Discurso sobre a educação liberal
Leo Strauss
A filosofia é o cultivo das faculdades mentais; ela extirpa os vícios e prepara a mente para receber a semente apropriada. Cícero
Vocês adquiriram uma educação liberal. Eu os congratulo pela conquista. Se pudesse, eu os aplaudiria pela realização. Mas estaria sendo insincero para com a obrigação que assumi se não complementasse as minhas congratulações com um aviso. A educação liberal que vocês adquiriram evitará o perigo de esse aviso ser tomado como um conselho de desespero.
A educação liberal é a educação em cultura ou voltada para a cultura. O produto acabado de uma educação liberal é um ser humano cultivado. No seu sentido primário, ‘cultura’ significa agricultura: o cultivo do solo e dos seus produtos, o cuidado do solo e seu melhoramento de acordo com a sua natureza. No seu sentido derivado de hoje em dia ‘cultura’ significa principalmente o cultivo da mente e o aprimoramento das faculdades inatas da mente, de acordo com a sua natureza. Assim como o solo requer agricultores, a mente requer professores. Mas os professores não são tão fáceis de se achar como os agricultores.
Os dois tipos de professores
Os professores são e devem ser alunos. Mas não pode haver um regresso infinito: em última análise deve haver professores que não são alunos. Tais professores que não são alunos são as grandes mentes, ou para evitar qualquer ambiguidade num tema de tal importância, as mentes mais brilhantes. Tais indivíduos são extremamente raros. É improvável que encontremos um deles numa sala de aula qualquer. É improvável que encontremos um deles em qualquer lugar. É um naco de sorte haver algum deles vivo durante a vida de alguém. Para todos os fins práticos, os alunos, qualquer que seja seus graus de proficiência, têm acesso aos professores que não são alunos, ou seja, às grandes mentes, apenas através dos grandes livros.
A educação liberal consiste em estudar com o devido cuidado os grandes livros que as grandes mentes deixaram – é um estudo em que alunos mais experientes ajudam os menos experientes, incluindo os que são principiantes. Isso não é uma tarefa tão fácil como parece se considerarmos a fórmula que acabo de mencionar. Tal fórmula requer um comentário delongado. Muitas vidas foram gastas e ainda serão gastas na escritura de tais comentários. Por exemplo, o que significa a afirmação de que os grandes livros devem ser estudados ‘com o devido cuidado’? No momento eu estou mencionando apenas uma dificuldade que é óbvia a vocês todos: as mentes mais brilhantes não nos contam as mesmas coisas sobre os temas mais importantes; a comunidade das mentes mais brilhantes é marcada pelo rasgo da discórdia e por apresentar os mais diversos tipos de discórdia. Sejam quais forem as consequências adicionais que isso acarrete, uma consequência certa disso é que a educação libera não pode ser simplesmente uma doutrinação.
A Dificuldade de Entender a Cultura
Eu menciono ainda outra dificuldade. ‘A educação liberal é a educação em cultura.’ Em qual cultura? A nossa resposta é: a cultura no sentido da tradição do Ocidente. Mas a cultura do Ocidente é apenas uma dentre diversas culturas. Se nos limitarmos à cultura Ocidental não estaríamos condenando a educação liberal a um tipo de paroquialismo? E não é o paroquialismo incompatível com o liberalismo, com a generosidade e com a mente aberta característicos da educação liberal? A nossa noção de educação liberal parece não se encaixar em uma época consciente do fato de que não existe uma cultura da mente humana e sim uma variedade de culturas. Obviamente, a ‘cultura’, quando suscetível de ser empregada no plural, não é bem a mesma coisa do que a ‘cultura’que é um singulare tantum, isto é, que só pode ser empregada no singular. A ‘cultura’ agora já não é mais, como as pessoas dizem, um absoluto, pois tornou-se relativa.
Não é fácil explicar o significado da cultura suscetível de ser empregada no plural. Em consequência dessa obscuridade, já foi sugerido tanto de forma explicita quanto implícita, que ‘cultura’ é qualquer padrão de conduta comum a qualquer agrupamento humano. Por essa razão, nós não hesitamos em falar da cultura suburbana ou das culturas das gangues juvenis tanto de não-delinquentes quanto de delinquentes. Em outras palavras, todo ser humano fora de um manicômio é um ser de cultura, pois participa de uma cultura. E nas fronteiras da pesquisa surge a questão se também não haveria culturas de internos de manicômios. Se contrastarmos o uso presente de ‘cultura’ com o significado original, seria como se alguém afirmasse que o cultivo de um jardim consiste no jardim ser emporcalhado com latas e garrafas de uísque vazias e vários tipos de papel usado jogados a esmo. E uma vez que chegamos a este ponto, nós então reconhecemos que perdemos o caminho. Vamos então começar tudo de novo fazendo uma pergunta: o que a educação liberal significa aqui e agora?
Educação liberal e democracia
Educação liberal é uma variedade de educação literária: um tipo de educação em letras ou através das letras. Numa democracia não há necessidade de defender a cultura letrada; cada eleitor sabe que a democracia moderna prevalece ou cai pela cultura letrada. A fim de compreender isto precisamos refletir sobre a democracia moderna. O que é a democracia moderna? Alguém uma vez afirmou que a democracia é o regime que prevalece ou cai pela virtude. Nesse caso, a democracia é um regime no qual todos ou a maior parte dos adultos são indivíduos virtuosos; e como a virtude parece requerer sabedoria, é um regime onde todos ou a maior parte dos adultos são indivíduos virtuosos e sábios; uma sociedade em que todos ou a maior parte dos adultos desenvolveu o seu juízo até um grau elevado; ou seja, uma sociedade racionalista. A democracia numa só palavra significa uma aristocracia que se estendeu numa aristocracia universal.
Antes da emergência da democracia moderna dúvidas foram levantadas se a democracia assim entendida era possível. Conforme colocou uma das duas mentes mais brilhantes dentre os teóricos da democracia, ‘se existisse um povo que fosse constituído por deuses1, tal povo governar-se-ia democraticamente. Um governo de tal perfeição não se adequa aos seres humanos.’ Essa baixa e impávida voz tornou-se hoje um possante auto-falante. Existe uma ciência inteira – uma ciência que eu, dentre milhares de outros, professo ensinar: a ciência política. Na ciência política não há nenhum outro tema senão o contraste entre a concepção original de democracia, ou daquilo que se pode chamar de ideal de democracia, e a democracia como ela é.
De acordo com uma visão extrema, que é a visão predominante na minha profissão, o ideal da democracia foi pura ilusão e a única coisa relevante é o comportamento das democracias e das pessoas nas democracias. A democracia moderna, longe de ser uma aristocracia universal, seria o governo da massa, se não fosse o fato de que a massa não consegue governar, mas é governada pelas elites, i.e., por agrupamentos de pessoas que por alguma razão qualquer estão no topo ou têm uma boa chance de chegar ao topo.
Uma das virtudes mais importantes requeridas para o bom funcionamento da democracia, segundo a concepção da massa, é a apatia eleitoral, i.e., a falta de espírito público; não seria o sal da terra o sal da democracia moderna, mas sim aqueles cidadãos que não leem nada além das páginas de esporte e a seção de tiras cômicas dos jornais. Nesse caso, a democracia não é nem mesmo um governo da massa mas apenas uma cultura da massa. Uma cultura da massa que pode ser apropriada pelas mais ínfimas capacidades, desprovidas de qualquer força intelectual e moral, e por um preço monetário bastante baixo. Mas mesmo uma cultura de massa, e precisamente a cultura de massa, requer um suprimento constante daquilo que é designado de novas ideias, que são os produtos das chamadas mentes criativas: até os comerciais cantados perdem seu apelo se não mudarem de tempos em tempos. Mas a democracia, mesmo que seja relegada à casca dura externa que protege a cultura de massa macia, a longo prazo requer qualidades de um tipo inteiramente diferente: qualidades de dedicação, de concentração, de amplitude e de profundidade. Assim nós podemos entender melhor o que a educação liberal significa aqui e agora.
A educação liberal é o antídoto da cultura de massa, dos efeitos corrosivos da cultura de massa, da sua inerente tendência a não produzir nada além de ‘especialistas desprovidos de espírito ou de visão e voluptuários sem coração’. A educação liberal é a escada pela qual tentamos ascender da democracia da massa para a democracia na sua forma original. A educação liberal é o esforço necessário de se criar uma aristocracia dentro de uma sociedade de massa democrática. A educação liberal faz lembrar a grandeza humana a todos os integrantes da democracia de massa que têm orelhas para ouvir.
O desejo de retornar à natureza
Alguém poderia dizer que esta noção de educação liberal é meramente política, que ela assume dogmaticamente que a democracia moderna seja boa. Alguém poderia perguntar: Será que não poderíamos dar as costas à sociedade moderna? Será que não poderíamos retornar à natureza, à vida das tribos pré-letradas? Por acaso não estaríamos esmagados, nauseados e degradados pela quantidade de material impresso, cemitérios de tantas florestas belas e majestosas? Não basta dizer que isso é um mero romantismo, que nós hoje não podemos retornar à natureza: não poderiam as gerações vindouras, após um cataclismo causado pelo homem, ser compelidas a viver em tribos iletradas? Por acaso os nossos pensamentos acerca das guerras termonucleares não seriam afetados por tais prospectos? O certo é que os horrores da cultura de massa (que incluem as excursões turísticas de reintegração na natureza) tornam incompreensível o desejo de retornar à natureza.
Uma sociedade iletrada é na melhor das hipóteses uma sociedade regida por costumes ancestrais antiquíssimos que são traçados a fundadores originais que seriam deuses, filhos de deuses ou alunos de deuses; e como não há escrita em tal sociedade, os herdeiros recentes não podem estar em contato direto com os fundadores originais; eles não podem saber se os pais ou os avós não se desviaram daquilo que os fundadores originais instauraram, ou se não desvirtuaram a mensagem divina com adições meramente humanas ou com subtrações; por tudo isso, uma sociedade iletrada não pode consistentemente agir conforme o seu próprio princípio de que o melhor é o que é mais velho.
O tesouro dos grandes livros
Apenas os escritos que vieram dos fundadores podem tornar possível que eles falem diretamente com os seus últimos herdeiros. Portanto, é uma contradição querer retornar à cultura iletrada. Nós somos compelidos a viver com livros. Mas a vida é curta demais para viver com quaisquer outros livros que não sejam os grandes livros. A esse respeito e a alguns outros mais, nós agimos bem em adotar como nosso modelo uma das mentes mais brilhantes, que pelo seu bom senso virou o mediador entre nós e o restante das mentes mais brilhantes. Sócrates nunca escreveu um livro, mas ele lia livros. Permitam-me citar uma frase de Sócrates que diz quase tudo que precisa ser dito na nossa matéria com a nobre simplicidade e a grandeza silenciosa dos antigos. ‘Assim como outras pessoas ficam contentes com um bom cavalo ou cão ou pássaro, eu ganho contentamento num grau ainda mais elevado através de bons amigos… E os tesouros dos sábios do passado, que eles legaram escrevendo-os em livros, eu os abro e pesquiso juntamente com os meus amigos, e se nós encontramos alguma coisa boa, nós a apanhamos, e a prezamos como um grande ganho quando em consequência dela nós nos tornamos úteis uns aos outros.’O homem que registrou esta declaração acrescentou o seguinte comentário: ‘Quando eu ouvi isto, a mim me pareceu que Sócrates era um bendito e que ele estava conduzindo os ouvintes para a perfeita civilidade.’ Através de outro relato ficamos sabendo que Eurípides certa vez deu a Sócrates os escritos de Heráclito e em seguida pediu a opinião dele sobre tais escritos. Sócrates respondeu: ‘Aquilo que eu entendi é grandioso e nobre; e eu creio que isto também é verdade para aquilo que eu não entendi; mas é preciso ser um mergulhador especial para poder compreender tais escritos.’ O defeito deste relato é que ele não nos diz nada sobre o que Sócrates fez sobre as passagens dos livros dos sábios do passado que ele não sabia se eram boas.
Na qualidade de educação para a perfeita civilidade, para a excelência humana, a educação liberal consiste em recordarmos da excelência humana, da grandeza humana. De que maneira e como a educação liberal nos recorda a grandeza humana? Não podemos pensar suficientemente alto sobre o significado da educação liberal. Nós ouvimos a sugestão de Platão de que a educação no seu sentido mais elevado é filosofia. A filosofia é a busca da sabedoria ou a busca do conhecimento acerca daquilo que é mais importante, mais elevado, ou sobre as coisas mais abrangentes; tal conhecimento, ele sugeriu, é virtude e é felicidade. Mas a sabedoria é inacessível ao homem e portanto a virtude e a felicidade serão sempre imperfeitas. A despeito disso, o filósofo, que, como tal, não é simplesmente um sábio, mas é proclamado o único rei verdadeiro; ele é proclamado possuidor de todas as excelências das quais a mente humana é capaz, no grau mais elevado. Disso nós podemos concluir que não podemos ser filósofos–que não podemos adquirir a forma mais elevada da educação.
A grande conversação
Não devemos nos enganar com o fato de que encontramos muitas pessoas que afirmam ser filósofos. Tais pessoas empregam uma expressão vaga que talvez seja necessária para alguma conveniência administrativa. Frequentemente o que eles querem dizer é simplesmente que eles são integrantes de departamentos de filosofia. E é um absurdo esperar que os integrantes de departamentos de filosofia sejam filósofos assim como esperar que os integrantes de departamentos de arte sejam artistas. Não podemos ser filósofos, mas podemos amar a filosofia; nós podemos tentar filosofar. De qualquer modo esse filosofismo consiste primariamente e fundamentalmente em ouvir a conversação dos grandes filósofos ou, mais genericamente e com maior cautela, as mentes mais brilhantes, e por conseguinte, o estudo dos grandes livros. De nenhuma forma as mentes mais brilhantes às quais devemos ouvir são exclusivamente do Ocidente. É meramente uma necessidade infeliz que nos impede de ouvir as grandes mentes da Índia e da China: não compreendemos as suas línguas, e não podemos aprender todas as línguas.
Reiterando, a educação liberal consiste em ouvir a conversação entre as mentes mais brilhantes. Mas aqui somos confrontados com uma tremenda dificuldade no fato de que essa conversação não ocorre sem a nossa ajuda – de fato, precisamos fazer acontecer essa conversação. As mentes mais brilhantes proferem monólogos. Nós precisamos transformar os seus monólogos em diálogos, os seus ‘lado a lado’ em ‘conjunto’. As mentes mais brilhantes proferem monólogos até quando escrevem diálogos. Quando examinamos os diálogos platônicos, observamos que não há nenhum diálogo entre as mentes da ordem mais elevada: todos os diálogos platônicos são diálogos entre um homem superior e homens a ele inferiores. Platão, aparentemente, achou que ninguém poderia escrever um diálogo entre dois homens da ordem mais elevada. Nós então precisamos fazer algo que as grandes mentes não conseguiram fazer. Vamos enfrentar essa dificuldade–uma dificuldade tão grande que parece estar condenando a educação liberal ao absurdo.
O problema da competência
O fato de as mentes mais brilhantes contradizerem umas às outras em questões importantes nos compele a julgar os seus monólogos; não podemos aceitar em confiança o que nenhuma delas afirma. Por outro lado, não podemos deixar de lembrar que não somos competentes para ser juízes. Esse estado de coisas é escondido de nós por diversas ilusões infundadas. De alguma maneira nós achamos que o nosso ponto de vista é superior, que é mais alto do que os das mentes mais brilhantes–ou porque o nosso ponto de vista é o da nossa época, e como a nossa época é posterior à época das mentes mais brilhantes, pode-se presumir que nossa época é também superior às épocas das mentes mais brilhantes; ou então, porque acreditamos que cada uma das mentes mais brilhantes estava certa no seu ponto de vista, mas não, conforme é apregoado, certa simplesmente: sabemos que não pode haver a visão substantiva que é simplesmente verdadeira, mas apenas uma visão formal que é simplesmente verdadeira; e que a visão formal consiste em discernir o fato de que cada visão ampla é relativa a uma perspectiva específica, ou que todas as visões abrangentes são mutuamente exclusivas, e que, por conseguinte, nenhuma pode ser a simples verdade. As ilusões infundadas que escondem de nós a nossa verdadeira situação, todas elas resumem-se nisto, na ideia de que somos, ou podemos ser, mais sábios do que os homens mais sábios do passado.
E assim somos induzidos a assumir um papel não de ouvintes atentos e dóceis, mas de chefes e ou de domadores de feras. Precisamos ainda enfrentar a nossa arrogante situação, criada pela necessidade de tentar ser mais do que ouvintes atentos e dóceis, isto é, juízes, apesar de não termos a competência para ser juízes. Como os nossos professores imediatos e os professores de professores acreditavam na possibilidade de uma sociedade simplesmente racional, eu penso que a causa dessa situação é termos perdido todas as simples tradições de competência em que poderíamos nos fiar, o nomos que nos poderia dar um modelo de discernimento confiável.
Conselho final
Cada um de nós aqui presente encontra-se compelido a encontrar seu compasso com seu próprio poder, não importando quão falho seja. Não temos outro consolo senão aquele que é inerente a esta atividade. A filosofia, nós aprendemos, precisa se resguardar contra o desejo de ser edificante – a filosofia só pode ser edificante intrinsecamente. Não queremos exercer nossa compreensão sem que de tempos em tempos compreendamos alguma coisa importante; esse ato de compreensão deve vir acompanhado da conscientização da nossa compreensão, do noesis noeseos que significa a compreensão da compreensão. O noesis noeseos é uma experiência tão elevada, tão pura e tão nobre que Aristóteles a atribuiu a Deus. Tal experiência é totalmente independente daquilo que entendemos primariamente como agradável ou desagradável, bonito ou feio. Ela nos leva a entender que todos os males são de certa forma necessários para que possa haver compreensão. Ela nos permite aceitar todos os males que nos atingem e que podem até partir os nossos corações, no nosso ânimo de ser bons cidadãos da Cidade de Deus. Conscientizando-nos da dignidade da mente, percebemos a verdadeira base da dignidade do homem e, por conseguinte, da bondade do mundo, seja lá qual for a maneira como o percebemos, se criado ou não criado, é a casa do homem porque é a casa da mente humana.
A educação liberal, que consiste na interação constante com as mentes mais brilhantes, é um treinamento na forma mais elevada da modéstia, para não dizer da humildade. E ao mesmo tempo é um treinamento em coragem: ela demanda de nós o desligamento completo do barulho, da pressa, da desconsideração e das mesquinharias da Feira das Vaidades dos intelectuais e dos seus inimigos. Ele demanda de nós uma implícita temeridade na determinação de considerar as visões aceitas como meras opiniões, ou considerar as opiniões de centro como sendo opiniões extremas que são pelo menos tão propensas a estar erradas quanto as opiniões mais estranhas e menos populares. A educação liberal é a libertação da vulgaridade. Os gregos tinham uma palavra bonita para a ‘vulgaridade’; eles a designavam apeirokalia, que quer dizer falta de experiência nas coisas belas. A educação liberal nos confere experiência nas coisas belas.
Leo Srauss nasceu na Alemanha em 1899 e faleceu nos Estados Unidos em 1973. Desde que foi para os Estados Unidos em 1938 ele foi professor de ciência política e filosofia na New School for Social Research em Nova Iorque e professor de ciência política na Universidade de Chicago. No ano acadêmico 1954-55 ele foi professor visitante de filosofia e ciência política na Hebrew University de Jerusalém. Dentre os livros que o Professor Strauss escreveu destacam-se The political philosophy of Hobbes, Natural right and history, e Thoughts on Machiavelli. Uma compilação do pensamento de Strauss foi publicada em 1989 no livro editado por Thomas L. Pangle The rebirth of classical political rationalism.
Notas
1. Strauss possivelmente referia-se a James Madison, que escreveu em Os Artigos Federalistas (The Federalist Papers), 51, 1788: ‘Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Se anjos governassem homens, nenhum controle externo ou interno sobre o governo seria necessário. Na criação de um governo administrado por homens e sobre homens, a grande dificuldade deve-se ao fato de que: é preciso primeiro permitir que o governo controle os governados e depois obrigá-lo a controlar a si próprio. A dependência no povo é sem dúvida o controle primário do governo; mas a experiência ensinou à humanidade a necessidade de precauções auxiliares.’ Nota da Tradutora.
2. Este artigo é a tradução com revisão mínima de um discurso proferido na Décimo Exercício de Formatura Anual do Programa de Educação Liberal para Adultos (Tenth Annual Graduation Exercises of the Basic Program of Educação liberal for Adults) na Universidade de Chicago, em 6 de junho de 1959.
Tradução: Joaquina Pires-O’Brien (UK)
Como citar este artigo:
Strauss, L. (2014). Discurso sobre a educação liberal. Tradução de Joaquina Pires-O’Brien. PortVitoria, UK, v. 8, Jan-Jun, 2014. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com.