Emma Lazarus (1849-1887)

Biografia

emma_lazarusEmma Lazarus foi uma poeta norte-americana nascida na cidade de Nova Iorque. É de sua autoria o soneto ‘The New Colossus’ (O Novo Colosso), escrito em 1883, e, em 1912 gravado na placa de bronze colocada no pedestal da Estátua da Liberdade em Nova Iorque.

Emma era a quarta dos sete filhos de Moshe Lazarus e Esther Nathan, judeus sefarditas cujas famílias, originalmente de Portugal, haviam se assentado em Nova Iorque desde o período colonial. O fato de seu pai ter sido um próspero negociante de açúcar aponta para os seus ancestrais do século XVII que, vindos dos Países Baixos, assentaram-se na província de Pernambuco, Brasil, onde se ocuparam na produção de açúcar de cana. Após terem sido escorraçados do Brasil, um grupo resolveu ir para os Estados Unidos. Na viagem, eles foram feitos prisioneiros pelos espanhóis, quando aportaram na Jamaica, mas conseguiram escapar com a ajuda de franceses. O grupo de 23 pessoas, adultos e crianças, embarcou no Sainte Caterine, considerado o “Mayflower Judeu”, e chegou à Nova Amsterdã em 1654(1).

Emma cresceu em Nova Iorque e em Newport, Rhode Island, e foi educada em casa por professores particulares com quem ela estudou mitologia, música, poesia norte-americana, literatura europeia, alemão, francês, e italiano. Seus poemas e suas traduções, escritos quando tinha entre quatorze e dezessete anos, foram publicados por seu pai em 1866, quando ela tinha dezessete anos. Os escritos de Emma atraíram a atenção de Ralph Waldo Emerson, com quem ela correspondeu até a morte deste, em 1882. Em 1884, Emma adoeceu, muito provavelmente devido a um linfoma de Hodgkins, e morreu três anos depois, quando tinha apenas 38 anos de idade. Sua morte mereceu um obituário no The New York Times. Emma Lazarus foi enterrada no cemitério Beth-Olom no bairro do Brooklyn em Nova Iorque.

Carreira Literária

Emma Lazarus escreveu poesias e editou muitas adaptações de poesias alemãs, notavelmente as de Johann Wolfgang von Goethe e Heinrich Heine. Ela também escreveu um romance e duas peças teatrais. Seu soneto ‘The New Colossus’ (O Novo Colosso) inspirou sua amiga Rose Hawthorne Lathrop a fundar a Irmandade Dominicana de Hawthorne. Os muitos amigos de Lazarus se esforçaram para que o soneto dela fosse gravado no pedestal da Estátua da Liberdade o que se deu 25 anos depois de sua morte.

Emma Lazarus começou a interessar-se pela sua ancestralidade judia depois de ter lido o romance de George Eliot, Daniel Deronda, e quando ela tomou conhecimento dos pogroms na Rússia, ocorridos após o assassinato do czar Nicholas II, em 1881. Como resultado dessa violência antissemita, milhares de judeus asquenazitas da província russa do Pale(1) emigraram para Nova Iorque. Isso levou Lazarus a escrever artigos sobre o assunto, bem como o poema que lhe trouxe a maior fama enquanto era viva, ‘Song of a Semite’ (Canção de um Semita) (1882). Nessa altura, Lazarus começou a advogar em favor de refugiados judeus indigentes e ajudou a estabelecer o Instituto Técnico Hebraico em Nova Iorque, o qual tinha como propósito fornecer treinamento vocacional, a fim de ajudar os imigrantes judeus pobres a tornarem autossuficientes.

Ela viajou duas vezes para a Europa, primeiro em 1883 e depois de 1885 a 1887. Ao final da sua segunda viagem, retornou à cidade de Nova Iorque gravemente enferma e morreu dois meses depois, em 19 de novembro de 1887, muito provavelmente do linfoma de Hodgkin’s.

Emma Lazarus notabilizou-se ainda uma importante precursora do movimento Sionista. Ela defendeu a criação de um Estado judeu, 13 anos antes de Theodor Herzl ter começado a usar o termo Sionismo.

Obra Selecionada de Emma Lazarus:

Admetus and Other Poems (1871);

Alide: An Episode of Goethe’s Life (1874);

Emma Lazarus: Selections from Her Poetry and Prose. Edited by Morris Schappes (1944);

Poems and Ballads of Heinrich Heine (1881);

Poems and Translations: Written Between the Ages of Fourteen and Sixteen (1866);

The Poems of Emma Lazarus. 2 vols. (1888);

Songs of a Semite: The Dance to Death and Other Poems (1882);

The Spagnoletto (1876). Lazarus, Emma (1888). The Poems of Emma Lazarus. Houghton, Mifflin and Company.

Fontes:

Fonte1: http://www.poemhunter.com/emma-lazarus/biography/

Fonte2: http://jwa.org/encyclopedia/article/lazarus-emma

Fonte3: https://openlibrary.org/publishers/Office_of_%22The_American_Hebrew,%22

(Na Fonte 3, Emma Lazarus – 93 Poems, in PDF)

 

Notas

  1. Os ancestrais de Emma Lazarus eram judeus portugueses que, após o Edito de Expulsão de 1498, foram primeiramente para a França e, de lá, para os Países Baixos, antes de se aventurarem ir para o Brasil, indo, primeiro, para a Bahia, e em seguida, para Pernambuco. Embora a chegada da Inquisição no Brasil seja frequentemente aceita como sendo o principal motivo pelo qual esses bem sucedidos colonizadores tiveram que deixar o Brasil, a história real de sua perseguição tem diversos elementos. Um desses elementos é o período de 60 anos, entre 1580 e 1640, quando Portugal foi incorporado ao Império Espanhol (de Felipe II), o qual incluía as províncias do sul dos Países Baixos, incorporadas em 1556. Um segundo elemento é o fato de que os holandeses tinham a economia mais bem sucedida da Europa na época, o que incluía as suas ligações comerciais com os colonizadores luso-holandeses de Pernambuco. O terceiro elemento está na inveja da prosperidade financeira dos luso-holandeses por parte dos proprietários de terra luso-brasileiros. E, finalmente, há o uso de duas cartas marcadas: a carta da religião e a carta do nacionalismo, a primeira ligada à delação à Inquisição, e a segunda a incitar revoltas populares.

Fontes:

  • Assis, Angelo Adriano Faria de (2010). A Torá na Terra de Santa Cruz. Revista de História da Biblioteca Nacional, 58, Julho 2010: 18-20.
  • Silva, Leonardo Dantas (2010). A comunidade do arrecife. Revista de História da Biblioteca Nacional, 58, Julho 2010: 22-23.
  • Time Maps: http://www.timemaps.com/history/low-countries-1648ad
  1. A palavra inglesa ‘Pale’ foi tomada emprestada do termo usado para a colônia inglesa na Irlanda do Norte, cujas terras ‘além do Pale’ eram consideradas a ‘Irlanda selvagem’. A província do Pale é chamada em russo cherta postoiannogo zhitel’stva evreev.Reconhecimentos
  2. Compilação: Joaquina Pires-O’Brien (UK)

Revisão: Débora Finamore (Brasil)

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Quatro poemas de Emma Lazarus

The New Collosus

Not like the brazen giant of Greek fame,

With conquering limbs astride from land to land;

Here at our sea-washed, sunset gates shall stand

A mighty woman with a torch, whose flame

Is the imprisoned lightning, and her name

Mother of Exiles. From her beacon-hand

Glows world-wide welcome; her mild eyes command

The air-bridged harbor that twin cities frame.

‘Keep, ancient lands, your storied pomp!’ cries she

With silent lips: ‘Give me your tired, your poor,

Your huddled masses yearning to breathe free,

The wretched refuse of your teeming shore.

Send these, the homeless, tempest-tost to me,

I lift my lamp beside the golden door!’

 

Spanish version

El Nuevo Coloso

No como el gigante de bronce de la fama griega

De conquistadores miembros a horcajadas de tierra a tierra;

Aquí en nuestras puertas del ocaso bañadas por el mar, se yergue

Una poderosa mujer con una antorcha, cuya llama

Es el relámpago aprisionado, y su nombre,

Madre de los exiliados. Desde su mano de faro

Brilla la bienvenida para todo el mundo; sus apacibles ojos dominan

El puerto de aéreos puentes que enmarcan las ciudades gemelas,

“¡Guarden, antiguas tierras, su pompa legendaria!” grita ella

Con silenciosos labios. “Dame tus cansadas, tus pobres,

Tus hacinadas multitudes anhelantes de respirar en libertad,

El desdichado desecho de tu rebosante playa,

Envía a estos, los desamparados que botó la ola, a mí

¡Yo alzo mi lámpara detrás de la puerta dorada!”

Traducción: Joseph Eskanazi Pernidji

 

Portuguese version:

O Novo Colosso

Não como o gigante bronzeado de grega fama,

Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra

Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá

Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama

É o relâmpago aprisionado e seu nome

Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão

Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos

Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.

“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela

Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,

As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade

O miserável refugo das suas costas apinhadas.

Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,

Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.

Tradução: Nuno Guerreiro Josué

 

1492

Thou two-faced year, Mother of Change and Fate,

Didst weep when Spain cast forth with flaming sword,

The children of the prophets of the Lord,

Prince, priest, and people, spurned by zealot hate.

Hounded from sea to sea, from state to state,

The West refused them and the East abhorred.

No anchorage the known world could afford,

Close-locked was every port, barred every gate.

Then smiling, though unveil’dst. O two-faced year,

A virgin world where doors of sunset part,

Saying, “Ho all who weary, enter here!

There falls each ancient barrier that the art

Of race or creed or rank devised, to rear

Grim bulwarked hatred between heart and heart!”

Life and Art

Not while the fever of the blood is strong,

The heart throbs loud, the eyes are veiled, no less

With passion than with tears, the Muse shall bless

The poet-sould to help and soothe with song.

Not then she bids his trembling lips express

The aching gladness, the voluptuous pain.

Life is his poem then; flesh, sense, and brain

One full-stringed lyre attuned to happiness.

But when the dream is done, the pulses fail,

The day’s illusion, with the day’s sun set,

He, lonely in the twilight, sees the pale

Divine Consoler, featured like Regret,

Enter and clasp his hand and kiss his brow.

Then his lips ope to sing–as mine do now.

 

Echoes

Late-born and woman-souled I dare not hope,

The freshness of the elder lays, the might

Of manly, modern passion shall alight

Upon my Muse’s lips, nor may I cope

(Who veiled and screened by womanhood must grope)

With the world’s strong-armed warriors and recite

The dangers, wounds, and triumphs of the fight;

Twanging the full-stringed lyre through all its scope.

But if thou ever in some lake-floored cave

O’erbrowed by rocks, a wild voice wooed and heard,

Answering at once from heaven and earth and wave,

Lending elf-music to thy harshest word,

Misprize thou not these echoes that belong

To one in love with solitude and song.

 

Citação:

Pires-O’Brien, J., compiladora. Emma Lazarus (1849-1887). PortVitoria, Beccles, UK, v.11, jul-dec, 2015. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com