Octavio Paz (1914-1998), poeta e polímata mexicano
Joaquina Pires-O'Brien
Além de ter sido um dos maiores poetas do século XX, o mexicano Octavio Paz, nascido Octavio Irineo Paz Lozano, foi também um grande estudioso e um notável pensador. Felizmente o talento de Paz foi reconhecido pela academia sueca, que em 1990 lhe concedeu o Premio Nobel de Literatura. Para Paz,
O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade.
Sentir-se só possui um duplo significado: por um lado, consiste em ter consciência de si; por outro, um desejo de sair de si. A solidão, que é a própria condição de nossa vida, surge para nós como uma prova e uma purgação, no fim da qual a instabilidade e a angústia desaparecerão. A plenitude, a reunião, que é repouso e felicidade, e a concordância com o mundo, nos esperam no fim do labirinto da solidão.
O livro Labirinto da solidão (El laberinto de la soledad) de Paz é uma reflexão sobre a modernidade inserida no contexto identitário, e, por essa razão, considerada uma peça-chave da literatura moderna universal. De igual importância é O ogro filantrópico (El ogro filantrópico), no qual descreve o Ocidente como um período de grande abundância material, mas corroído pelas maladias do hedonismo, da religião, e do egoísmo.
No conjunto dos poetas mais reconhecidos da América Latina Paz foi o mais humano e o que enxergou mais longe. Em todo o Ocidente, Paz foi um dos primeiros intelectuais públicos a identificar a crise da modernidade nas superestimadas expectativas ao progresso. Segundo Paz, o progresso existe, mas não é retilíneo e tampouco é inexorável. Paz analisou a pós-modernidade com o mesmo ceticismo com que analisou a modernidade. Deu a entender que a pós-modernidade foi uma consequência das incongruências da modernidade. A prosa de Paz era quase poesia, conforme mostra o texto a seguir:
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero a alimentam. Oração, ladainha, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio todos os conflitos objetivos se resolvem e o homem finalmente toma consciência de ser mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar de uma forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da ideia. Loucura, êxtase, logos. Retorno à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo.
Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo e metros e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todos os rostos mas há quem afirme que não possui nenhum: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana! O Arco e a Lira. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
Segue alguns exemplos da poesia de Paz traduzidas para o português, cada qual seguida do original em espanhol.
The systemic corruption involving the State and the private sector since 2003 is a tragedy whose consequences will haunt Brazilians for years to come. This tragedy is linked to others, like the colonized complex, that blames everything on the Portuguese colonization. The very existence of Operation Car Wash (Operação Lava Jato) shows a change in mentality from a fixed mind-set of blaming others to an ethics of responsibility. Because of these two polarized views, Brazilian society is fighting a war of ideas, and the resulting lack of dialogue is a tragedy that could turn Brazil into a failing state.
During the presidential election campaigns of 2018 the Brazilian society became polarized between the right and the left. This polarization is a symptom of a problem even more serious, the country’s social fragmentation caused by the proliferation of identity politics groups. My two essays published in this edition cover these topics. The first essay deals with the Brazilian identity and the description of the Brazilian mind-set. The second essay covers the polarization of Brazilian society, the prolonged hegemony of the left and the emergence of the right. Both papers point out the problem of the lack of dialogue, without which Brazil will not be able to repair its fractures, find its way, and move on to better times.
As if the above tragedies were not enough, Brazil suffered another gigantic tragedy in the fire of the National Museum, in Rio de Janeiro, which occurred on the night of the 3rd of September, 2018. Founded in 1818 by D. João VI, Brazil’s National Museum housed more than 20 million items, including historical documents, botanical, zoological and mineralogical collections, ancient Greek and Roman artefacts, the largest Egyptian collection in Latin America and the oldest human fossil discovered in the present Brazilian territory, named ‘Luzia’. In the aftermath of the fire, Alexandre Garcia, a 78 years old journalist and political broadcaster, recorded a scathing lamentation of this tragedy, whose transcription is made available in this edition of PortVitoria. Also provided is an in-depth account of the tragedy of the loss of the National Museum in the article by João José Fermi.
Reflecting on the tragedies of Brazil reminded me of some English idiomatic phrases linked to good administration, such as ‘Not on my watch’ and ‘The buck stops here’, and the result is an English lesson written in the form of an article, which I hope some readers of PortVitoria will find useful.
The only review in this issue is of Jordan Peterson’s book 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos (2018). Peterson is a Canadian psychologist and professor at the University of Toronto who gained notoriety in Canada in 2017 for his opposition to an amendment to the Canadian Human Rights Act (Bill C-16) adding ‘gender identity or expression’ to the list of prohibited grounds of discrimination, arguing that it would interfere with the right of free speech. Peterson’s 12 Rules for Life appeared in January 2018 and in just a few weeks became a bestseller in all Anglophone countries. The Portuguese edition appeared later in May, and the book appears to be selling well in Brazil. Peterson attributes the success of his book to the fact that it filled a much needed void in the market, but it is obvious that his internet presence, in e-videos and podcasts, also played a substantial role. I confess that I became a fan of Peterson after watching a couple of his YouTube videos, having bought his book afterwards. Peterson’s ideas describe many of the problems that affect Western civilization and I am certain that they can help Brazilians sort out their cognitive dissonance.
Durante os últimos cem anos Portugal fez várias proposições súbitas, intermitentes e não planejadas de fazer uma “justiça histórica” aos judeus expulsos do país em 1497 por terem recusado a se converter ao cristianismo. E, pelo ufanismo em torno das reparações oferecidas aos descendentes dos judeus expulsos, podemos acrescentar que essas proposições foram também cínicas. A última proposição de Portugal é a do Projeto de Lei 43/2013, aprovado em 29 de janeiro de 2015, que promete conceder cidadania portuguesa aos judeus de origem portuguesa que demonstrem vínculos a uma comunidade sefardita.
Assim como ocorreu com o exemplo precedente da Espanha, que, em 2013, aprovou uma lei garantindo o “direito de retorno” dos descendentes dos judeus expulsos em 1492, os observadores têm se esforçado para compreender se, além da tentativa cosmética de tranquilizar uma consciência que, até então, não se havia incomodado, existe alguma agenda digna em jogo, ou, se o que há em paralelo a esta tentativa é, apenas, a possibilidade de ganhar uma fonte lucrativa com o turismo judeu.
A deputada Maria de Belém Roseira, então presidente do Partido Socialista (PS) e um dos diversos parlamentares que assinaram a referida proposta de lei, proclamou poeticamente que “esta lei reconhece que a terra deles ainda se encontra guardada aqui… para os que têm a chave da casa de seus ancestrais”. O deputado João Rebelo, do Partido Popular (CDS-PP), explicou os motivos por trás do apoio unânime de todos os partidos: “Chamem de apologia ou de reparação, a nova lei visa apagar uma coisa terrível e injusta e que representa uma mancha negra na nossa nação.”
Estabelecida em 1536 para combater o criptojudaísmo dos cristãos-novos, a Inquisição Portuguesa promoveu julgamentos shows, execuções públicas, exterminações em massa e a separação forçosa de crianças que foram mandadas de Portugal para as colônias. Em Portugal como na Espanha, muitos judeus permaneceram na qualidade de “cristãos-novos”, mas a maioria fugiu para os atuais Holanda (Neerlândia), Itália, norte da Alemanha, Dinamarca, Grécia, Turquia, Marrocos, e Brasil. A primeira comunidade judaica da atual Nova Iorque foi fundada em 1654 por um grupo de 23 adultos e crianças judeus que reemigraram do nordeste do Brasil para Nova Amsterdã, como a cidade de Nova Iorque era então chamada. Entretanto, este grupo não chegou no Brasil vindo de Portugal, mas sim dos Países Baixos, um dos maiores locais de refúgio dos judeus sefaraditas.
A despeito da retórica emotiva, a maioria dos legisladores portugueses admite que ainda pode levar “mais um ano para determinar o procedimento de implementação do edito”. Portanto, há pouca probabilidade de a nova oferenda resultar na reconstrução do que poderia ser um dos mais marcantes exemplos de criatividade na política de reconciliação na longa história da diáspora. Essa visão pessimista não se deve às dificuldades de pesquisa de procedência, já que muitos dos sobrenomes comuns que os judeus portugueses exilados adotaram podem ser traçados e verificados.
Honestamente, é preciso examinar as repetidas e fracassadas tentativas anteriores de fazer a mesma coisa no passado. O “luso-tropicalismo” português, ou seja, a afirmação de que Portugal era uma nação multicultural e multirracial moderna unida pelo amor a uma única língua e cultura que se estendem até as Américas, Europa, Ásia e África, também tinha uma auréola nobre, mas não passou de um estratagema usado para impedir a independência das diversas colônias portuguesas.
Os judeus como peões dos modernos esquemas oportunistas de Portugal e Espanha
Em decorrência da derrota da Espanha na Guerra de 1898 com os Estados Unidos e da perda de seus últimos vestígios de império, diversos intelectuais espanhóis bem-intencionados, incluindo escritores e filósofos, começaram a entreter a ideia de que as políticas reacionárias e a expulsão dos judeus haviam prejudicado a Espanha. Um dos seus interlocutores foi o Dr. Angel Pulido, médico e senador liberal espanhol, que lançou uma campanha para recuperar a consciência, a prosperidade e a dignidade da Espanha através da readmissão dos judeus e de um pedido de desculpas pelo mau tratamento que receberam no passado. A campanha de Pulido também repercutiu em Portugal, cujo governo republicano estabelecido em 1910 havia extinguido a estreita ligação do estado Português com a Igreja Católica, e considerou a possível utilidade de encorajar relações com as comunidades sefarditas de todo o mundo.
A República Portuguesa e o seu esquema oportunista de assentar os judeus em Angola
A instauração da República Portuguesa em 1910 representou uma ruptura implacável com o passado. Da noite para o dia eles derrubaram a monarquia, introduziram uma nova bandeira e um novo hino nacional, separaram a Igreja do Estado e adotaram uma nova constituição, verdadeiros anátemas para as esferas de poder na Espanha.
Logo depois de implantar a República, os líderes republicanos portugueses articularam um plano voltado a conceder terras nas suas colônias africanas, particularmente em Angola, para a colonização judaica. Tal plano foi concebido como uma solução prática para aumentar dramaticamente a população branca nessa colônia e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio das esferas liberais britânicas, que eram altamente críticas ao tratamento dado à população nativa da África.
Em junho de 1912, a Câmara de Deputados de Portugal aprovou a versão final do projeto de lei autorizando as concessões de terras aos colonizadores judeus. Está claramente indicado, nos artigos da referida lei, o desejo da República de usar a imigração de judeus para consolidar a presença portuguesa em Angola. Os colonizadores que desejassem se assentar no Planalto de Benguela, logo que desembarcassem no porto, seriam naturalizados e poderiam se tornar cidadãos portugueses mediante o pagamento de uma “taxa nominal”. Era ainda requerido que os assentamentos judeus não tivessem um “caráter religioso” e que o português fosse a língua exclusiva para o ensino nas escolas que os colonos judeus viessem a construir. Entretanto, nenhum apoio financeiro de ordem prática foi previsto, e, até o final de 1913, muitos oficiais da Organização Territorial Judaica de Londres que haviam contemplado a proposta, começaram a ir contra a mesma devido aos progressos feitos na Palestina, sob a orientação do movimento sionista.
Na ausência de qualquer medida prática por parte do governo português, a ideia caiu no esquecimento, particularmente após o fim da Primeira Guerra Mundial, quando a ameaça alemã sobre as colônias portuguesas na África havia deixado de existir.
Os esforços valentes, porém fúteis de Artur Barros Basto
Uma segunda tentativa de reaproximação da comunidade sefardita internacional foi aquela centralizada em torno da pessoa do Coronel Artur Carlos de Barros Basto, conhecido como o Dreyfus(1) português. Nascido em 1887, Barros Basto foi militar, escritor e um infatigável ativista do movimento de reconhecimento dos descendentes de judeus portugueses que desejassem voltar para a fé e a identidade judia, e recriar uma comunidade e moderna na terra ancestral. Quando a República Portuguesa foi criada em 1910, Barros Basto foi um dos que hastearam a bandeira republicana na cidade do Porto. Assim, ele desfrutava de algum prestígio nos círculos liberais republicanos, que viam a possibilidade de recriação da comunidade judaico portuguesa como uma causa que podia atrair simpatia no estrangeiro.
Barros Basto tornou-se o principal luminar da criação da comunidade israelita do Porto, a segunda maior cidade do país, e foi instrumental na construção da magnífica Sinagoga Kadoorie Mekor Haim. Além de ter ajudado muitos cripto-judeus a retornarem a Portugal, durante a Segunda Guerra Mundial, Barros Basto ajudou inúmeros refugiados judeus a escaparem do Holocausto. Entretanto, todas essas realizações foram obtidas através de um enorme custo para a sua saúde e reputação, em decorrência das consistentes oposições recebidas por parte do exército português, da igreja católica e do governo, que procuraram difamá-lo durante toda a década de 1930 e que arruinaram a sua carreira militar.
Durante a Primeira Guerra Mundial, ele havia comandado um batalhão do Corpo Expedicionário na frente de Flandres, no posto de tenente. Pela sua honra e valentia no campo de batalha ele recebeu medalhas de distinção no serviço militar e foi promovido a capitão. Barros Basto aprendeu o hebraico durante o período de tempo em que passou no Marrocos, onde também iniciou o processo formal de sua conversão ao judaísmo. Esse processo completou-se quando ele foi circuncisado em Tânger e posteriormente submetido a uma corte rabínica, após o que ele mudou o seu nome para Abraão Israel Ben-Rosh.
Retornando a Lisboa, Barros Basto casou-se com Lea Israel Monteiro Azancot, da comunidade israelita de Lisboa, com quem teve um filho e uma filha. Ele também teve diversos netos e bisnetos. Sua neta Isabel Ferreira Lopes é a atual vice-presidente da Comunidade Israelita do Porto. Barros Basto levantou fundos os quais permitiram que ele comprasse o terreno da futura sinagoga, o que de imediato colocou-o na categoria de um “excêntrico perverso” o qual ameaçava a ordem social estabelecida da fé católica. Tais acusações foram crescendo na década de 1930, à medida em que Portugal “evoluía” de uma república liberal para o regime ultraconservador e autocrata do Professor Antônio Salazar.
Dentro do novo e autoritário regime de Salazar, iniciado em 1932, Barros Basto foi associado à oposição. O novo governo empenhou-se em manter os valores rurais e conservadores e estabelecer a reconciliação com a Igreja Católica. Isso fez com que Barros Basto se tornasse duplamente suspeito e foi a causa de suas remoções para localidades bem longe do Porto, a fim de aliená-lo do projeto da nova sinagoga em torno da qual ele articulava a criação de uma comunidade judaica e a volta do judaísmo. O governo de Salazar havia prometido renovar a influência católica em Portugal e promover a peregrinação a Fátima, local de um suposto milagre em 1917, quando três crianças afirmaram ter visto a Virgem Maria. Nada podia ser mais simples para ganhar o apoio dos católicos do que trazer de volta a linha dura contra as “nefárias influências judaicas”.
Em 1937, Barros Basto foi convocado a comparecer perante uma comissão disciplinar do exército, que o demitiu devido a alegações de ele ter participado de cerimônias “imorais” de circuncisão de alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto. Durante a Segunda Guerra Mundial, apesar de ele já ter recebido baixa do exército, Barros Basto ajudou centenas de judeus a escaparem da guerra e do Holocausto. Logo depois do fim da Segunda Guerra, a Comunidade Israelita do Porto assinou um acordo com o Museu da Memória do Holocausto nos Estados Unidos, fornecendo a este milhares de documentos e registros dos indivíduos refugiados que receberam a sua ajuda para reconstruir suas vidas no Porto.
Barros Basto faleceu em 1961, e, de acordo com o seu desejo, foi enterrado na sua localidade natal, Amarante, trajando o uniforme com o qual ele havia servido seu país. A justiça para ele só veio mais de 50 anos depois de sua morte, em 2012, em resultado de uma petição apresentada ao Parlamento, em 31 de outubro de 2011, por sua neta Isabel Ferreira Lopes. Nesta, constava que “Barros Basto foi afastado do exército devido ao clima geral de animosidade contra ele pelo fato dele ser judeu”. A petição foi unanimemente aprovada por todos os partidos, e Barros Basto foi reabilitado e reintegrado postumamente ao exército.
Garcia de Orta: Uma reabilitação quatrocentos anos atrasada
Numa medida ainda mais cínica e hipócrita, o primeiro-ministro Salazar decidiu que era uma política tanto conveniente quanto sem custo ressuscitar a memória dos grandes filósofos, cartógrafos, astrônomos e médicos de Portugal a fim de cultivar a imagem de Portugal como sendo a de um país tolerante. O motivo real foi cair nas boas graças da opinião pública norte-americana e ganhar o seu apoio para a retenção de Goa, sua colônia na Índia. Essa for a carta que Salazar usou para enfrentar a crescente onda anticolonialista que ameaçava todas as colônias de Portugal na Ásia e na África, em meados da década de 1950. A memória de Garcia de Orta, cujos restos mortais haviam afrontado a proclamada identidade católica portuguesa no século XVI (veja o artigo de Norman Berdichevsky na edição anterior de PortVitoria), foi subitamente ressuscitada, e este foi reapresentado como o grande cientista e linguista judeu português, cujo trabalho humanitário em Goa era uma evidência de que Portugal era uma “civilização tolerante” que abarcava povos e regiões diversas, todos unidos pela língua e cultura portuguesas. Tais palavras descreviam exatamente a nova ideologia recém-oriunda do Brasil e conhecida pelo nome de luso-tropicalismo.
O que aconteceu foi que, em 1565, a Inquisição foi introduzida na Índia Portuguesa e a corte inquisitorial de Goa deu início à perseguição ativa contra judeus, judeus secretos, hindus e cristãos-novos. Garcia de Orta conseguiu escapar de suas garras e faleceu em 1568, de morte natural. Entretanto, sua irmã Catarina não conseguiu escapar e foi presa nesse mesmo ano, em Goa, e, no ano seguinte, queimada na fogueira pela prática do judaísmo. A Inquisição condenou Garcia de Orta, postumamente, pela prática do judaísmo, e, num auto de fé realizado em 1580, seus restos mortais foram exumados e queimados. O que aconteceu às suas filhas não é sabido.
O luso-tropicalismo de Gilberto Freire – A folha de parreira do colonialismo português
A fim de ganhar apoio para a sua política colonialista, Salazar adotou o “luso-tropicalismo” proposto pelo antropólogo brasileiro Gilberto Freire (1900-87), que, em 1930, fugindo da ditadura de Getúlio Vargas, havia se refugiado em Portugal, onde ele trabalhou como jornalista e em outras ocupações. Embora fosse considerado um esquerdista causador de encrencas no Brasil, Freire sentia-se confortável em Portugal onde desenvolveu a ideia do “luso-tropicalismo”, a noção de que Portugal e suas colônias ultramarinas formavam uma comunidade de nações unidas por uma só língua e cultura. Salazar adotou da ideia de Freire de que, devido a uma combinação de elementos atuais e mitológicos sobre a democracia racial e a “missão civilizadora” portuguesa durante seu império, a mesma atitude favorável à miscigenação adotada pelo Brasil estava sendo implementada nas colônias africanas de Portugal. De acordo com Freire, o clima mais ameno de Portugal e a sua herança histórica – formada por celtas, romanos, visigodos, judeus e mouros, tornaram os portugueses mais humanos, amigáveis e adaptáveis a outros climas e culturas. Trocando em miúdos, o colonialismo português era mais tolerante do que os regimes racistas de outros países mais ao norte da Europa, como a Grã-Bretanha, a Holanda (Neerlândia) e a França.
Salazar agarrou a oportunidade e declarou que Portugal era uma nação multicultural, multirracial desde o século XV, desse modo, seria “desmembrado” caso perdesse qualquer um de seus territórios ultramarinos, cujo efeito seria o “fim da independência portuguesa.”
Ironicamente, Salazar havia, originalmente, se oposto às ideias de Freire durante toda a década de 1930, o que em parte se deveu ao fato dele não admitir a miscigenação como um dado positivo. Mas, Salazar adotou o luso-tropicalismo como uma forma de argumentar a favor Portugal no estrangeiro. Nesse aspecto, a reabilitação da figura de Garcia de Orta, o esquema de assentamento de judeus em Angola e a inicial aceitação da uma nova comunidade judaica no Porto iniciada por Artur Barros Basto, foram meros peões no grande tabuleiro de xadrez político. Portugal tentou, desesperadamente, impedir a tomada de Goa pela Índia, proclamando que isso violava a nobre ideia do luso-tropicalismo português.
Tudo isso é ainda mais irônico pelo fato de que, desde a expulsão dos judeus em 1497, Portugal é o país mais homogêneo da Europa, sem nenhuma minoria cultural, religiosa ou linguística. Apesar disso, o antissemitismo era tão enraizado que, durante as guerras napoleônicas, quando os portugueses com a ajuda dos britânicos derrotaram o exército invasor francês, as tropas francesas eram referidas por termos depreciativos como “ateus jacobinos” e “judeus malditos, indignos de um enterro cristão”.
O conflito em Goa e o colapso do colonialismo português
Em 15 de agosto de 1955, entre três e cinco mil ativistas indianos, desarmados, tentaram entrar em Goa em seis localidades e foram violentamente repelidos por oficiais da polícia portuguesa, o que resultou em cerca de 25 mortes. A opinião pública na Índia foi mobilizada, e, em 1956, o primeiro-ministro Salazar argumentou em favor de um referendo em Goa para determinar o seu futuro. Nehru, o Ministro do Exterior da Índia afirmou na imprensa que “a continuação de Goa sob o regime português era uma impossibilidade”. Tanto o Reino Unido quanto os Estados Unidos haviam deixado bastante claro para Salazar que eles não estavam dispostos a defender nenhum dos territórios ultramarinos de Portugal sob as suas obrigações dentro do tratado da OTAN. Os militares portugueses tiveram que se resignar ao fato de que a defesa de Goa era uma missão suicida e renderam-se rapidamente após uma invasão em grande escala em dezembro de 1961.
A ironia final – Garcia de Orta na cédula de 20 escudos
A nova cédula 20 escudos, com um belo e atraente retrato de Garcia de Orta, mais uma ilustração do principal mercado de Goa no verso, foi introduzida em 1968, o mesmo ano em que Salazar sofreu o derrame cerebral que o obrigou a afastar-se do governo e causou sua morte dois anos depois. Entretanto, a última risada foi da História. Depois de Goa, todos os domínios coloniais portugueses foram se tornando independentes, um atrás do outro, como um castelo de cartas desabando. A cédula comemorativa da vida de Garcia de Orta, em que Salazar fez desse trágico judeu o símbolo da tolerância de Portugal, é uma lembrança irônica de que a honra que lhe foi concedida veio com um atraso de quatrocentos anos. Do mesmo modo que aconteceu com a Alemanha, Portugal durante séculos pagou a todos os judeus inclusive ele, a sua família, e aos seus descendentes com assassinatos ritualistas, ódios, perseguições, humilhações e menosprezo. À luz dos fracassos tipo ‘folha de parreira’ do passado, espera-se que a recente lei a qual promete conceder cidadania aos judeus de origem portuguesa tenha sido concebida de uma forma mais séria e mais honesta, e que venha a ser implementada com a nobreza de espírito que as comunidades sefarditas verdadeiramente merecem.
Norman Berdichevsky é um americano especializado em geografia humana com um forte interesse nas culturas hispânica e portuguesa. Ele é autor de diversos livros e muitos artigos e ensaios. Ele também faz parte do corpo editorial de PortVitoria.
Nota
Referente ao Caso Dreyfus (em francês: Affaire Dreyfus), um escândalo político que dividiu a França por muitos anos, do final do século XIX ao início do século XX. Centrava-se na condenação por alta traição de Alfred Dreyfus em 1894, um oficial de artilharia do exército francês, de origem judaica. O acusado sofreu um processo fraudulento conduzido a portas fechadas. Dreyfus era, em verdade, inocente: a condenação baseava-se em documentos falsos. Quando os oficiais de alta patente franceses se aperceberam disto, tentaram ocultar o erro judicial. A farsa foi acobertada por uma onda de nacionalismo e xenofobia que invadiu a Europa no final do século XIX.
Tradução: Joaquina Pires-O’Brien (UK)
Revisão: Débora Finamore (Brasil)
Citação:
Berdichevski, N. As fracassadas tentativas de reparação aos judeus de Portugal. PortVitoria, UK, v.11, Jul-Dec, 2015. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com
O objetivo do presente trabalho é apresentar alguns exemplos de influência judaica na língua portuguesa, a partir de uma ampla pesquisa sociolinguística que venho desenvolvendo há anos. A opção por judaica (e não hebraica) deve-se a uma perspectiva filológica e histórica mais abrangente, englobando dialetos e idiomas judaicos, como o ladino (judeu-espanhol) e o iídiche (alemão), entre os mais conhecidos, além de vocábulos judaicos e expressões hebraicas que passaram a integrar o vernáculo a partir de subterfúgios e/ ou corruptelas, cuja origem remonta à bagagem cultural de colonizadores judeus, cristãos-novos e marranos.
Há uma significativa probabilidade estatística de brasileiros descendentes de ibéricos, principalmente portugueses, terem alguma ancestralidade judaica. A base histórica para tal é a imigração maciça de judeus expulsos da Espanha, em 1492, para Portugal, devido à contiguidade geográfica e às promessas (não cumpridas) do Rei D. Manuel I, que traziam esperança de sua sobrevivência judaica como tal. Mesmo com a expulsão de Portugal em 1497, os judeus (além dos cristãos-novos e dos cripto-judeus ou marranos) chegaram a constituir 20 a 25% da população local.
Sefaradim (de Sefarad, Espanha, da Península Ibérica) procuraram refúgio em países próximos no Mediterrâneo, norte da África, Holanda e nas recém-descobertas terras de além-mar nas Américas, procurando escapar da Inquisição. Até hoje é controversa a origem judaica ou criptojudaica de descobridores e colonizadores do Brasil, para onde imigraram incontáveis cristãos-novos, alternando durante séculos uma vida como judeus assumidos e marranos, praticando o judaísmo secretamente (fora os que permaneceram efetivamente católicos), de acordo com os ventos políticos, sob o domínio holandês ou a atuação da Inquisição, variando de um clima de maior tolerância e liberdade à total intolerância e repressão.
Comparando apenas sob o ponto de vista cronológico, nem sempre lembramos que, enquanto o Holocausto na Segunda Guerra Mundial foi tão devastador, especialmente nos quatro anos de extermínio maciço de judeus, a Inquisição durou séculos, pelo menos três dos cinco da história “oficial” do Brasil, isto é, após o descobrimento. Tantos séculos de medo, denúncias, processos e mortes, geraram, por um lado, um ambiente psicológico de terror para os judeus e cristãos novos no Brasil; por outro, um antissemitismo evidente ou subliminar que permaneceu arraigado na população, inclusive como autodefesa e proteção.
Uma característica do comportamento de cristãos-novos “suspeitos” foi procurar ser “mais católicos do que os católicos”, buscando sobreviver à intolerância e determinando práticas socioculturais e linguísticas.
A citada alternância entre vidas assumidamente judaicas e marranas, praticando judaísmo em segredo, com costumes variados, unificados pela “camuflagem” de seu teor judaico, gerou comportamentos e aspectos culturais (abrangendo rituais, superstições, ditados populares, etc.) que se arraigaram à cultura nacional. A maioria da população desconhece que muitos costumes e dizeres que fazem parte da cultura brasileira têm sua origem em práticas criptojudaicas. Apresentarei alguns exemplos bem como suas origens e explicações, a partir da origem judaica “marrana”.
“Gente da nação” é uma das denominações para designar marranos, judeus, cristãos-novos e criptojudeus, embora existam diferenças entre termos e personagens.
Cristãos-novos foi denominação dada aos judeus que se converteram em massa na Península Ibérica nos séculos XIII e XIV; é preconceituosa devido à distinção feita entre os mesmos e os “cristãos-velhos”, concretizado nas leis espanholas discriminatórias de “Limpieza de Sangre” do século XV.
Criptojudeus eram os cristãos-novos que mantiveram secretamente seu judaísmo. Gente da nação era a expressão mais utilizada pela Inquisição e Marranos, como ficaram mais conhecidos. Embora todos fossem descendentes de judeus, só poucos voltaram a sê-lo, e em países e épocas que o permitiram.
O próprio termo “marrano” possui uma etimologia diversificada e antitética. Unterman (1992: 166), conceitua de forma tradicional, como “nome em espanhol para judeus convertidos ao cristianismo que se mantiveram secretamente ligados ao judaísmo. A palavra tem conotação pejorativa” geralmente aplicada a todos os criptojudeus, particularmente aos de origem ibérica. Em 1391 houve uma maciça conversão forçada de judeus espanhóis, mas a maioria dos convertidos conservou sua fé. Já Cordeiro (1994), com base nas pesquisas de Maeso (1977), afirma que a tradução por “porco” em espanhol tornou-se secundária diante das várias interpretações existentes na histografia do marranismo.
Para o historiador Cecil Roth (1967), marrano, velho termo espanhol que data do início da Idade Média que significa porco, aplicado aos recém-convertidos (a princípio ironicamente devido à aversão judaica à carne de porco), tornou-se um termo geral de repúdio que no século XVI se estendeu e passou a todas as línguas da Europa ocidental.
A designação expressa a profundidade do ódio que o espanhol comum sentia pelos conversos com quem conviviam. Seu uso constante e cotidiano carregado de preconceito turvou o significado original do vocábulo. Em “Santa Inquisição: terror e linguagem”, Lipiner (1977) apresenta as definições: “Marranos: As derivações mais remotas e mais aceitáveis sugerem a origem hebraica ou aramaica do termo. Mumar: converso, apóstata. Da raiz hebraica mumar, acrescida do sufixo castelhano ano derivou a forma composta mumrrano, abreviado: Marrano. Tratar-se-ia, pois de um vocábulo hebraico acomodado às línguas ibéricas. Marit-áyin: aparência, ou seja, cristão apenas na aparência. Mar-anús: homem batizado à força. Mumar-anus: convertido à força. Contração dos dois termos hebraicos, mediante a eliminação da primeira sílaba”. Anus, em hebraico, significa forçado, violentado.
Antes de exemplificar a contribuição linguística marrana, convém ressaltar que a vinda dos portugueses para o Brasil trouxe consigo todos os empréstimos culturais e linguísticos que já haviam sido incorporados ao cotidiano ibérico, desde uma época anterior à Inquisição, além de novos hábitos e características; muitas palavras e expressões de origem hebraica foram incorporadas ao léxico da língua portuguesa mesmo antes de os portugueses chegarem ao Brasil. Elas encontram-se tão arraigadas em nosso idioma que muitas vezes têm sua origem confundida como sendo árabe ou grega. Exemplo: a “azeite”, comumente atribuída uma origem árabe por se assemelhar a um grande número de palavras começadas por “al-” (como alface, alfarrábio, etc.), identificadas como sendo de origem árabe por esta partícula corresponder ao artigo nesta língua. O artigo definido hebraico é a partícula “a-” e “azeite” significa, literalmente, em hebraico “a azeitona” (ha-zait).
Apesar da presença judaica por tantos séculos, em Portugal como no Brasil, as perseguições resultaram também em exclusões vocabulares. A maior parte dos hebraísmos chegou ao português por influência da linguagem religiosa, particularmente da Igreja Católica, fazendo escala no grego e no latim eclesiásticos, quase sempre relacionados a conceitos religiosos, exemplos: aleluia, amém, bálsamo, cabala, éden, fariseu, hosana, jubileu, maná, messias, satanás, páscoa, querubim, rabino, sábado, serafim e muitos outros.
Algumas palavras adotaram outros significados, ainda que relacionados à ideia do texto bíblico. Exemplos: babel indicando bagunça; amém passando a qualquer concordância com desejos; aleluia usada como interjeição de alívio.
O preconceito marca palavras originárias do hebraico usadas de forma depreciativa, como: desmazelo (de mazal – negligência, desleixo), malsim (de mashlin – delator, traidor), zote (de zot / subterrâneo, inferior, parte de baixo – pateta, idiota, parvo, tolo), ou tacanho (de katan – que tem pequena estatura, acanhado; pequeno; estúpido, avarento); além de palavras relacionadas a questões financeiras, como cacife, derivada de kessef = dinheiro.
Dezenas de nomes próprios têm origem hebraica bíblica, como: Adão, Abraão, Benjamim, Daniel, Davi, Débora, Elias, Ester, Gabriel, Hiram, Israel, Ismael, Isaque, Jacó, Jeremias, Jesus, João, Joaquim, José, Judite, Josué, Miguel, Natã, Rafael, Raquel, Marta, Maria, Rute, Salomão, Sara, Saul, Simão e tantos outros. Alguns destes, na verdade, são nomes aramaicos, oriundos da Mesopotâmia, como Abraão (Avraham), que se incorporaram ao léxico hebraico no início da formação do povo hebreu.
Podemos citar centenas de nomes e sobrenomes de judaizantes e números de seus dossiês, desde a instalação da Inquisição no Brasil, a partir dos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, e de livros como Wiznitzer (1966), Carvalho (1982), Falbel (1977), Novinsky (1983), Dines (1990), Cordeiro (1994), etc. Sobrenomes muito comuns, tanto no Brasil como em Portugal, podem ser atribuídos a uma origem sefardita, já que uma das características marcantes das conversões forçadas era a adoção de um novo nome. Muitos conversos adotaram nomes de plantas, animais, profissões, objetos, etc., e estes podem ser encontrados em famílias brasileiras, até hoje, em número tão grande que seria difícil enumerá-los. Exemplos: Alves, Carvalho, Duarte, Fernandes, Gonçalves, Lima, Silva, Silveira, Machado, Paiva, Miranda, Rocha, Santos, etc. Não devemos excluir a possibilidade da existência de outros sobrenomes portugueses de origem judaica.
Porém é importante ressaltar que não se pode afirmar que todo brasileiro cujo sobrenome conste dos processos seja descendente direto de judeus portugueses; para se ter certeza é necessária uma pesquisa profunda da árvore genealógica das famílias.
Há ainda algumas palavras e expressões oriundas do misticismo judaico, tão desenvolvido na idade média. O estudo do Talmud e da Cabalá trouxe também contribuições do aramaico, como a conhecida expressão “abracadabra”, que é tida pela nossa cultura como uma “palavra mágica” (num sentido fabuloso), mas que, na realidade pode ser traduzida como “criarei à medida que falo” (num sentido real e sólido para a cultura judaica).
Algumas palavras também designam práticas judaicas ou formas de encobri-las, especialmente observável nos costumes alimentares. Por exemplo: os judeus são proibidos pela Torá de comer carne de porco, porque tem os cascos fendidos e não rumina, sendo, portanto, impuro. Para simular o abandono desse princípio e enganar espiões da Inquisição, os cristãos-novos inventaram as alheiras, embutidos à base de carne de vitelo, pato, galinha, peru – e nada de porco. Após algumas horas de defumação já podem ser consumidos. Da mesma forma, peixes “de couro” (sem escamas) não serviam para consumo.
Passando às expressões, apresento alguns exemplos, sua origem e explicação:
– “Ficar a ver navios” – Em 1492 foi determinado que os judeus que não se convertessem teriam de deixar a Espanha até ao fim de julho. Centenas de milhares então se fixaram em Portugal. O casamento do rei D. Manuel com D. Isabel, filha dos Reis Católicos, levou-o a aceitar a exigência espanhola de expulsar todos os judeus residentes em Portugal que não se convertessem ao catolicismo, num prazo que ia de Janeiro a Outubro de 1497. O rei Dom Manuel precisava dos judeus portugueses, pois eram toda a classe média e toda a mão de obra, além da influência intelectual. Se Portugal os expulsasse logo como fez a Espanha, o país passaria por uma crise terrível. Na realidade D. Manuel não tinha qualquer interesse em expulsar esta comunidade, que então constituía um destacado elemento de progresso nos setores da economia e das profissões liberais. A sua esperança era que, retendo os judeus no país, os seus descendentes pudessem eventualmente, como cristãos, atingir um maior grau de aculturação. Para obter os seus fins lançou mão de medidas extremamente drásticas, como ter ordenado que os filhos menores de 14 anos fossem tirados aos pais a fim de serem convertidos. Então fingiu marcar uma data de expulsão na Páscoa. Quando chegou a data do embarque dos que se recusavam a aceitar o catolicismo, alegou que não havia navios suficientes para os levar e determinou um batismo em massa dos que se tinham concentrado em Lisboa à espera de transporte para outros países. No dia marcado, estavam todos os judeus no porto esperando os navios que não vieram. Todos foram convertidos e batizados à força, em pé. Daí a expressão: “ficaram a ver navios”. O rei então declarou: não há mais judeus em Portugal, são todos cristãos (cristãos-novos). Muitos foram arrastados até a pia batismal pelas barbas ou pelos cabelos.
– “Pensar na morte da bezerra”: frase tão comumente dita por sertanejos quando querem referir-se a alguém que está meditando com ares de preocupação: “está pensando na morte da bezerra”. Registram as denunciações e as confissões feitas ao Santo Oficio, a noção popular, naquele distante período, do que seria o livro fundamental do judaísmo: a Torá. De Torá veio Toura e depois, bezerra, havendo inclusive quem afirmasse ter visto em cara de alguns cristãos-novos, o citado objeto, com chifres e tudo.
– “Passar a mão na cabeça”, com o sentido de perdoar ou acobertar erro cometido por algum protegido, é memória da maneira judaica de abençoar de cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela face, enquanto pronunciava a bênção.
– Seridó, região no Rio Grande do Norte, tem seu nome originário da forma hebraica contraída: Refúgio dele. Porém, não é o que escreve Luís da Câmara Cascudo, indicando uma origem indígena do nome da região, de “ceri-toh”. Em hebraico, a palavra Sarid significa sobrevivente. Acrescentando-se o sufixo ó, temos a tradução sobrevivente dele. A variação Serid, “o que escapou”, pode ser traduzido também por refúgio. Desse modo, a tradução para o nome seridó seria refúgio dele ou seus sobreviventes.
– Passar mel na boca: quando da circuncisão, o rabino passa mel na boca da criança para evitar o choro. Daí a origem da expressão: “Passar mel na boca de fulano”.
– Para o santo: o hábito sertanejo de, antes de beber, derramar uma parte do cálice, tem raízes no rito hebraico milenar de reservar, na festa de Pessach (Páscoa), um copo de vinho para o profeta Elias (representando o Messias que virá, anunciado pelo Profeta Elias).
– “Que maçada!” –usada para se referir a uma tragédia ou contratempo, é uma alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio coletivo para não se renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.
– “Pagar siza” significando pagar imposto vem do hebraico e do aramaico (mas = imposto, em hebraico, e misa, em aramaico).
– “Vestir a carapuça” ou “a carapuça serve para …” vem da Idade Média inquisitorial, quando judeus eram obrigados a usar chapéus pontudos (ou com três pontas) para serem identificados.
– “Fazer mesuras” origina-se na reverência à Mezuzá (pergaminho com versículos de DT.6, 4-9 e 11,13-21, afixado, dentro de caixas variadas, no batente direito das portas).
– “Deus te crie” após o espirro de alguém é uma herança judaica da frase Hayim Tovim, que pode ser traduzido como tenha uma boa vida.
– “Pedir a bênção” aos pais, ao sair e chegar em casa, é prática judaica que remonta à bênção sacerdotal bíblica, com a qual pais abençoam os filhos, como no Shabat e no Ano Novo.
– “Entrar e sair pela mesma porta traz felicidade” bem como o costume de varrer a casa da porta para dentro, costume arraigado até os dias de hoje, para “não jogar a sorte fora” é uma camuflagem do respeito pela Mezuzá, afixada nos portais de entrada, bem como aos dias de faxina obrigatória religiosa judaica, como antes do Shabat (Sábado, dia santo de descanso semanal) e de Pessach.
– “Apontar estrelas faz crescer verrugas nos dedos” era a superstição que se contava às crianças para não serem vistas contando estrelas em público e denunciadas à Inquisição, pois o dia judaico começa no anoitecer do dia anterior, ao despontar das primeiras estrelas, dado necessário para identificar o início do Shabat e dos feriados judaicos.
Para concluir, gostaria de mencionar um tema polêmico decorrente deste intercâmbio cultural e religioso: sua influência no português, em vocábulos que adquiriram uma conotação pejorativa e negativa. Os mais discutidos são: judeu, significando usurário, o verbo judiar (e o substantivo judiação) com o sentido de maltratar, torturar, atormentar. Seja sua origem a prática de “judaizar” (cristãos-novos mantendo judaísmo em segredo e/ ou divulgando-o a outros), seja como referência ao maltrato e às perseguições sofridas pelos judeus durante a Inquisição, o fato é que, sem dúvidas, sua conotação é negativa, e cabe a nós estudiosos do assunto e vítimas do preconceito, esclarecer a população e a mídia, alertando e visando à erradicação deste uso, não só pelo desgastado “politicamente correto”, que leva a certos exageros, mas para uma conscientização do eco subliminar de um longo passado recente, Pelo qual não basta o pedido de perdão, se não conduzir a uma mudança no comportamento social.
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Joaquina Pires-O’Brien is a Brazilian-born essayist and independent scholar based in the United Kingdom. She was educated in Brazil, the United States and England, and received her PhD from the University of London in 1991. She published her first essays and reviews in Contemporary Review, between 1999 and 2008, and afterwards in PortVitoria – www.portvitoria.com –, a digital magazine dedicated to speakers of Portuguese and Spanish around the world. O Homem Razoável e Outros Ensaios (The Reasonable Man and other essays; 2016) is her first book aimed at the general public.
Biografia
Joaquina Pires-O’Brien é uma ensaísta brasileira residente na Inglaterra. Estudou no Brasil, nos Estados Unidos e na Inglaterra, e, obteve o PhD pela Universidade de Londres em 1991). Publicou os seus primeiros ensaios e resenhas na revista Contemporary Review, entre 1999 e 2008, e a partir de 2010, em PortVitoria – www.portvitoria.com –, revista digital dedicada aos falantes de português e espanhol de todo o mundo. O Homem Razoável e Outros Ensaios (2016) é o seu primeiro livro destinado ao público em geral.
Biografía
Joaquina Pires-O’Brien es una ensayista brasileña que vive en el Reyno Unido. Se educó en Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, obtenendo un doctorado de la Universidad de Londres en 1991. Publicó sus primeros ensayos y reseñas en Contemporary Review, entre 1999 y 2008, y después en PortVitoria – www.portvitoria. Com –, una revista digital dedicada a los hablantes de portugués y español en todo el mundo. El Hombre Razonable y Otros Ensayos (2016) es su primer libro destinado al público en general.
Biografia Completa
Joaquina Pires-O’Brien é uma ensaísta brasileira residente na Inglaterra, cujo nome de registro é Maria Joaquina Pinheiro Pires. Nasceu em 1953, em Alegre, onde morou até os 15 anos de idade quando sua família se mudou para Vitória. Estudou Ciências Biológicas na UFES, de 1972 a 1974, tendo deixado o curso quando foi morar no estado de Washington, nos Estados Unidos, após ter se casado com um americano voluntário do Peace Corps. Em 1975, matriculou-se na Central Washington State College (atualmente Central Washington University), onde, em 1978, obteve o bacharelado em artes (B.A.) com major (optativa maior) em Botânica. Estudou também na Oregon State University, Corvallis, onde, em 1980, obteve o M.Sc., e, mais tarde, na University College London, instituição afiliada à Universidade de Londres, da qual obteve o PhD em 1991. Entre 1980 e 1988, trabalhou no CNPq e na Embrapa/Cenargen (com bolsa do IICA), em Brasília, e, na Companhia Florestal Monte Dourado, no Pará. Nessa última, ela colheu os dados para a sua tese Phenology of Selected Tropical Trees from Jari, Lower Amazon, Brazil (Fenologia de árvores tropicais selecionadas da região do Jari, Baixo Amazonas, Brasil). Enquanto estudava em Londres, conheceu seu segundo marido, Carl O’Brien, o qual pediu demissão de seu emprego no Centro de Computação da Universidade de Londres para acompanhá-la de volta ao Brasil. O casal trabalhou com bolsas de pesquisa no Museu Paraense Emílio Goeldi e, em seguida, como professores visitantes, na Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP, atualmente Universidade Federal Rural do Amazonas – UFRA). Após mudar-se para a Inglaterra, em 1995, Joaquina reinventou-se, como tradutora e intérprete, e decidiu também escrever. Um ensaio seu sobre o livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, foi aceito pela revista Contemporary Review em 1999, e, a partir daí, continuou publicando regularmente na mesma revista até 2008. Publicou ainda diversos ensaios e resenhas em PortVitoria, revista digital centrada na cultura ibero-americana, que ela própria fundou em 2010. O Homem Razoável e Outros Ensaios (2016), uma coleção de 23 ensaios sobre temas da atualidade, é o seu primeiro livro dedicado ao grande público.
Publications
Non Fiction Books (For the General Public)
PIRES-O’BRIEN, J. O Homem Razoável e Outros Ensaios. eBook, Beccles: PortVitoria, 2016. Disponível em: amazon.com.
PIRES-O’BRIEN, J. El Hombre Razonable y Otros Ensayos. eBook, Beccles: PortVitoria, 2016. Disponível em: amazon.com.
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PIRES-O’BRIEN, M.J. & O’BRIEN, C.M. Aspectos Evolutivos da Fenologia Reprodutiva das Árvores Tropicais. Belém: FCAP, 1995, 25p.
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SCRUTON, R. Fools, Frauds and Firebrands. Thinkers of the New Left. London: Bloomsbury, 2015. Resenha de: PIRES-O’BRIEN, J. (Sem Picadinho, Sem Newspeak) PortVitoria 13, Jul-Dec 2016.
Editorials Published in PortVitoria (www.portvitoria.com)
• Welcome to PortVitoria! Issue 1. Jul – Dec 2010.
• 200 Years of the Independence of Latin America. Issue 2. Jan – Jun 2011.
• A Tribute to Mario Vargas Llosa. Issue 3. Jul – Dec 2011.
• Conflicts in the West and the Arab Spring. Issue 4. Jan – Jun 2012.
• Not Learning From Ones Mistakes. Issue 5. Jul – Dec 2012.
• Norway: the Wealth Beyond GDP. Issue 6. Jan – Jun 2013.
• Insurgencies and the Threat of Repolarization. Issue 7. Jul – Dec 2013.
• Liberal Education and the Uncertainties of Culture. Issue 8. Jan – Jun 2014.
• History’s Link to Humanity. Issue 9. Jul – Dec 2014.
• Fukuyama on Corruption. Issue 10. Jan – Jun 2015.
• Of Iberian Jews, Conversos and the Inquisition. Issue 11. Jul – Dec 2015.
• The Knights Out There. Issue 12. Jan – Jul 2016.
• The Tetra Centenary of Cervantes and Shakespeare. Issue 13. Jul – Dec 2016.
• What defines a liberal mind? Issue 14. Jan – Jun 2017.