte.

Falamos porque somos

mortais: as palavras

não são signos, são anos.

Ao dizer o que dizem

os nomes que dizemos

dizem tempo: nos dizem,

somos nomes do tempo.

Conversar é humano.

Tradução de Antônio Moura

 

Conversar

En un poema leo:

conversar es divino.

Pero los dioses no hablan:

hacen, deshacen mundos

mientras los hombres hablan.

Los dioses, sin palabras,

juegan juegos terribles.

El espíritu baja

y desata las lenguas

pero no habla palabras:

habla lumbre. El lenguaje,

por el dios encendido,

es una profecía

de llamas y un desplome

de sílabas quemadas:

ceniza sin sentido.

La palabra del hombre

es hija de la muerte.

Hablamos porque somos

mortales: las palabras

nos son signos, son años.

Al decir lo que dicen

los nombres que decimos

dicen tiempo: nos dicen,

somos nombres del tiempo.

Conversar es humano.

 

Retornar à HomePage

 

Jo Pires-O’Brien

Review of the book Provocations by Camille Paglia. Pantheon Books, © 2018, 712pp

I still recollect the first time I ran across the name of Camille Paglia, the Italian-American woman of letters.  It happened in Brazil in 1992, when a one-page article by her, probably one of her syndicated columns, was published in a Brazilian weekly magazine, inside a larger article covering the troubles on the celebrations in Brazil of the 500 anniversary of Columbus epic voyage of discovery due to opposing activism. Paglia was the only public intellectual who dared to criticize the twin activism in the United States, which explains why her article was used in Brazil. After that, I began to pay attention to her name wherever it would appear in the media, and soon discovered that Paglia was a household name in the Anglophone world, and more recently, that she has many admirers in Brazil.

Paglia has been at the centre of the culture wars at the American colleges and universities, on the side that stands for tolerance to ideas and authentic scholarly principles. Her new book Provocations (2018) starts by listing the contraindications and indications, determined by people’s ways of thinking, before getting to the point of what the book is about. The collection of essays and short interviews in Provocations covers two and a half decades since her last essay collection was published in her 1994 book Vamps & Tramps. However, Provocations also includes essays on her previous books and interviews. According to Paglia, since her student days she wanted to develop an ‘interpretative’ style of writing that could integrate high and popular culture, which is how she describes her style in Provocations. Although she doesn’t say there that the biology of human nature is a crucial component of the interpretative’ style, this is implicit in many of her essays.

The essays and interviews in Provocations are organized into eight categories: popular culture; film; sex, gender, women; literature; art; education; politics; and religion. The eight categories required to organise these essays are revealing of Paglia’s encyclopaedic knowledge. However, her way of thinking is best revealed by the threads of ideas she interweaves in each category. They are things like art, historical timeline, Shakespeare, post-structuralism and postmodernism, nature, biology and freedom of expression.

The essays on ‘popular culture’ include such topics as Hollywood, song lyrics, Rihanna, Prince, David Bowie and his alter ego Ziggy Stardust, punk rock, favourites popular songs, Gianni Versace and the Italians’ way of seeing death.  The essays on the category ‘film’ talk about Alfred Hitchcock and his female characters, ‘the waning of European Art film’, ‘the decline of film criticism’, ‘movie music,’ and ‘Homer on film.’ The essays on the category ‘sex, gender, and women’ starts with the essay ‘Sex Quest in Tom of Finland’, the story of a Finnish homoerotic artist (actual name Touko Laaksonen) which was turned into a movie. The essays on the category ‘literature’ start with one telling off publishers for sending out unsolicited manuscripts accompanied by a request of a ‘blurb,’ a short description of a book written for promotional purposes; the remaining are properly framed on literature. These include essays on play writers such as Shakespeare, Tennessee Wiliams, Norman Mailler, and about why it took her five years to select the world’s best poems of all times for her book Break, Blow, Burn. The essays on the category ‘art’ covers Andy Warhol, the Mona Lisa, and the power of images. The essays on category ‘education’ covers a variety of themes associated with the aforementioned culture wars at the American colleges and universities, inclusive the intrusive federal regulations aimed at enforcing politically correctness on campus activities. The category of ‘politics’ starts with an interview for Salon magazine about the U.S. invasion of Iraq, and then go on to analyse political figures such as Bill Clinton, Sarah Palin and Donald Trump. The last category is ‘religion’, and it includes essays on the Bible, ‘that old-time religion’, the cults and cosmic consciousness in the sixties in America, ‘religion and the arts in America’, and one essay on why religion should be part of the curriculum of higher education.

One essay I found especially intriguing was that on the Russian-American philosopher Ayn Rand’ (1905-1982), whose objective was to clarify similarities and differences between Rand and herself, after some of her readers pointed out that they had noticed parallels between Hand’s writing and her own. When Paglia finally decided to read Rand she was astonished in finding similar passages to those in her own books. However, she also stresses the main differences between herself and Rand. Paglia describes Rand as an intellectual of daunting high seriousness she describes her style as playful, emphasizing her belief that comedy is a sign of a balanced perspective on life. There is a paradox in this assertion in the fact that Paglia excludes herself from the category of ‘serious thinkers’ and yet displays a kind of self-knowledge that is typical of serious thinkers.

The essay ‘Women and Law’ caught my attention due to her description of the statue of Justice placed in front of Brazil’s Supreme Federal Court. Like most Brazilians, I know what the statue of Justice looks-like. It is a seated woman holding a sword with her eyes blindfolded, signifying the impartiality of the law. However, I did not know that it was the work of the Italian-Brazilian sculptor Alfredo Ceschiati (1918-1989), using a ‘rugged block of creamy granite from Petropolis,’ and neither the historical lineage of the ‘allegorical personification of justice’ that this statue represented. She explains: “Ceschiati has strangely flattened the head of Justice, as if he is alluding to the bust of Nefertiti, with her conceptually swollen wig-crown, or to the Meso-American Chack Mool, who oversaw with alert eyes the ritual of blood sacrifice, guaranteeing the rise of the sun”. Really? I always thought that the flat head of the statue of Justice in Brasília was due to the sculptor’s decision to make his sculpture as tall as his block of granite would allow. However, Paglia was simply allowing her imagination to wander, for she soon returns to the known facts, when she clarifies that the iconic blindfolded goddess of Justice, “was not an ancient motif, but appeared first in the Northern European Renaissance”. Following that, she takes a side step to raise the question whether gender, or any other basic descriptor of a group of people, should be visible or invisible to the law. Women made gains in the law only in piecemeal way, in a long saga that started in Sumeria, under the Code of Hammurabi, passing through Egypt, Judaea, Athens, Rome, Christianized Europe, China and Japan. The contemporary call for special concessions to women would require making them visible, and that this would trample the idea of the impartiality of the law.

The essay ‘Erich Newmann: Theorist of the Great Mother’ reveals where Paglia gained her perspectives art, women, religion, and higher education. Newmann (1905-1961) was a member of the Weimar culture and a product of what Paglia considers “the final phase of the great period of German classical philology, which was animated by an ideal of profound erudition”. Newmann obtained his PhD in philosophy at the University of Erlangen in Nuremberg, and after that he began to study medicine at the University of Berlin, although the discrimination to Jews introduced by the Nazis prevented him from doing the internship necessary to obtain the medical degree. Nevertheless, he carried on his research, which took a new turn after he met Carl Jung (1875-1961), known for his work of archetypes.  Under Jung, Newmann created the archetype of the Great Mother, “a dangerously dual figure, both benevolent and terrifying, like the Hindu goddess Kali”.  It is also from Newmann that Paglia learned to appreciate things like alchemy and the I Ching. On page 439 of this essay she writes that “Authentic cultural criticism requires saturation in scholarship as well as a power of sympathetic imagination”. Paglia’s fondness of Neumann is due to two things: the quality of his scholarship and the fact that it represented last authentic period of learnedness in higher education, before everything was spoilt by post-structuralism.

It was in the category ‘education’ where I found the essays I liked best. Paglia’s essays on education cover the various problems of colleges and universities which triggered the culture wars of the 1980s, from their traditional mission to protect the free flow of ideas to the circumstances that drove them to be swamped by intrusive federal regulations campus aimed to enforce politically correct policies. In the essay ‘Free speech and the modern campus’, Paglia remembers her old-guard professors at Yale Graduate School, in the late 1960s, as the last true scholars. Here is how she describes how it was then and how it is now:

They believed they had a moral obligation to seek the truth and to express it as accurately as they could. I remember it being said at that time that a scholar’s career could be ruined by fudging a footnote. A tragic result of the era of identity politics in the humanities has been the collapse of rigorous scholarly standards, as well as an end to the high value once accorded to erudition, which no longer exists as a desirable or even possible attribute in job searches for new faculty.

In this same essay Paglia states that it was during the five years she researched her book Glittering Images: A journey through art from Egypt to Star Wars (2012) when she noticed the sharp decline in quality of scholarship in the humanities. She conducted a small experiment to detect when this decline started. That experiment involved selecting 29 images from a period extending offer 3,000 years, starting in ancient Egypt and ending in the present, and compiling the scholarly literature on each image. She found that the big drop off in quality happened precisely in the 1980s, which is when post-structuralism and post-modernism encroached into the colleges and universities.

What caused the scholarship of the humanities to slacken according to Paglia was political correctness, for it stunted the sense of the past and reduced history to a litany of inflammatory grievances. She also points out that this problem became worse when colleges and universities decided to embrace the wrong type of multiculturalism, which started to blame all g social inequalities on Western colonialism. Most conservative thinkers now dislike multiculturalism altogether, but Paglia believes in a right type of multiculturalism that incorporates Western civilization alongside the others. She favours a reform in higher education to prompt the return of authentic scholarly principles. To her, the introduction of popular culture in universities should not occur at the expense of the past. Colleges and universities must have an atmosphere of tolerance, and for that to happen, the spectrum of permissible ideological opinion must be broadened, rather than narrowed. The best way that colleges and universities can fully become a place for learning is by allowing free speech and the free flow of ideas; their departments should not become fiefdoms; no group should have a monopoly on truth; and students should be encouraged to be resilient and to accept personal responsibility.

The last category of essays is religion. Paglia admits being both an atheist and having a ‘1960’s mystical bent’ that fuels her interest in astrology, palmistry, ESP, and the I Ching.  Her essay ‘Cults and cosmic consciousness’ is the longest of this book, with 48 pages. In it, she talks about ancient and modern cults and traces the rise to the New Age movement during the 1980s and 1990s to the spiritual yearnings of her generation. In the essay ‘Resolved: Religion belongs in the curriculum’, the penultimate in this book, she argues the importance of the understanding of religions to the understanding of civilization. She believes that “every student should graduate with a basic familiarity with the history, sacred texts, codes, rituals, and shrines of the major world religions – Hinduism, Buddhism, Judaeo-Christianity, and Islam”. She recalls the religious overtone of her 1991 book Sexual Personae. Here is Paglia’s justification for this:

Judeo-Christianity never did defeat paganism, which went underground during the Middle Ages and erupted in three key moments: the Renaissance, Romanticism, and modern popular culture, as signalled by the pantheon of charismatic stars invented by studio-era Hollywood and classic rock music.

If universities had to choose between the teaching of religion and the teaching of the cult of Foucault – Postmodernism, they would be much better off with religion. Here is how she completes her argument:

Veneration of Jehovah brings vast historical sweep and a great literary work – The Bible – with it. Veneration of Foucault (who never admitted how much he borrowed from others – from Emile Durkheim to Erwin Goffman) traps the mind in simplistic, cynical formulas about social reality, applicable only to the past two and a half centuries of the post-Enlightenment. The highest level of intellect, conceptual analysis, and rigorous argumentation in the collected body of ancient Talmudic disputation and medieval Christian theology far exceeds anything in the slick, game-playing Foucault.

Postmodernism, including the poststructuralism which was rooted in the field of literary criticism, is one of the various threads of thought that weaves in and out of the eight categories of this book. Paglia threats the two terms as synonymous. In her essay ‘Scholars talk writing’ she describes the Yale she knew during the period as a graduate student there, from 1968 to 1972. It was a time when “French post-structuralism was flooding into Yale”. This is how she ends this same essay: “I’ve spent 25 years denouncing the bloated, pretentious prose spawned by post-structuralism. Enough said! Let the pigs roll in their own swirl”. In the essay ‘Free speech and the modern campus’ she describes the simultaneous rise of deconstruction and poststructuralism:

The deconstructionist trend started when J. Hillis Miller moved from Johns Hopkins University to Yale and then began bringing Jacques Derrida over from France for regular visits. The Derrida and Lacan fad was followed by the cult of Michael Foucault, who remains a deity in the humanities but whom I regard as a derivative game-player whose theories make no sense whatever about any period preceding the Enlightenment. The first time I witnessed a continental theorist discoursing with professors at a Yale event, I said in exasperation to a fellow student: ‘They’re like high priests murmuring to each other.’ It is absurd that elitist theoretical style, with its opaque and contorted jargon, was ever considered leftist, as it still is. Authentic leftism is populist, with a brutal directness of speech.

Poststructuralism or postmodernism was the major cause of the weakening of scholarship in the colleges and universities. In her aforementioned essay on Erich Newmann Paglia shows how important nature was in Newmann’s time and how things have changed.

The deletion of nature from academic gender studies has been disastrous. Sex and gender cannot be understood without some reference, however qualified, to biology, hormones, and animal instinct. And to erase nature from the humanities curriculum not only inhibits student’s appreciation of a tremendous amount of great, nature-inspired poetry and painting but also disables them even from being able to process the daily news in our uncertain world of devastating tsunamis and hurricanes.

As I started to read Camille Paglia’s Provocations I soon understood that the word ‘provocations’ is used in the sense of inciting thought. Although inciting thought is not the same as inciting rage, the first can lead to the second. Paglia has made some foes on her campus, who would like to see her pushed aside. History repeats itself when its past lessons are forgotten. During the trial of Socrates in 399 BCE, the philosopher told the Athenian people that although they saw him as a pesky ‘gadfly’, he was ‘a gadfly given to them by God,’ and one which will be difficult to replace.’ Paglia is the modern-day ‘gadfly’. She too will be difficult to replace.

                                                                                                                                               

Jo Pires-O’Brien is a Brazilian-Brit and the editor of PortVitoria.

Joaquina Pires-O’Brien

The building of a Brazilian national identity began with the country’s independence from Portugal in 1822. Since then, it has taken different forms that accompanied the evolution of Brazilian society throughout history. Among the various scholars who described the Brazilian national identity, Gilberto Freyre (1900-1987) is the most outstanding. Although he was only 33 years old when he published  Casa grande e senzala (The Masters and the Slaves)[1], this book remains unsurpassed as a comprehensive and penetrating analysis of Brazilian society, based on history, geography, literature, folklore, and art. The thesis Freyre developed in this book is that the Brazilian society was shaped around the sugar cane industry, where the Portuguese colonizers and the Brazilians – peasants, native Indians and black slaves –, maintained a peaceful relationship, and as a result of which, the Brazilian society emerged as a nation of mixed-blood population that evaded the scourge of racism.

Freyre was well acquainted with the two major literary movements of the twenty century in Brazil,  “Modernism”, which took off in São Paulo and Rio de Janeiro, and ‘Regionalism’, which was based in the Brazilian Northeast. He wrote:

These two movements will probably stand as the most significant in revolutionizing the letters and the life of Brazil in the direction of intellectual or cultural spontaneity, creativeness, and self-confidence set against the tradition of colonial subordination to Europe or the United States.[2]

About the Modernist movement, Freyre cites the writer Mario de Andrade (1893-1945), who had expressed regret that the movement “did not go far enough in developing its social implications”.[3] This note by Freyre is a testimony of his genius with which he distilled the essence of the Brazilian society. However, there are plenty of social implications in the character Macunaíma that Andrade introduced in an eponymous novel that appeared in 1928.

Macunaíma: the proverbial Brazilian scoundrel

Most critics recognizes Macunaíma, a character created by Mario de Andrade[4], as the proverbial Brazilian scoundrel. Macunaíma is the son of a native Indian woman, born black, with an adult body but a child’s mind, which would explain some of his vices. He is hyper-sexualised, lazy, glutton, and as if that wasn’t enough, a megalomaniac who believed he could manipulate monsters and deities, and control the universe.

As the novel unfolds, Macunaíma lived a simple life in his village near forest, but one day he heard about a big city called São Paulo, and decided that he wanted to go there. While he is toying with the idea of going to São Paulo, his mother dies. In grief, Macunaíma wanders inside the forest, when he discovers a magic fountain, bathes in it, and when he comes out of it he has become white. Macunaíma arrives in São Paulo as a white man, although his whiteness is not genuine, and he will be found out. His lover, a white guerrillera, gives birth to a black baby. When Macunaíma becomes homesick for his village he writes to the “Icamiabas”, the legendary Amazons. His letter is in a formal European Portuguese style, a strong contrast with the colloquial Brazilian Portuguese style of the novel itself, typical of the Realism style, of which Mario de Andrade was a pioneer. The formal style in Macunaíma’s letter is the symbol of his new persona as a respectable city dweller. It is also  a way the author devised mock Romanticism.

Macunaíma is described by his ethnicity and by his personality. He has all three races of Brazil, since he was born black, his mother was a native Indian, and by the force of destiny he became white. He is a hero without principles – um herói sem-caráter. There is an obvious cognitive dissonance in this description, since the idea of a hero implies having principles. Could it be that Macunaíma’s lack of principles resulted from his mixed-race condition?  Statistics shows that correlation is not necessarily causation, but the nineteen century scholars who were ignorant of statistics believed that the high level of interracial breeding in Brazil was creating a descent of undesirables.

The Anthropophagous Manifest

In 1928, the writer Oswald de Andrade (1890-1954), brother of the aforementioned Mário de Andrade, published his Anthropophagous Manifest (Manifesto antropófago), in poetic prose, proposing that Brazilians should ‘cannibalize’ the European cultural legacy, and digest it, in order to create an art that is typically Brazilian[5]. The example given is how Shakespeare’s phrase “To be or not to be” can become “Tupy or not Tupy”[6]. As others have pointed out, the Manifest’s objective was not to oppose European culture but to oppose the mind-set that only things that come from abroad are good. Brazilians should value its indigenous culture, and draw inspiration from it.

The metaphor of the cordial man

The ‘cordial man’ is a metaphor for the Brazilian personality or temperament, introduced by the Brazilian historian and sociologist Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), in his 1936 book Raízes do Brasil (Roots of Brasil)[7]. In this book, Buarque de Holanda traces the Brazilian mind-set to the time when Brazil was a colony of Portugal, when its social structure was unstable and the order precarious and the only thing that appeared as permanent and certain was the sugar industry of sugar. It was a time marked by many sources of conflicts, including the uncertainties regarding slavery, when patriarchy offered protection from the constant threat of violence. Colonial patriarchy is the root of the Brazilian patrimonialist State, where private interests trump the common good. Patriarchy continued to after Brazil gained its independence from Portugal, and even after the abolition of monarchy and the republic regime was introduced.

The metaphor of the cordial man created to depict the Brazilian mind-set is misleading, because the word ‘cordial’, which comes from the Latin cordis, meaning ‘of the heart’, has other meanings such as ‘amiable’ and ‘polite’, whilst Buarque de Holanda used ‘cordial’ in the strict sense. Thus, the metaphor of the cordial man depicts Brazilians as individuals fixated in delimiting friends and foes, and who use emotion rather than reason to separate the two. Although one could argue that the trumping of emotion over reason happens in every country in the world, there is a twist in the Brazilian fixation with ‘friends close to the chest’ (amigos do peito) and the others. This twist has to do with the peculiar way in which Brazilians define their circle of trust. The sentences below are examples I found in the internet:

 “So and so is very snobbish, for he remains working at his desk instead of having a coffee with us!”

“That individual is well qualified but is not fun to be with, he will never be promoted in the company.”

“My boss is so good, he treats me as if I was part of the family!”

“So and so got a promotion at the company, but he misses more than he works.”

“I can’t foresee any problems in him,  he is one of us .”

Judging from those examples above, one can infer that Brazilians have a very limited circle of trust.

The Friend of the Beast – O Amigo da Onça

The metaphor of the ‘cordial man’ points to the Brazilian fixation with ‘friends of the chest’ and his suspicion of all others. The typical ‘other’ could be described as the individual who would find pleasure in one’s misfortune, and who could very well be close by, posing as a friend. A popular cartoon character called ‘o amigo da onça[8] or ‘the friend of the beast’, that appeared in Brazil in the 1940s and lasted for many decades, is the best depiction of this ‘other’, and could very well be the cordial man’s alter ego.

 

Figure 1. Cartoon of the ‘friend of the beast’ and his ‘beast’ friend, a Brazilian jaguar (onça).

Although the Brazilian national identity is a work in progress, Sérgio Buarque de Holanda and the Andrade brothers pointed to the Brazilian self-doubt and lack of trust in the things that typify Brazilian-ness. When Buarque de Holanda created the metaphor of ‘the cordial man’ to depict the typical Brazilian, the concept of low trust and high trust societies was not yet described in sociology. Since then, the social scientists have shown that interpersonal trust is a key defining factor of society and that societies where people tend to trust each other (high trust societies) have stronger democracies, richer economies, better health, and less crime and corruption.

Brazilian national identity. A work in progress, stalled

The Brazilian national identity is a work in progress and this can be seen through the way it oscillates between excessive optimism and pessimism. An example of the excessive optimism is the depiction of Brazil as the country that is blessed by God or even the phrase ‘God is Brazilian’. Another example is how Brazilian-ness is described through the love of football, carnival, beach volleyball, etc., and Brazil through a litany of things in which it is the greatest in the world. Last but not least, Brazilian school children are taught that Santos Dumond, and not the brothers Orville and Wilbur Wright, invented the airplane.

But Brazilian identity also has phases of excessive pessimism and lack of confidence. During such phases, Brazilians hear in their head the murmur of a familiar phrase attributed to Charles de Gaulle: “Brésil n’est pas un pays sérieux” – “Brazil is not a serious country”.

One could say that the Brazilian identity is bipolar, and that this could be traced to the first sociological depictions of the country, some very unfavourable and some very favourable. A common concern of the nineteenth century sociologists and ethnographers was with miscegenation and what it could bring. A French diplomat called Joseph Arthur Gobineau (1816-1882), who spent one year in Brazil in 1869, believed that Brazil was condemned to perpetual misery and chaos due to its miscegenation. In the twenty century, the optimist account of Brazilian society by Gilberto Freyre showed the formative years of Brazil, including its racial miscegenation, under a positive light.

The polarization of Brazilian society in 2018

The year 2018 became marked as the year when Brazilian society became polarized between the political right and the political left. The reason this polarization happened now and not before is that it is only now that Brazil has a significant ‘right’, in the sense of conservatism, to oppose the ‘left’, in the sense of socialism[9].

The presidential election of 2018 was to have a candidate of the right[10] with a good chance of winning: Mr. Jair Messias Bolsonaro, of Partido Social Liberal (Liberal Social Party) or PSL. The candidate of the left with equal chances of winning was Mr. Fernando Haddad, of Partido dos Trabalhadores (Worker’s Party) or PT. The supporters of Bolsonaro and Haddad confronted each other on the streets, and smeared one another in social media[11], including with the use of derogatory words.

A derogatory name used for the ‘left-wingers’ supporters of PT was ‘petralha’, where  the prefix ‘pet’ is another way of saying ‘PT’, and the suffix ‘ralha’ comes from ‘Irmãos Metralha’, the Portuguese name for the infamous Disney characters Beagle Boys, who are known bandits. A derogatory name used for the ‘right-wingers’ was ‘coxinha’ (little drumstick), originally a chicken pasty on the shape of a drumstick, which came to designate the Brazilian petit bourgeois, or Brazilian of lower middle class. The new meaning from some students from the University of São Paulo who used the word to refer to the police officers called to solve conflicts on campus, who had the habit of eating ‘coxinha’ for lunch Just like the tea party in the United States was associated with the working class, the word ‘coxinha’ linked supporters of  Mr. Bolsonaro to the lower classes.

Conclusion

It is commonly recognised that national identity, but not nationalism, is beneficial to people for it gives meaning and a unifying sense of belonging. Just like happened with the other Western nations, Brazil began to build its national identity in the second half of the nineteenth century. It was well into the twenty century when the first positive Brazilian national identity appeared, in the works Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, and the Andrade brothers. The Brazilian national identity was still a work in progress when it was derailed by the sweeping idea of group identity politics.

It is a curious coincidence that 2018, a year that was marked by the left-right polarization of Brazilian society, also marked the 96th  anniversary of the publication of Mário de Andrade’s Macunaíma, and the 90th anniversary of  Oswald de Andrade’s paper ‘Manifesto antropófafo’, two poignant depictions of the  Brazilian mind-set, as well as the 78th anniversary of the publication of Sérgio Buarque de Holanda’s book The Cordial Man. In the 1920s and 1930s, when they described the Brazilian mind-set by its low regard for Brazilian-ness and the obsession with ‘friends close to the chest’ and ‘friends of the beast’, the concept of low trust and high trust societies was not yet described in sociology. Since then, the social scientists have shown that interpersonal trust is a key defining factor of society and that societies where people tend to trust each other (high trust societies) have stronger democracies, richer economies, better health, and less crime and corruption.

The left-right polarization of Brazilian society observed during the presidential election of 2018 is a split of world views that could be mended with dialogue. The observed polarization camouflages the more serious problem of identity politics groups, whose identity-based claims and reckoning of past mistakes prevent a unifying vision of society to come through.


Joaquina Pires-O’Brien is a Brazilian who lives in the UK, and the editor of the magazine PortVitoria, for speakers of Portuguese, Spanish and English.

Notes

[1] FREYRE, G. (1946). The Masters and the Slaves. New York, Alfred A Knopf, 1946. 537 pp+. First published 1933. Guttenberg.

[2] FREYRE, G. (1945). Brazil: An Interpretation. New York, Alfred A Knopf. 212p. Avail. Guttenberg. p. 176.

[3] Idem – p. 179.

[4] ANDRADE, M. (1928). Macunaíma. Edição Projeto Livro Alicia M. Dercole, São Paulo, 2016. 134 pp.

[5] ANDRADE, O. de Manifesto antropófafo e Manifesto da poesia pau-brasil. Revista de Antropofagia, Ano I, No. I, maio de 1928.

[6] Tupy. A reference to the Tupi language family, interrelated languages spoken by the indigenous peoples who lived along the coast of Brazil. It includes the Guarani language that is still spoken in Paraguay.

[7] BUARQUE DE HOLANDA, S. Raízes do Brazil. J. Rio de Janeiro, Olímpio Editora. 18ª ed., comemorativa do jubileu de ouro do livro. Open Library.

[8] It was created by Péricles de Andrade Maranhão (1924-1961), from Pernambuco, for the weekly magazine O Cruzeiro  and was so successful that even after the death of Maranhão it continued to be produced. According to Wikepedia, the editor of O Cruzeiro asked Maranhão to create a character inspired on the ‘Enemies of Man’ cartoons that appeared on the Esquire Magazine and on the character ‘El enemigo del Hombre’ created by Guillermo Divito for the Argentinian magazine Patoruzú. https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Amigo_da_On%C3%A7a. Maranhão died by suicide in 1961, on the last day of the year, when he shut himself I his home and turned on the gas. There are very little published material about him.  https://designices.com/o-amigo-da-onca-1943-1961-por-pericles/

[9] The reestablishment of the Brazilian right started in 1983 with the creation of Instituto Liberal (IL) by Donald Steward Jr., in Rio de Janeiro. Initially IL concentrated its efforts in the translation and publishing of books and pamphlets on liberalism, and eventually began to promote talks. One of IL most dedicated collaborator  was Professor Og Leme, who was on the staff until September 2003.  There are analogous IL in almost every capital of Brazil. Other similar institutes were created in Brazil, such as Instituto Mises Brasil, the Institutos de Formação de Líderes, the Instituto Millennium, the  Instituto Liberal do Nordeste, the Instituto Ordem Livre and the o Estudantes pela Liberdade, all of which being institutional partners of IL. Brazil has many conservative and classical liberal blogs. Among those which are not linked to a newspaper or magazine is the Direitas Já was launched in 2012 by Renan Felipe dos Santos and his friends, with many interesting and well researched postings covering the most important liberal thinkers and their ideas.

[10] The Brazilian right, or what is referred as right in Brazil, is conservatism or centrism, and not far-right in the sense of certain parties in Europe.

[11] The arrival of social media opened the way for the citizen journalist and opinion leaders. Many Brazilians were already users of Orkut, a social media owned and operated by Google, when Facebook was launched worldwide, in February 2004, For that reason, Brazilian took some time before embracing Facebook. Only after the closure of Orkut, in September 2014, Brazil’s participation in Facebook became significant. However, by 2018, Brazil had become the third largest user of Facebook, along with Indonesia, after India and the United States. Brazilians also become great users of Twitter, blogs and YouTube.

Read in English, Portuguese and Spanish

 

Desiderata (Desired Things) by Max Ehrmann, © 1927, is a well-known poem about the search for happiness in life.

 

ENGLISH

Desiderata (Things Wanted)

Max Ehrmann

 

Go placidly amid the noise and haste,

and remember what peace there may be in silence.

As far as possible without surrender

be on good terms with all persons.

Speak your truth quietly and clearly;

and listen to others, even the dull and the ignorant;

they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons,

they are vexations to the spirit.

If you compare yourself with others,

you may become vain and bitter;

for always there will be greater and lesser persons than yourself.

Enjoy your achievements as well as your plans.

Keep interested in your own career, however humble;

it is a real possession in the changing fortunes of time.

Exercise caution in your business affairs;

for the world is full of trickery.

But let this not blind you to what virtue there is;

many persons strive for high ideals;

and everywhere life is full of heroism.

Be yourself. Especially, do not feign affection.

Neither be cynical about love;

for in the face of all aridity and disenchantment

it is as perennial as the grass.

Take kindly the counsel of the years,

gracefully surrendering the things of youth.

Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.

But do not distress yourself with dark imaginings.

Many fears are born of fatigue and loneliness.

Beyond a wholesome discipline,

be gentle with yourself.

You are a child of the universe,

no less than the trees and the stars;

you have a right to be here.

And whether or not it is clear to you,

no doubt the universe is unfolding as it should.

Therefore, be at peace with God,

whatever you conceive Him to be,

and whatever your labors and aspirations,

in the noisy confusion of life keep peace with your soul.

With all its sham, drudgery, and broken dreams,

it is still a beautiful world.

Be cheerful.

Strive to be happy.

 

 

PORTUGUESE

Desiderata (Coisas Desejadas)

Max Ehrmann

Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa,

lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.

Tanto quanto possível, sem humilhar-se,

viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e claramente;

e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes,

eles também têm sua própria história.

Evite pessoas agressivas e transtornadas,

elas afligem o nosso espírito.

Se você se comparar com os outros,

você se tornará presunçoso e magoado;

pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você.

Viva intensamente o que já pôde realizar.

Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde;

ele é o que de real existe ao longo de todo o tempo.

Seja cauteloso nos negócios,

porque o mundo está cheio de astúcias.

… mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre;

muita gente luta por altos ideais,

e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.

Seja você mesmo. Principalmente, não simule afeição;

nem seja descrente do amor;

… porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto

ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos,

mas também seja compreensivo aos impulsos inovadores da juventude.

Alimente a força do espírito que o protegerá num infortúnio inesperado.

Mas não se desespere com perigos imaginários.

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma diciplina rigorosa,

seja gentil para consigo mesmo.

Você é filho do universo,

irmão das estrelas e árvores;

você merece estar aqui.

E mesmo se você não pode perceber,

a terra e o universo vão cumprindo com seu destino.

Portanto, esteja em paz com Deus,

como quer que você o conceba;

e quaisquer que sejam os seus trabalhos e aspirações,

na fatigante jornada pela vida,

mantenha-se em paz com sua própria alma.

Acima da falsidade, nos desencantos e agruras,

o mundo ainda é bonito.

Seja prudente.

Faça tudo para ser feliz.

 

SPANISH

 Desiderata (Cosas Deseadas)

Max Ehrmann

 Camina plácido entre el ruido y la prisa…

…y piensa en la paz que se puede encontrar en el silencio.

En cuanto sea posible y sin rendirte, manten buenas

relaciones con todas las personas.

Enuncia tu verdad de una manera serena y clara.

Escucha a los demás, incluso al torpe o el ignorante:

también ellos tienen su historia.

Evita las personas ruidosas y agresivas, ya que son un

fastidio para el espíritu.

Si te comparas con los demás, te volveras vano y

amargado, porque siempre habrá personas más grandes

y más pequeñas que tú.

Disfruta de tus exitos, lo mismo que de tus planes

Mantén el interés en tu propia carrera por humilde que

sea: ella es una verdadero tesoro

en el fortuito cambiar de los tiempos…

Sé cauto en tus negocios,

porque el mundo está lleno de engaños…

… mas no dejes que esto te vuelva ciego

para la virtud que existe.

Hay muchas personas que se esfuerzan por alcanzar

nobles ideales, la vida está llena de heroísmo.

Sé sincero contigo mismo. En especial no finjas el afecto y

no seas cinico en el amor..

…pues en medio de todas las arideces y desengaños es

perenne como la hierba.

Acata dosilmente el consejo de los años,

abandonando con donaire las cosas de la juventud.

Cultiva la firmeza del espiritu, para que te proteja en

las adversidades repentinas

muchos temores nacen de la fatiga y la soledad

Sobre una sana disciplina, sé benigno contigo mismo.

Tú eres una criatura del universo, no menos que las

plantas y las estrellas, tienes derecho a existir!

Y sea que te resulte claro o no, indudablemente el

universo marcha como debiera.

Por eso debes estar en paz con Dios, cualquiera que

sea tu idea de él.

Y sean cualesquieras tus trabajos y aspiraciones.

Conserva la paz con tu alma en la

bulliciosa confusión de la vida.

Aun con todas su farsa, penalidades y sueños fallidos,

el mundo es todavía hermoso!

Se cáuto.

Esfuérzate por ser feliz

***

Fernando R. Genovés

Raymond Aron (1905-1983) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) nascem em Paris (França) no mesmo ano, viveram uma existência longa e uma intensa atividade intelectual de notável interesse público. Mas aí acabam as principais similaridades entre os dois personagens. O quinquagésimo aniversário de Maio 1968, que ocorre neste ano de 2018, é uma excelente oportunidade para refletir sobre a discrição e a integridade moral, assim como sobre a lição de liberdade desdobrada por Aron, para confrontá-la com a praxis daqueles filósofos e escritores que, como Sartre, se embriagaram com a ideologia marxista totalitária e se tornaram viciados no ‘ópio dos intelectuais’.

Seguindo a linha argumentativa do historiador britânico Paul Johnson no livro Intelectuals: From Marx and Tolstoy to Sartre and Chomsky (Intelectuais: de Marx e Tolstói a Sartre e Chomsky), de 2007, tal foi a decadência e a deterioração do período em questão, que se torna aconselhável e deveras prudente, distinguir entre a seita dos modernos ‘sacerdotes, escribas e profetas’, tidos como padrões do ‘mundo da cultura’, e a seita dos ‘verdadeiros livre pensadores e aventureiros da mente’, aqueles que são conhecidos de maneira mais concisa e precisa como ‘homens de letras’.

Temos aqui um caso característico de vidas inicialmente paralelas que, num dado momento e devido a causas profundas, se separam, gerando dois modelos opostos de como entender a prática do saber e o compromisso político na época contemporânea. Depois de passarem pela prestigiada École Normale Supérieure, em Paris, durante a década de 1920, Aron e Sartre completam suas formações acadêmicas na Alemanha da década de 1930, com ambos alcançando elevados níveis de competência em suas respectivas áreas. De fato, pouco depois eles se distanciam um do outro e tomam caminhos de direção oposta, reencontrando-se, fugazmente, muitos anos depois.

 

André Glucksmann e Jean Paul Sartre no Palácio Eliseu em 26 de junho de 1979. Atrás de Sartre, à direita, Raymond Aron.

Recordemo-nos da imagem em que um jovem André Glucksmann os reúne no Palácio Eliseu em 26 de junho de 1979, como parte de uma delegação de intelectuais franceses que reivindicavam ao Presidente da República que desse o reconhecimento e o apoio do governo aos boat people, os vietnamitas que haviam fugido em desespero do comunismo, depois da saída dos americanos da zona de guerra – uma retirada forçada que foi em grande parte causada pela pressão da opinião pública, e divulgada como uma bandeira emblemática do ‘espírito de maio de 68’.

Os dois personagens têm então a mesma idade venerável. Aron, de terno e gravata, sorri e exibe uma boa condição física. Sartre, apoiado em Glucksmann, vestido informalmente com uma camisa polo e um capote de malha, mostra-se circunspecto. Enquanto o primeiro encontra-se no seu lugar, cumprindo a missão à qual se dedicou em toda a sua vida, de defender a liberdade e denunciar qualquer tipo de totalitarismo, o segundo, oscilando-se entre Flaubert e os maoistas, incluindo cogitação sobre ser da existência e o nada do marxismo revolucionário, mostra-se deslocado, fora de seu lugar. Ao velho intelectual da revolução restam apenas alguns meses de vida. Talvez tivesse cumprido ali um ato de contrição formal e final, sempre de frente para os espectadores. Tarde demais. Aron, ao contrário, atende ao evento em um gesto de confirmação, de ratificação de sua fé na luta pela justiça e pela sociedade livre, e contra a tirania; discretamente, mas permanentemente, como era o seu costume. A foto que imortalizou a cena conserva todo o seu simbolismo: Sartre situa-se na frente e é o centro das atenções; Aron fica atrás, quase que encoberto por Sartre, mas seguro de si e digno, sem fingir protagonismos, e sem buscar espaço por um eventual empurrão ou acotovelamento a fim de sair na foto.

Aron e Sartre: dois personagens célebres e celebrados. No entanto, quão diferentes são as suas personalidades! Ambas as existências são grandiosas e florescentes, mas de modo algum são experiências comparáveis em termos de efeitos e reflexões; de alguma forma, são duas vidas exemplares, pelo menos em termos de mesmo sentido e valor. De fato, ambos mostram as duas faces do sábio, a do intelectual, e a do ‘homem de letras’; afinal, oferecem modelos diferentes e até antagônicos de como conceber a relação entre a busca do conhecimento e a ação política, as atitudes respectivas do pensador e do cidadão.

Podemos dizer assim: Sartre, sem entender completamente a política, entra na política, vocifera e desvaria. Ele se importa mais do que tudo em ser e se fazer notado, e em sentir-se protegido pelo grupo e pela seita devota. Ele adora sentir-se reverenciado pela multidão e por um exército de admiradores incondicionais. Quem diria isso do ‘papa’ do existencialismo, que em seus livros abominava qualquer indicação e sinal de referência, e que afirmava que o homem está completamente só na existência!

Aron, por outro lado, dedica a sua energia intelectual, que é intensa, a estudar e buscar compreender não apenas a natureza e a relevância da esfera política, mas também a sua repercussão e as suas consequências. Ele não se mete em política, mas entra na matéria política, gerando uma extensa obra. A título de exemplo, eis aqui alguns de seus títulos: L’Homme contre les tyrans (O homem contra os tiranos; 1944), Démocratie et totalitarisme (Democracia e totalitarismo;), D’une sainte famille à l’autre. Essai sur le marxisme imaginaire (De uma santa família à outra. Ensaios sobre marxismos imaginários; 1969), Études politiques (Estudos políticos; 1972). Analisando o significado da paz e da guerra, publica Penser la guerra: Clausewitz (Pensar a guerra: Clausewitz; 1976), Les Guerres en Chaine (As guerras em cadeia; 1951), Paix et guerre between les nations (Paz e guerra entre as nações;1962). Refletindo sobre o papel das elites intelectuais no destino das sociedades livres, como um tema recorrente, ele escreve L’Opium des intellectuels (O ópio dos intelectuais; 1955). Sobre maio de 68, vale destacar o seu livro Réflexions sur la révolution de mai 1968 (Reflexões sobre a revolução de maio de 1968).

Discípulo fiel do sociólogo alemão Max Weber, Aron entende que o cientista e o homem de ação, assim como a ética dos princípios e a ética da responsabilidade, não constituem parelhas próximas, mas tendem a se encontrar no horizonte da experiência. Na sua bem conhecida introdução aos não menos favoráveis ensaios de Weber, La ciencia como vocación e La política como vocación (A ciência como vocação e A política como vocação), o pensador francês de ascendência judaica escreve o seguinte:

A reciprocidade entre conhecimento e ação é imanente à própria existência do homem histórico, e não ao historiador. Max Weber proibia que o professor, dentro da universidade, tomasse partido nas brigas de fórum, mas não podia deixar de considerar a ação, pelo menos a ação mediante a caneta ou a palavra, como último objetivo de seu trabalho.

O cenário que compõe os centros de ensino, a mídia, e, em geral, os espaços culturais formadores de opinião, é uma área muito sensível e vulnerável para tomar partidos e adquirir hegemonia. Acontece que a propaganda totalitária e liberticida tomou-a como um objetivo privilegiado de dominação e expansão, algo como um laboratório e um campo de testes de engenharia social, posteriormente aplicável a toda a sociedade.

Neste cenário decide-se, em grande medida, o destino do pensamento livre e a sua sobrevivência. Ali se formam e se projetam as elites que inspiram e lideram a ação social (e também os movimentos revolucionários, as tendências e as modas ideológicas), e ali é necessário que a esfera da liberdade sobreviva. Bem, Raymond Aron, longe do trabalho de proselitismo praticado por muitos de seus colegas de profissão, foi um resistente e um sobrevivente, um homem de ação, um combatente da liberdade, que tinha de lidar, quase sempre, com a solidão intelectual e pessoal, na querela contra a seita todo-poderosa dos ‘filotirânicos’ (neologismo criado por Mark Lilla) agentes do totalitarismo, como Jean-Paul Sartre. Aron sabia que nas democracias, devido à sua natureza de sociedade aberta e seu regime de opinião pública, o impacto esmagador do ‘progressismo’ dogmático era demolidor e muito difícil de ser combatido apenas com o rigor do pensamento e a honradez intelectual.

O grande perigo que envolve os homens da ciência metidos em política, o ópio dos intelectuais, como explicou Max Weber, é, acima de tudo, a vaidade. Os espaços acadêmicos e científicos, diz o sociólogo alemão, cultivam esse tipo de doença ocupacional, que, apesar de desagradável e dolorosa para quem a sofre diretamente, é ‘relativamente inócua’. No entanto, quando eles saem desses templos e invadem a arena política, ‘a necessidade de aparecer sempre em primeiro plano’ desperta os dois grandes vícios dos políticos e de seus companheiros de jornada: a ausência de finalidades objetivas e a falta de responsabilidade.

O desvio e a pomposa irresponsabilidade moral e intelectual que Weber descreveu, e que tanto incomodou a Aron, são hoje um problema globalmente perceptível. Em todo o mundo, o ópio dos intelectuais leva muitos professores e cientistas a presidirem altos comissariados, a se juntarem a ‘comitês de peritos e acadêmicos’, aos mais diversos conselhos de pesquisa e de Estado, onde lisonjeiam os poderosos, justificando pela palavra oral e escrita o injustificável, colaborando com a mídia progressista e compartilhando os seus objetivos, ardendo-se com o desejo de ser ouvido, e dessa maneira, poder influenciar; colocando de outro modo, participar do poder, porque não é de outra maneira que eles entendem a ‘democracia participativa’.

Cinquenta anos depois de maio de 68, Jean-Paul Sartre continuará aparecendo na mídia como o símbolo, o santo e o emblema do intelectual ‘engajado’. Raymond Aron, no entanto, permanecerá, como sempre, num segundo plano, senão no esquecimento.
***
Nota do autor. Este ensaio é uma versão atualizada e ampliada de Raymond Aron y el opio de los intelectuales, publicado no jornal Libertad Digital em 17 de março de 2005.

Nota
Tradutora: J Pires-O`Brien (UK)
Revisora: D Finamore (Br)

Biografia

Bob Dylan nasceu Robert Allen Zimmerman, em 24 de maio de 1941 em Duluth, Minnesota, trocando de nome quando começou a gravar. Muito antes de Robert Zimmerman virar Bob Dylan ele já havia impressionado as pessoas a seu redor com a sua criatividade e ambição musical. Começou a escrever poesias quando tinha apenas dez anos e aprendeu sozinho a tocar violão e piano. Em 1959 ele matriculou-se na Universidade de Minnesota onde ele começou a ouvir os pioneiros da música folk e do roque como Hank Williams, Robert Johnson e Woody Guthrie, ao invés de aplicar-se ao estudo. Foi nessa época que ele aprendeu a tocar harmônica, começou a tocar nos cafés da cidade e adotou o nome de Bob Dylan. Não é sabido ao certo de onde ele tirou o nome ‘Dylan’, mas é presumido que foi do poeta galês Dylan Thomas.

No ano seguinte Bob Dylan deixou os estudos e foi para New York com a ambição de firmar-se no cenário artístico musical da Greenwich Village e conhecer o seu ídolo, Woody Guthrie. O sucesso chegou em 1961 através de um contrato de gravação com a Columbia Records. O seu primeiro álbum chamava-se simplesmente ‘Bob Dylan’ e continha músicas músicas folk tradicionais ao inv[es de suas próprias composições. Essas apareceram no seu segundo álbum, com o qual Dylan firmou-se no cenário muical. Dylan começou a tocar em cafés e a despertar a curiosidade de outros artistas. Foi nessa época que ele compôs as músicas que viraram lendas na década de sessenta. Foi no seu próximo álbum, ‘Free Wheelin Bob Dylan’, onde ele gravou as suas músicas mais famosas como ‘A hard rains a-gonna fall’, ‘Don’t think twice, it’s all right’ e ‘Blowin in the wind’.

O próximo álbum de Dylan, intitulado ‘The Times They Are A-Changin’, caracterizou-se pelas músicas de protesto. Foi nessa época que Bob Dylan fez amizade com Joan Baez. Esta começou a cantar músicas inéditas de Dylan e Dylan começou a aparecer nos seus concertos. A imagem de Dylan cantando e tocando guitarra acústica e harmônica ficou marcada nas mentes de seus admiradores. Entretanto, Dylan eventualmente cansou-se de ser categorizado pelas músicas folk de protesto e assumiu o estilo rock , nos seus próximos dois álbuns, ‘Restless Farwell’ e ‘Another Side of Bob Dylan’. Apesar dos protestos de seus fans, Dylan continuou a sua evolução musical, embora sem abandonar de todo o estilo folk.

Quando em 2011 Dylan completou 70 anos de idade o jornal britânico The Independent publicou um artigo intitulado ‘70 reasons why Bob Dylan is the most important figure in pop-culture culture’ (70 motivos pelos quais Bob Dylan é considerado uma das mais importantes figuras da história da cultura pop). E, em 2016, quando completou 75 anos, Dylan foi agraciado com o Nobel de Literatura. Precisa dizer mais?

Principais prêmios recebidos:

Durante a sua carreira musical Bob Dylan ganhou um Oscar (2001, por uma música) e 10 Grammys.

Em maio de 2012, Bob Dylan recebeu do Presidente Barack Obama a Medal of Freedom, a maior condecoração civil dos Estados Unidos.

Em maio de 2013, Bob Dylan recebeu a medalha da Legion d’honneur, do governo francês.

Em 13 de outubro de 2016, Bob Dylan recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro liricista a receber essa honraria.


Letras de músicas de Bob Dylan (com versões em português)

Blowing in the wind

Bob Dylan

How many roads must a man walk down

Before you can call him a man?

Yes and how many seas must a white dove sail

Before she sleeps in the sand?

Yes and how many times must cannonballs fly

Before they’re forever banned?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

 

Yes, how many years must a mountain exist

Before it is washed to the sea

Yes and how many years can some people exist

Before they’re allowed to be free?

Yes and how many times must a man turn his head

And pretend that he just doesn’t see?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

 

Yes, how many times must a man look up

Before he can really see the sky?

Yes and how many ears must one man have

Before he can hear people cry?

Yes and how many deaths will it take till he knows

That too many people have died?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

 

Quantas estradas um homem precisará andar

Bob Dylan

Antes que possam chamá-lo de homem?

Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar

Antes que ela possa dormir na areia?

Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar

Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantos anos uma montanha pode existir

Antes que ela seja dissolvida pelo mar?

Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir

Até que sejam permitidas a serem livres?

Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça

E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima

Antes que ele possa ver o céu?

Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter

Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?

Sim, e quantas mortes ele causará até saber

Que pessoas demais morreram

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento?

(Traduzida por Flavius)

 

The times they are changing

Bob Dylan

Come gather ’round people

Wherever you roam

And admit that the waters

Around you have grown

And accept it that soon

You’ll be drenched to the bone

If your time to you

Is worth savin’

Then you better start swimmin’

Or you’ll sink like a stone

For the times they are a-changin’

 

Come writers and critics

Who prophesize with your pen

And keep your eyes wide

The chance won’t come again

And don’t speak too soon

For the wheel’s still in spin

And there’s no tellin’ who

That it’s namin’

For the loser now

Will be later to win

For the times they are a-changin’

 

Come senators, congressmen

Please heed the call

Don’t stand in the doorway

Don’t block up the hall

For he that gets hurt

Will be he who has stalled

There’s a battle outside

And it is ragin’

It’ll soon shake your windows

And rattle your walls

For the times they are a-changin’

 

Come mothers and fathers

Throughout the land

And don’t criticize

What you can’t understand

Your sons and your daughters

Are beyond your command

Your old road is

Rapidly agin’

Please get out of the new one

If you can’t lend your hand

For the times they are a-changin’

 

The line it is drawn

The curse it is cast

The slow one now

Will later be fast

As the present now

Will later be past

The order is

Rapidly fadin’

And the first one now

Will later be last

For the times they are a-changin’

 

Os Tempos Estão Mudando

Bob Dylan

Vamos reunir as pessoas ao redor

Por onde quer que andem

E admitam que as águas

Á sua volta estão subindo

E aceitem que logo

Vocês estarão cobertos até os ossos.

Se seu tempo para você

Vale a pena ser poupado

Então é melhor começar a nadar

Ou irá se afundar como uma pedra

Pois os tempos estão mudando

Venham escritores e críticos

Aqueles que profetizam com suas canetas

E mantenham seus olhos abertos

A chance não virá novamente

E não falem tão cedo

Pois a roda ainda está girando

E não há como dizer

Quem será nomeado

Pois o perdedor de agora

Mais tarde vencerá

Pois os tempos estão mudando

Venham senadores, congressistas

Por favor escutem o chamado

Não fiquem parados no vão da porta

Não congestionem o corredor

Pois aquele que se machuca

Será aquele que nos impediu

Há uma batalha lá fora

E está rugindo

E logo irá balançar suas janelas

E fazer ruir suas paredes

Pois os tempos estão mudando

Venham mães e pais

De toda os lugares…

E não critiquem

O que vocês não podem entender…

Seus filhos e filhas

Estão além de seu comando

Seu velho caminho

Está rapidamente envelhecendo

Por favor saiam da frente

Se não puderem dar uma mãozinha

Pois os tempos estão mudando

A linha está traçada

A maldição está lançada…

E o mais lento agora

Será o rápido mais tarde…

Assim como o presente de agora

Será mais tarde o passado…..

A ordem está

Rapidamente se esvaindo

E o primeiro agora

Será o último depois….

Pois os tempos estão mudando

(Traduzida por Flavius)

 

Mr Tambourine man

Bob Dylan

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

I’m not sleepy and there is no place I’m going to

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

In the jingle jangle morning I’ll come followin’ you

 

Though I know that evenin’s empire has returned into sand

Vanished from my hand

Left me blindly here to stand but still not sleeping

My weariness amazes me, I’m branded on my feet

I have no one to meet

And the ancient empty street’s too dead for dreaming

 

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

I’m not sleepy and there is no place I’m going to

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

In the jingle jangle morning I’ll come followin’ you

 

Take me on a trip upon your magic swirlin’ ship

My senses have been stripped, my hands can’t feel to grip

My toes too numb to step

Wait only for my boot heels to be wanderin’

I’m ready to go anywhere, I’m ready for to fade

Into my own parade, cast your dancing spell my way

I promise to go under it

 

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

I’m not sleepy and there is no place I’m going to

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

In the jingle jangle morning I’ll come followin’ you

 

Though you might hear laughin’, spinnin’, swingin’ madly across the sun

It’s not aimed at anyone, it’s just escapin’ on the run

And but for the sky there are no fences facin’

And if you hear vague traces of skippin’ reels of rhyme

To your tambourine in time, it’s just a ragged clown behind

I wouldn’t pay it any mind

It’s just a shadow you’re seein’ that he’s chasing

 

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

I’m not sleepy and there is no place I’m going to

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

In the jingle jangle morning I’ll come followin’ you

 

Then take me disappearin’ through the smoke rings of my mind

Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves

The haunted, frightened trees, out to the windy beach

Far from the twisted reach of crazy sorrow

Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand waving free

Silhouetted by the sea, circled by the circus sands

With all memory and fate driven deep beneath the waves

Let me forget about today until tomorrow

 

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

I’m not sleepy and there is no place I’m going to

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me

In the jingle jangle morning I’ll come followin’ you

Senhor Tocador de Tamborim

 

Senhor Tocador de Tamborim

Bob Dylan

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Não estou com sono e não há lugar onde eu possa ir

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Na aguda manhã desafinada eu o seguirei

Embora eu saiba que todo império retornou ao pó

Varrido de minha mão

Deixando-me cegamente aqui parado, mas ainda não dormindo.

Meu cansaço me espanta, estou plantado por meus pés

Não tenho quem encontrar

E a velha rua vazia está muito morta para sonhar

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Não estou com sono e não há lugar onde eu possa ir

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Na aguda manhã desafinada eu o seguirei

Leve-me a uma viagem em sua mágica nave ressoante

Meus sentidos foram arrancados, minhas mãos não podem segurar

Meus pés estão muito dormentes para pisar,

esperando apenas minhas botas

Para perambular

Estou pronto para ir a qualquer lugar, estou pronto para desaparecer

Em minha própria parada, moldando sua dança a meu caminho,

Eu prometo segui-la

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Não estou com sono e não há lugar onde eu possa ir

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Na aguda manhã desafinada eu o seguirei

Embora você possa ouvir-me rindo, girando,

dançando loucamente através do sol

Não está vendo ninguém, está só fugindo correndo

Pois no céu não há cercas revestidas

E se você ouvir traços vagos de rimas enroladas

Para o seu tamborim no momento, é apenas um rude palhaço atrás

Eu não lhe pagaria mente alguma, é apenas a sua sombra

Visto que está lhe perseguindo

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Não estou com sono e não há lugar onde eu possa ir

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Na aguda manhã desafinada eu o seguirei

Então me faça desaparecer através dos anéis de fogo de minha mente

Abaixo das ruínas nebulosas do tempo,

passando ao longe das folhas congeladas.

O assombro, árvores assustadoras, para fora da praia ventosa

Longe do alcance distorcido da tristeza insana

Sim, para dançar sob o céu de diamantes com uma mão acenando livremente

Em silhueta para o mar, circulado por areias circulares

Com toda a memória e destino navegando profundamente abaixo das ondas

Deixe-me esquecer do hoje até amanhã

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Não estou com sono e não há lugar onde eu possa ir

Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim

Na aguda manhã desafinada eu o seguirei.

(Traduzida por Flavius)

Don’t think twice, it’s all right

Bob Dylan

It ain’t no use to sit and wonder why, babe

If you don’t know by now

An’ it ain’t no use to sit and wonder why, babe

It’ll never do somehow

When your rooster crows at the break of dawn

Look out your window and I’ll be gone

You’re the reason I’m trav’lin’ on

But don’t think twice, it’s all right

 

It ain’t no use in turnin’ on your light, babe

That light I never knowed

An’ it ain’t no use in turnin’ on your light, babe

I’m on the dark side of the road.

But I wish there was somethin’ you would do or say

To try and make me change my mind and stay

But we never did too much talkin’ anyway

But don’t think twice, it’s all right.

 

So it ain’t no use in callin’ out my name, gal

Like you never done before

It ain’t no use in callin’ out my name, gal

I can’t hear you anymore

I’m a-thinkin’ and a-wond’rin’ walking down the road

I once loved a woman, a child I’m told

I give her my heart but she wanted my soul

But don’t think twice, it’s all right.

 

So long, honey bee

Where I’m bound, I can’t tell

But goodbye’s too good a word, babe

So I’ll just say fare thee well

I ain’t sayin’ you treated me unkind

You could have done better but I don’t mind

You just kinda wasted my precious time

But don’t think twice, it’s all right

Não Pense Duas Vezes, Está Tudo Bem

Bob Dylan

Bem, não adianta sentar e se perguntar por quê, querida

Se você não sabe até agora

E não adianta sentar e se perguntar por quê, querida

De qualquer jeito, não dará em nada.

Quando o seu galo cantar ao nascer do dia

Olhe pela sua janela e eu terei ido

Você é a razão por eu estar indo embora

Mas não pense duas vezes, está tudo bem

E não adianta acender sua luz, amor

A luz que eu nunca conheci

E não adianta acender sua luz, amor

Estou do lado escuro da estrada

Mas eu gostaria que houvesse algo que você pudesse

fazer ou dizer

Que pudesse me fazer mudar de ideia e ficar

Mas de qualquer jeito, nunca fomos de muita conversa

Então não pense duas vezes, está tudo bem

Não adianta chamar meu nome, garota

Como você nunca fez antes

Não adianta chamar meu nome, garota

Não consigo mais te ouvir

Estou pensando e imaginando, andando pela estrada

Eu amava uma mulher; uma criança, me dizem.

Eu lhe dei o meu coração mas ela queria minha alma

Mas não pense duas vezes, está tudo bem

Até mais, querida

Aonde vou, não sei dizer

Mas “adeus” é uma palavra boa demais, querida

Então direi apenas “passar bem”

Não estou dizendo que você me tratou mal

Você poderia ter feito melhor mas não me importo

Você apenas me fez perder o meu precioso tempo

Mas não pense duas vezes, está tudo bem

(Traduzida por Flavius)

 

Fontes: http://www.angelfire.com/on/dylan/bio.html & https://www.letras.mus.br/

 Citação:

Pires-O’Brien, J., compiladora. Bob Dylan (1941 – ). PortVitoria, Beccles, UK, v.14, Jan-Jun, 2017. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com

 

wislawaszymborska_newbioimageEsta edição de PortVitoria está dedicada à poeta polonesa Wisława Szymborska, cujas poesias retratam a universalidade humana contra o contexto social e político da Polônia a partir da Segunda Guerra. O extrato abaixo sobr Szymborska foi tirado de diversos sítios da internet.

Szymborska nasceu em Pozman, na Polônia em 2 de julho de 1923, mas em 1931 a sua família mudou-se para Cracóvia, onde, de 1945 a 1948, ela estudou literatura polonesa e sociologia na Universidade Jagellonian. Enquanto era aluna desta universidade, ela envolveu-se com o meio literário de Cracóvia, onde conheceu o poeta e escritor polonês de origem Lituânia Czeslaw Milosz, cuja obra poética sobre os horrores da Segunda Guerra lhe serviu de inspiração. Em 1945, Szymborska publicou o seu primeiro poema, “Szukam slowa” (I Seek the World; Eu Vejo o Mundo), no jornal Dziennik Polski. Ela completou a sua primeira coletânea de poemas três anos depois, mas o governo pós-guerra da Polônia impediu a sua publicação, alegando que suas poesias não contribuíam para a agenda comunista. Szymborska mudou o tom de suas poesias para refletir o apoio ao Estado socialista e assim conseguiu publicar o seu primeiro livro de poesias intitulado Dlagtego Zyjemy (That’s What We Live For; É para isso que vivemos) em 1952. Em 1953 ela foi trabalhar na revista de crítica literária Życie Literackie (Vida Literária), na qual permaneceu durante quase três décadas. Szymborska escrevia poesias, ensaios, e resenhas, e também traduzia.

Szymborska publicou cerca de quinze livros de poesia, e diversas coleções de suas poesias foram traduzidos para o inglês, espanhol, português e outras línguas. Ela também publicou um livro em prosa, intitulado Nonrequired Reading (Leitura não-obrigatória), publicado pela editora Harcourt, em 2002.

Embora uma das características da poesia de Szymborska seja o fato de ela ter abordado fatos históricos da Polônia desde a Segunda Guerra Mundial, ela negava que suas poesias eram políticas, pois mostravam no primeiro plano as pessoas e suas preocupações ordinárias. Na introdução do seu livro Miracle Fair (Feira de milagres) Czeslaw Milosz apontou o paralelo ente as poesias austeras de Szymborska e a visão desesperadora de Samuel Beckett e Philip Larkin, completando que, contrariamente a estes, Szymborska oferece um mundo onde é possível respirar.

Em 1996, Szymborska ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, pelo fato de “sua poesia conter uma precisão irônica capaz de permitir que contextos históricos e biológicos ganhem a luz através de fragmentos da realidade humana”. Seus outros prêmios incluem o prêmio do Pen Club polonês, um título de Doutor Honoris Causa da Universidade Adam Mickiewicz, o Prêmio Herder e o Prêmio Goethe.

Numa entrevista que Szymborska concedeu ao The Washington Post em 1998, ela disse que “Durante o período da opressão, era um dever do poeta falar pela nação”. Numa outra entrevista que ela concedeu ao Los Angeles Times, ela disse que as suas ações fizeram sentido no clima político da época e na esperança que muitos europeus ocidentais tinham no comunismo. “Agora as pessoas não entendem a situação naquela época,” disse ela. “Eu realmente queria salvar a humanidade, mas eu escolhi a pior maneira possível. Eu fiz pelo amor à humanidade. Foi então que eu entendi que a gente não deve amar a humanidade, mas sim amar pessoas… Isso foi uma dura lição para mim. Foi um erro da minha juventude. Foi cometido de boa fé, e, infelizmente, muitos poetas fizeram a mesma coisa. Eles mais tarde seriam mandados para a prisão por terem mudado suas ideologias. Eu afortunadamente fui poupada de tal destino, pois eu nunca tive a natureza de um verdadeiro ativista político.”

Szymborska é extremamente popular em sítios da internet e a sua popularidade é atribuída à agudeza e ironia de suas poesias, que examinam pormenores domésticos ou situações ordinárias. É com enorme prazer que apresentamos duas poesias de Szymborska: O Fim e o Princípio e Amor à Primeira Vista, traduzidas para o português, o espanhol e o inglês.

PORTUGUÊS

O FIM E O PRINCÍPIO
Depois de cada guerra
alguém tem de fazer a limpeza.
As coisas não se limpam
a si próprias, afinal.

Alguém tem de afastar os escombros
Para a berma da estradas,
Para que as carroças com os cadáveres
Possam passar.

Alguém tem de meter-se
por entre a lama e as cinzas
por entre as molas dos sofás
por entre os vidros partidos
por entre os farrapos ensanguentados.

Alguém tem de arrastar a trave
Que escorará a parede,
Alguém tem de por o vidro na janela
E colocar a porta nos gonzos.

Nada disto é digno de ser fotografado
E demora anos.
As máquinas fotográficas partiram já
Para outras guerras.

As pontes têm de ser reconstruídas
E as estações ferroviárias também.
As mangas das camisas ficarão rotas
De tanto serem arregaçadas.
Alguém, vassoura na mão,
Se lembra ainda de como foi.

Outro alguém escuta, acenando que sim
Com a cabeça
Mas já outros, ali perto
Acham tudo aquilo um pouco maçador.
De vez em quando alguém
Desenterra ainda numa moita
Um velho argumento enferrujado
E lança-o na lixeira.

Os que sabem
o porquê e o como
vão ceder lugar
aos que pouco sabem.
E aos que sabem menos ainda.
E por fim mesmo nada.

E na erva que vai crescer
Sobre as causas e os efeitos
Alguém deverá deitar-se
de espiga nos dentes
olhando as nuvens

ESPANHOL

FIN Y PRINCIPIO
Después de cada guerra
alguien tiene que limpiar.
No se van a ordenar solas las cosas,
digo yo.

Alguien debe echar los escombros
a la cuneta
para que puedan pasar
los carros llenos de cadáveres.

Alguien debe meterse
entre el barro, las cenizas,
los muelles de los sofás,
las astillas de cristal
y los trapos sangrientos.

Alguien tiene que arrastrar una viga
para apuntalar un muro,
alguien poner un vidrio en la ventana
y la puerta en sus goznes.

Eso de fotogénico tiene poco
y requiere años.
Todas las cámaras se han ido ya
a otra guerra.

A reconstruir puentes
y estaciones de nuevo.
Las mangas quedarán hechas jirones
de tanto arremangarse.

Alguien con la escoba en las manos
recordará todavía cómo fue.
Alguien escuchará
asintiendo con la cabeza en su sitio.
Pero a su alrededor
empezará a haber algunos
a quienes les aburra.

Todavía habrá quien a veces
encuentre entre hierbajos
argumentos mordidos por la herrumbre,
y los lleve al montón de la basura.

Aquellos que sabían
de qué iba aquí la cosa
tendrán que dejar su lugar
a los que saben poco.
Y menos que poco.
E incluso prácticamente nada.

En la hierba que cubra
causas y consecuencias
seguro que habrá alguien tumbado,
con una espiga entre los dientes,
mirando las nubes.

De “Fin y principio” 1993 Versión de Abel A. Murcia

INGLÊS

THE END AND THE BEGINNING
After every war
someone has to clean up.
Things won’t
straighten themselves up, after all.

Someone has to push the rubble
to the sides of the road,
so the corpse-laden wagons
can pass.

Someone has to get mired
in scum and ashes,
sofa springs,
splintered glass,
and bloody rags.

Someone must drag in a girder
to prop up a wall.
Someone must glaze a window,
rehang a door.

Photogenic it’s not,
and takes years.
All the cameras have left
for another war.

Again we’ll need bridges
and new railway stations.
Sleeves will go ragged
from rolling them up.

Someone, broom in hand,
still recalls how it was.
Someone listens
and nods with unsevered head.
Yet others milling about
already find it dull.

From behind the bush
sometimes someone still unearths
rust-eaten arguments
and carries them to the garbage pile.

Those who knew
what was going on here
must give way to
those who know little.
And less than little.
And finally as little as nothing.

In the grass which has overgrown
causes and effects,
someone must be stretched out,
blade of grass in his mouth,
gazing at the clouds.

Translated from the Polish by Joanna Trzeciak

 

PORTUGUÊS

AMOR À PRIMERA VISTA
Ambos estão certos
de que uma paixão súbita os uniu.
É bela essa certeza,
mas é ainda mais bela a incerteza.

Acham que por não terem se encontrado antes
nunca havia se passado nada entre eles.
Mas e as ruas, escadas, corredores
nos quais há muito talvez se tenham cruzado?

Queria lhes perguntar,
se não se lembram –
numa porta giratória talvez
algum dia face a face?
um “desculpe” em meio à multidão?
uma voz que diz “é engano” ao telefone?
– mas conheço a resposta.
Não, não se lembram.

Muito os espantaria saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.

Ainda não de todo preparado
para se transformar no seu destino
juntava-os e os separava
barrava-lhes o caminho
e abafando o riso
sumia de cena.

Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Quem sabe três anos atrás
ou terça-feira passada
uma certa folhinha voou
de um ombro ao outro?
Algo foi perdido e recolhido.
Quem sabe se não foi uma bola
nos arbustos da infância?

Houve maçanetas e campainhas
onde a seu tempo
um toque se sobrepunha ao outro.
As malas lado a lado no bagageiro.
Quem sabe numa noite o mesmo sonho
que logo ao despertar se esvaneceu.

Porque afinal cada começo
é só continuação
e o livro dos eventos
está sempre aberto no meio.

Tradução Regina Przybycien

ESPANHOL

AMOR A PRIMERA VISTA
Ambos están convencidos
de que los ha unido un sentimiento repentino.
Es hermosa esa seguridad,
pero la inseguridad es más hermosa.

Imaginan que como antes no se conocían
no había sucedido nada entre ellos.
Pero ¿qué decir de las calles, las escaleras, los pasillos
en los que hace tiempo podrían haberse cruzado?

Me gustaría preguntarles
si no recuerdan
-quizá un encuentro frente a frente
alguna vez en una puerta giratoria,
o algún “lo siento”
o el sonido de “se ha equivocado” en el teléfono-,
pero conozco su respuesta.
No recuerdan.

Se sorprenderían
de saber que ya hace mucho tiempo
que la casualidad juega con ellos,
una casualidad no del todo preparada
para convertirse en su destino,
que los acercaba y alejaba,
que se interponía en su camino
y que conteniendo la risa
se apartaba a un lado.

Hubo signos, señales,
pero qué hacer si no eran comprensibles.
¿No habrá revoloteado
una hoja de un hombro a otro
hace tres años
o incluso el último martes?

Hubo algo perdido y encontrado.
Quién sabe si alguna pelota
en los matorrales de la infancia.

Hubo picaportes y timbres
en los que un tacto
se sobrepuso a otro tacto.
Maletas, una junto a otra, en una consigna.
Quizá una cierta noche el mismo sueño
desaparecido inmediatamente después de despertar.

Todo principio
no es mas que una continuación,
y el libro de los acontecimientos
se encuentra siempre abierto a la mitad.

Versión de Abel A. Murcia
*****

INGLÊS

LOVE AT FIRST SIGHT
They’re both convinced
that a sudden passion joined them.
Such certainty is beautiful
but uncertainty is more beautiful still.

Since they’d never met before, they’re sure
that there’d been nothing between them.
But what’s the word from the streets, staircases, hallways –
perhaps they’ve passed each other by a million times?

I want to ask them
if they don’t remember –
a moment face to face
in some revolving door?
perhaps a “sorry” muttered in a crowd?
a curt “wrong number” caught in the receiver? –
but I know the answer.
No, they don’t remember.

They’d be amazed to hear
that Chance has been toying with them
now for years.

Not quite ready yet
to become their Destiny,
it pushed them close, drove them apart,
it barred their path,
stifling a laugh,
and then leaped aside.

There were signs and signals
even if they couldn’t read them yet.
Perhaps three years ago
or just last Tuesday
a certain leaf fluttered
from one shoulder to another?
Something was dropped and then picked up.
Who knows, maybe the ball that vanished
into childhood’s thickets?

There were doorknobs and doorbells
where one touch had covered another
beforehand.
Suitcases checked and standing side by side.
One night perhaps some dream
grown hazy by morning.

Every beginning
is only a sequel, after all,
and the book of events
is always open halfway through.

Translated by Stanisław Barańczak and Clare Cavanagh

Citation:
Wislawa Szyborska (1923-2012), Poeta Polonesa. PortVitoria, UK, v.10, Jan-Jun, 2015. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com

Johan Norberg

El premio Nóbel de literatura a Mario Vargas Llosa ha escandalizado a la izquierda sueca, ya que no es “uno de los nuestros”.
“Estoy algo enojada”, afirmó la crítica literaria sueca Ulrika Milles durante la retransmisión de la televisión sueca del anuncio del premio Nóbel de literatura de 2010. La élite cultural del país se dio cuenta inmediatamente de que se había producido un error en el proceso de votación de la Academia Sueca: el ganador, Mario Vargas Llosa, ya no es socialista. “Le perdí cuando se hizo neoliberal”, se quejó Milles. Muchos compartieron esta opinión.

Personas que nunca mostraron ninguna preocupación acerca de las inclinaciones políticas de otros ganadores del Nóbel (como Wisława Szymborska, autora de poesía aduladora sobre Lenin y Stalin; Günter Grass, que alabó la dictadura cubana; Harold Pinter, que apoyó a Slobodan Milošević o José Saramago, que llevó a cabo purgas de antiestalinistas del periódico revolucionario del que era editor) tuvieron la impresión de que la Academia Sueca había, finalmente, cruzado el límite. Al parecer, las tendencias políticas de Mario Vargas Llosa deberían haber descartado su candidatura para cualquier tipo de premio. Al fin y al cabo, es un liberal clásico al estilo de John Locke y Adam Smith.

Periodistas y autores de la izquierda sueca, partidarios del estatismo, indicaron que Vargas Llosa se convirtió en un “traidor” durante los 80, cuando renunció al socialismo e incluso se presentó a las elecciones presidenciales del Perú con una agenda liberal. Sugirieron que probablemente su estilo de vida privilegiado, fruto de su éxito como escritor, minó su capacidad de sentir empatía y ser solidario con los pobres y oprimidos.

En el periódico más relevante de Suecia, Aftonbladet, las opiniones de tres escritores el día después del anuncio del premio fueron extremadamente críticas. Uno de los autores indicó que el premio suponía una victoria de la derecha sueca. Otro, que lo era de la derecha latinoamericana autoritaria. También se calificó a Vargas Llosa no solo de neoliberal sino también de machista (Vargas Llosa no sabía que hoy en día solo las escritoras pueden escribir sobre sexo. Al parecer, si lo hace un hombre es porque tiene mal gusto y es chauvinista).

Martin Ezpeleta, de Aftonbladet, afirmó incluso que el premio representaba una victoria para el racismo, ya que Vargas Llosa escribió en una ocasión un ensayo crítico acerca de la ideología del multiculturalismo. Ezpeleta prefirió ignorar el hecho de que el artículo también apostaba por una política inmigratoria más abierta, hasta que sus afirmaciones fueron rebatidas y se vio obligado a omitir con disimulo su acusación de racismo y pretender que nunca se había producido.

Fue Flamman, un periódico muy izquierdista, el que sugirió calma a sus correligionarios. Según el periódico, Vargas Llosa es, en efecto, un liberal, pero también es un escritor genial y una “elección excelente” para el premio Nóbel. Ciertamente, lo es. Incluso si uno odia los mercados, el libre comercio y otras cosas de las que Vargas Llosa se declara partidario, es difícil negar que es uno de los mejores narradores de nuestro tiempo.

Vargas Llosa ha escrito algunas historias sencillas, algunas incluso irrelevantes, pero novelas como La fiesta del chivo y La guerra del fin del mundo son obras ambiciosas de un tipo que ya no se estila, en unos tiempos en los que la mayoría de escritores solo tiene paciencia suficiente para compartir con su público sus bares favoritos y sus trágicas historias de amor. En sus mejores momentos, Vargas Llosa es la respuesta literaria a los científicos de la teoría de cuerdas: gestiona más dimensiones de las que podemos experimentar con nuestros sentidos. Como Víctor Hugo, encapsula una era o la tragedia de un país en unos pocos capítulos, pero como los mejores escritores de intriga, también nos mantiene en suspense con tramas dramáticas. Como los grandes escritores rusos, es capaz de administrar un gran número de personajes, cuyas relaciones, conversaciones y su desarrollo interno generan el auténtico escenario de la historia.

Vargas Llosa fluye entre estas dimensiones, cambia la narrativa y el tiempo para contar la historia desde distintos ángulos y hacerla más completa y, a la vez, más compleja. Su técnica es elaborada pero, simultáneamente, accesible y de fácil lectura: irresistible. Puede caracterizar de manera seria e importante los personajes más irrelevantes, y escribe acerca de la miseria y la tragedia humana en tonos humorísticos e irónicos.

Sin embargo, antes de que se dejen llevar y concluyan que Vargas Llosa es un justo merecedor del premio… ¿les he comentado que ya no es socialista? Lo fue: durante un tiempo apoyó la revolución cubana y fue un comunista convencido. Vargas Llosa cambió no porque dejara de simpatizar con los pobres y oprimidos, sino porque todavía lo hacía cuando otros empezaron a identificarse más con los revolucionarios que con aquellos por los que se llevaba a cabo la revolución. Vio a Castro perseguir homosexuales y encarcelar a la disidencia: mientras otros socialistas miraban hacia otro lado y argumentaban que el fin justifica los medios, Vargas Llosa empezó a cuestionarse las razones por las que la realización de sus ideales se parecía más a un campo de internamiento que a una utopía socialista.

Es en ese punto en el que el autor empezó a gestar la idea de que la acumulación de poder y riqueza en manos del Estado conduce al autoritarismo, y que las barreras comerciales, las normativas y la ausencia del derecho a la propiedad protegen a los poderosos e impiden a los pobres iniciar proyectos comerciales y vitales propios. Se convirtió en un liberal clásico, enfrentado permanentemente a la corrupción y al autoritarismo sin importarle con que guisa se camuflen, ya sea como juntas militares, mercantilistas de derechas o dictadores socialistas. Alzó la bandera a favor de la lucha en pro del imperio de la ley y del derecho a la propiedad de los pobres y los oprimidos.

Los intentos de caracterizar a Vargas Llosa como un simpatizante de la derecha autoritaria y conservadora en Latinoamérica producen vergüenza ajena. La única prueba que el artículo de Aftonbladet presenta es su apoyo a la candidatura de Sebastián Piñera en las últimas elecciones presidenciales chilenas. Este argumento no tiene sentido: Piñera es un político de carácter democrático y moderado que ha combatido la tradición autoritaria de la derecha chilena, y que votó en contra de Pinochet en el referéndum sobre su régimen en 1988.

Los intentos de Vargas Llosa de medir con el mismo rasero a todos los gobernantes hacen que las críticas acerca de su traición a la izquierda sean tan reveladoras: muchos intelectuales han condenado las dictaduras de derechas de Perú y Chile, y muchos han criticado los regimenes dictatoriales de izquierdas en Cuba y Nicaragua. Muy pocos han, como Vargas Llosa, mostrado su oposición a ambos.

Si eso es un ataque a la izquierda, lo es porque esta ha puesto todas sus esperanzas en generaciones sucesivas de caudillos como Castro y Chávez. Los que insisten en que las normas de la democracia deberían aplicarse a sus héroes se convierten en traidores, rajados, conservadores. Vargas Llosa encarna un papel muy desagradecido: el del esclavo en el carro de la victoria, que entre susurros recuerda al poderoso la temporalidad de la gloria, la propia mortalidad. Como una vez comentó: “Por razones que se me escapan, aquellos que defendemos la libertad de expresión, las elecciones democráticas y el pluralismo político en Latinoamérica somos tachados de conservadores por sus intelectuales”.

Los intentos de politización de un premio literario y la exigencia de que los autores sean izquierdistas con carné del partido no son muy esperanzadores. Sin embargo, es posible que los críticos tengan algo de razón: quizás no es posible separar las novelas de Vargas Llosa de sus opiniones políticas, su obra literaria de su fe en la libertad. En un ensayo acerca de la escritura, escribió: “la literatura de calidad es radical, y nos presenta interrogantes radicales sobre el mundo en el que vivimos”. También afirmó que la literatura es “el sustento de los espíritus rebeldes, el promulgador de disconformidades”.

Se podría incluso decir que la Academia Sueca comparte la misma opinión, ya que otorgó a Vargas Llosa el premio “por cartografiar las estructuras del poder y por sus incisivas representaciones de la resistencia, revolución y derrota del individuo”. La diferencia entre él y sus adversarios, sus otrora amigos, radica en que Vargas Llosa se toma ese poder y esa capacidad de resistencia muy en serio. Para él no son solo ficción.


Johan Norberg es periodista y escritor sueco. Es el autor de Financial Fiasco: How America’s Infatuation with Home Ownership and Easy Money Created the Economic Crisis (El fiasco financiero: cómo la pasión inmobiliaria y crediticia norteamericana causó la crisis económica).
Título original: Don’t Give Him the Nobel – He’s Right-Wing!
© Dr. Johan Norberg
Cortesía de: JN y Spiked-online (http://www.spiked-online.com)
Traducción de: Jo Serra

Referencia:
Norberg, J. No le den el Nóbel… ¡es de derechas! PortVitoria, UK, v. 3, Jul-Dec, 2011. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com

Johan Norberg

Os esquerdistas suecos estão ultrajados pelo fato de Mário Vargas Llosa ter ganhado o Prêmio Nobel de literatura, porque ele não é ‘um dos nossos’.

‘Eu estou meio chateada’, afirmou a crítica literária sueca Ulrika Milles durante o anúncio do vencedor do Prêmio Nobel de literatura de 2010 pela televisão sueca. A elite cultural do país levou apenas alguns segundos para perceber que houve um engano no processo de votação da Academia Sueca: ora vejam, Mário Vargas Llosa, o vencedor, não é mais um socialista. ‘Eu perdi a fé nele quando ele se tornou um neoliberal’, queixou-se Milles. Muitos outros ecoaram com ela. Gente que nunca tinha expressado qualquer preocupação com a linha política de outros vencedores do Prêmio Nobel – como Wisława Szymborska, que escreveu enaltecimentos poéticos sobre Lênin e Stalin; Günter Grass, que elogiou a ditadura de Cuba; Harold Pinter, que apoiou Slobodan Milošević; José Saramago, que expulsou anti-stalinistas do jornal revolucionário que editava – acharam que a Academia Sueca tinha finalmente pisado na bola. Aparentemente, as convicções políticas de Mário Vargas Llosa deveriam desqualificá-lo de qualquer nominação de prêmio. Afinal de contas, ele é um liberal clássico da tradição de John Locke e Adam Smith.

Jornalistas e escritores do estatismo sueco de esquerda explicaram que Vargas Llosa havia se tornado um ‘traidor’ durante a década de 1980, quando ele se declarou abertamente contra o socialismo e até concorreu à presidência do Peru numa plataforma liberal. Eles sugeriram que provavelmente o seu estilo de vida privilegiado, na qualidade de escritor de sucesso, havia solapado a sua compaixão e solidariedade para com os pobres e os oprimidos.

No Aftonbladet, o maior jornal da Suécia, três escritores o massacraram no dia seguinte ao anúncio do Prêmio Nobel. Um escreveu que o prêmio havia sido uma vitória para a direita sueca; outro que foi uma vitória da direita autoritária latino-americana; e o terceiro acusou o mesmo de ser não só ‘neoliberal’ mas também ‘machista’ (o que Vargas Llosa não sabia é que hoje em dia só é aceitável para autores femininos escreverem sobre sexo; quando os homens fazem isso, aparentemente é considerado chauvinista e de mau-gosto).

Martin Ezpeleta, do Aftonbladet, chegou a afirmar que o prêmio havia sido uma vitória para dos racistas, devido ao fato de Vargas Llosa ter escrito um ensaio atacando a ideologia do multiculturalismo. O fato de que o mesmo ensaio também defendeu uma política de imigração mais aberta não significou nada para Ezpeleta – até que outras pessoas apontaram o seu logro e ele discretamente retirou a acusação de ‘racismo’ do seu artigo e fez de conta que a mesma nunca esteve lá.

Ficou para um jornal da extrema-esquerda, o Flamman, mandar que os seus colegas de viagem recuassem. Está certo, Vargas Llosa é um libertário, mas ele é também um escritor fantástico e uma ‘excelente escolha’ para o Prêmio Nobel. E é mesmo. Mesmo que você odeie o livre-mercado, o livre-comércio e outras coisas que Vargas Llosa apóia, é difícil negar que ele não seja um dos melhores contadores de história da nossa época.

Vargas Llosa escreveu alguns contos simples e outros que são até bobos, mas os romances como A Festa do Bode e A Guerra do Fim do Mundo pertencem à categoria daquelas ambiciosas histórias que já não são mais narradas, numa época em que a maioria dos escritores já não têm paciência para compartilhar nada a não ser os seus bares favoritos e as suas trágicas vidas amorosas. No seu melhor lado, Vargas Llosa é a resposta do mundo literário aos cientistas da teoria das cordas cósmicas: ele lida com mais dimensões que o restante de nós consegue experimentar com os nossos sentidos. Como Victor Hugo, ele consegue capturar toda uma era ou a tragédia de um país em apenas alguns capítulos, mas como os melhores escritores de thrillers ele também nos mantêm em suspense com os seus dramáticos enredos. E encima disso tudo, ele consegue manejar uma enorme quantidade de personagens, como fizeram os grandes escritores russos – personagens cujos relacionamentos, conversações e crescimentos interiores constituem o verdadeiro cenário da narrativa.

Vargas Llosa salta para a frente e para trás entre essas dimensões e muda a narração e o tempo a fim de contar a mesma história por ângulos diferentes e para torná-la mais completa e mais complexa. É tecnicamente complexo mas acessível e fácil de ler, e até unputdownnable (impossível de largar). Ele consegue fazer com que temas simples pareçam profundos e importantes e escrever sobre tragédia e miséria com humor e ironia.

Mas antes de se deixar levar e concluir que Vargas Llosa merece o prêmio: será que eu esqueci de informar que ele não é um socialista? Bem, ele era. Ele foi um comunista convicto que apoiou a revolução cubana. Ele mudou, mas isso não foi porque perdeu a capacidade de sentir compaixão para com os pobres e os oprimidos, mas porque ele ainda tinha tal capacidade, enquanto que os outros começaram a se identificar mais com os revolucionários do que com as pessoas em cujo nome eles fizeram a revolução. Ele percebeu que Castro perseguia homossexuais e prendia dissidentes. Enquanto que os outros socialistas se calaram, pensando que o sonho justificava os meios, Vargas Llosa começou a se perguntar perguntas difíceis do tipo por que é que na prática os seus ideais pareciam mais com campos de concentração do que com a utopia socialista.

Foi aí que o autor começou a deduzir que a centralização do poder e da riqueza no governo levava ao autoritarismo, e que as barreiras ao comércio, as regulamentações e a ausência de direitos proprietários protegiam os poderosos e tornava impossível para que os pobres começassem negócios e construíssem uma vida independente. Ele se tornou um liberal clássico, constantemente lutando contra os corruptos e os autoritários, independente da maneira como eles se disfarçavam – se como juntas militares, direitistas mercantilistas ou ditadores socialistas – e ele também comprou a briga pelo estado de direito e por direitos proprietários para os pobres e os oprimidos.

As tentativas de retratar Vargas Llosa como um defensor da direita autoritária e conservadora da América Latina são simplesmente vergonhosas. O único fiapo de evidência citado no Aftonbladet foi que ele havia apoiado Sebastián Piñera na última eleição presidencial no Chile – o que nem faz sentido já que Piñera é um político democrático e moderado, que combateu a tradição autoritária da direita no Chile e votou contra Pinochet no plebiscito de 1988 sobre a continuidade do seu governo.

São os esforços de Vargas Llosa para aplicar os mesmos pesos e medidas para todos os governantes que tornam tão reveladora a acusação de que ele traiu a esquerda. Muitos intelectuais condenaram as ditaduras direitistas do Peru e do Chile, e muitos intelectuais condenaram as ditaduras esquerdistas de Cuba e da Nicarágua, mas poucos, como fez Vargas Llosa, condenaram ambas.

e isso é um ataque à esquerda, é apenas porque a esquerda cravou as suas esperanças em gerações sucessivas de caudilhos como Castro e Chávez. Qualquer um que insistir que as mesmas regras democráticas devem ser aplicadas aos seus heróis torna-se um traidor, um desistente e um direitista. Ele é o escravo nas carruagens dos mesmos, a murmurar que toda glória é efêmera e que és mortal. E esse não é um papel popular. Como Vargas Llosa escreveu uma vez: ‘Por motivos que agora me escapam, qualquer um na América Latina que defende a liberdade de expressão, eleições livres e pluralismo político é conhecido nos meios intelectuais como direitista.’

As tentativas de politizar um prêmio de literatura e as demandas de que os autores devem ser esquerdistas de carteirinha, não são nada atraentes. Mas talvez os críticos tenham razão afinal de contas. Talvez não possamos separar os romances e a política de Vargas Llosa, a sua literatura da sua crença na liberdade. Num ensaio sobre a escrita ele explicou que ‘toda literatura boa é radical; levanta questões radicais sobre o mundo em que vivemos’, e que a literatura é ‘o alimento para o espírito rebelde, o promovedor de inconformismos’.

Pode-se até dizer que a Academia Sueca concorda, uma vez que deu a Vargas Llosa o prêmio ‘pela sua cartografia das estruturas do poder e pelas suas penetrantes imagens da resistência, revolta e derrota do indivíduo’. A diferença entre ele e os seus velhos amigos que viraram seus oponentes é que ele leva a sério tal poder e tal resistência. Os mesmos não existem apenas na ficção.
___________________________________________________________________
Johan Norberg é jornalista, historiador e escritor sueco, e autor do livro Financial Fiasco: How America’s Infatuation with Home Ownership and Easy Money Created the Economic Crisis (O Fiasco Econômico: Como a Enfatuação com a Casa Própria na América e o Dinheiro Fácil Criaram a Crise, inédito em português).

Título Original: ‘Don’t give him the Nobel – He’s Right-Wing!’
© Dr. Johan Norberg
Cortesia de: JN e revista Spiked-online (http://www.spiked-online.com)
Data da Publicação em PortVitoria: 01 julho 2011
Tradutora: Joaquina Pires-O’Brien (Beccles, UK)

Como citar este artigo:
Norberg, J. Não lhe deem o Nobel – Ele é de Direita! PortVitoria, UK, v. 3, Jul-Dec, 2011. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com

 

Ricardo Cuadros

En conmemoración de los 50 años del fallecimiento de la poeta chilena Gabriela Mistral, el 10 de enero de 1957.

En Menos cóndor y más huemul, un breve ensayo publicado en el diario El Mercurio el año 1925, Gabriela Mistral reflexiona sobre los dos animales que representan el carácter de los chilenos en el escudo nacional: el cóndor y el huemul.

El primero es el gran pájaro de los cielos cordilleranos, casi siempre visto en vuelo, majestuoso y distante. El segundo es un ciervo pequeño que apenas se deja ver, habitante de los bosques del sur, casi extinguido. Fuerza del cóndor, gracia del huemul, dice Gabriela Mistral, y agrega: “ambos dotados de excelencia y que forman una proposición difícil para el espíritu”. Esta dificultad es la propia del equilibro inestable de los contrarios, “el sol y la luna en algunas teogonías, o la tierra y el mar”, dice la poeta, el muy antiguo yin y/o yang de los chinos: es interesante ver cómo Gabriela Mistral plantea el tema de los contrarios como “dificultad”, es decir como desafío.

Ella ve, a comienzos del siglo XX, que los símbolos que predominan en la cultura chilena son los de la fuerza, y con ellos la reverencia ante los poderosos. “El cóndor significa el dominio de una raza fuerte; enseña el dominio justo del fuerte. Su vuelo es una de las cosas más felices de la tierra”: así es como aprenden heráldica los niños en la escuela, dice Gabriela Mistral, y poco o nada oyen del huemul, como si la sensibilidad y el pacífico retiro en los bosques fueran más bien defectos. “Yo confieso mi escaso amor del cóndor” agrega la poeta, “que, al fin, es solamente un hermoso buitre”. Ella lo ha visto planear sobre las alturas cordilleranas, pero también ha sentido el quiebre de su emoción al reconocer “que su gran parábola no tiene más causa que la carroña tendida en una quebrada”.

Las palabras de Gabriela Mistral para honrar al huemul son poesía: “El huemul es una bestezuela sensible y menuda; tiene parentesco con la gacela, lo cual es estar emparentado con lo perfecto”. Y cuando lo compara con el cóndor, vuelve a hacer poesía: “Mejor es el ojo emocionado que observa detrás de las cañas, que el ojo sanguinoso que domina sólo desde arriba”. Pero la poeta no cae en el reclamo del reemplazo del símbolo duro del cóndor por el otro, casi indefenso, del huemul: a lo que alude es a la revaloración de las virtudes simbólicas de este último; “el oído delicado, el ojo de agua atenta, el olfato agudo”.

En esta intención complementaria, en este llamado a la recuperación del equilibrio Gabriela Mistral devela su mirada, su comprensión del mundo. La poeta es mujer, es huemul, es gracia: el mundo en el que vive está dominado por la fuerza brutal del cóndor. Y dirá con ironía sutil: “Tanto ha abusado la heráldica de las aves rapaces, hay tanta águila, tanto milano en divisas de guerra, que ya dice poco, a fuerza de repetición, el pico ganchudo y la garra metálica”. Para Gabriela Mistral, en los inicios del siglo XX, era hora de mirar hacia la aparente debilidad del huemul, no porque fuera hora de mostrarse débil sino más bien por inteligencia para vencer mejor: “El huemul quiere decir la sensibilidad de una raza: sentidos finos, inteligencia vigilante, gracia. Y todo eso es defensa, espolones invisibles, pero eficaces, del Espíritu”.

La historia, la memoria colectiva ordenada en el relato histórico, sigue siendo una escuela cruel: desde que la poeta chilena escribió estas líneas han pasado poco más de ochenta años y sí, hubo un momento, crucial, en el que – llamémoslas así –  las fuerzas del huemul se mostraron en el esplendor de la rebelión hippie, los primeros 10 años de la Revolución Cubana, Mayo del 68, la Primavera de Praga, la Unidad Pupular. Pero duró menos que un suspiro: ya a mediados de la década del setenta estaba nuevamente claro que el dominio del mundo, y valga la perogrullada de que Chile está en el mundo, se decide entre cóndores, águilas y milanos.

La inteligencia de Gabriela Mistral la llevaba a ver y proponer la solución con el mismo ánimo redentor, didáctico, constructor de Estados, que animaba a tantos poetas y políticos latinoamericanos de su época como José Martí, Alfonso Reyes, Rubén Darío: “Tal vez el símbolo fuera demasiado femenino si quedara reducido al huemul, y no sirviera, por unilateral, para expresión de un pueblo. Pero, en este caso, que el huemul sea como el primer plano de nuestro espíritu, como nuestro pulso natural, y que el otro sea el latido de la urgencia. Pacíficos de toda paz en los buenos días, suaves de semblante, de palabra y de pensamiento, y cóndores solamente para volar, sobre el despeñadero del gran peligro”.

La voz de Gabriela Mistral parece un clamor en el desierto, hoy, después de las décadas dictatoriales en Latinoamérica y la solución neoliberal, después de la caída del Muro de Berlín, del 11/9 en Estados Unidos y la invasión a Irak. “La predilección del cóndor sobre el huemul acaso nos haya hecho mucho daño. Costará sobreponer una cosa a la otra, pero eso se irá logrando poco a poco”, decía la poeta. Nos ha causado daño y mucho, y no se ve cómo se podría “sobreponer una cosa a la otra”. Pero ahí están y siguen vibrando sus palabras, como el rayo de un faro en la noche: “menos cóndor y más huemul”.

__________________________________________________________________________

Citación:

Cuadros, R. Elogio de la bestia fina. PortVitoria, UK, v. 1, Jul-Dec, 2011. ISSN 2044-8236,