O apoio do Partido Comunista a Castro e Batista

Norman Berdichevsky

Vale à pena estender-se minuciosamente na história cubana, se por nenhum outro motivo maior que qualquer outro, pelo fato de ser tão patente e tão perto de nós, tanto geograficamente – em termos da distância da costa americana – quanto pela presença de mais de um milhão de cubanos residentes nos Estados Unidos, que devido ao seu envolvimento pessoal com a Revolução Cubana, têm ciência de como esta chegou ao poder. É ainda mais importante revelar a verdade nua e crua do cenário cubano que nos últimos cinquenta anos transformou Fidel Castro e Che Guevara em ícones internacionais do nível das estrelas pop. O número de adolescentes reais e virtuais que vestem camisetas de Che ou de Fidel provavelmente excede o daqueles que vestem camisetas com qualquer outro emblema, com a possível exceção da cruz (que provavelmente é usada mais como um adorno cosmético do que como um símbolo da real fé religiosa).

Naturalmente que tudo isso é uma simples questão de pesquisar os milhares de documentos e fontes primárias disponíveis, mas o fato é que os jovens de todo o mundo continuam a exibir suas camisetas numa hipnose auto-induzida de que a oposição aos Estados Unidos por Castro e o suporte dado a ele pela União Soviética e pelo bloco comunista, assim como os seus cinquenta anos no poder e as suas milhares de horas de discursos, tudo isso assegura que o regime cubano merece o apoio da ESQUERDA. E se por nenhum outro motivo, pelo fato de Castro ter-se oposto ao imperialismo dos Estados Unidos e ter deposto um ditador. Conforme os dizeres no livro de Orwell A Revolução dos Bichos, ‘duas patas ruim; quatro patas bom!’. Trocando em miúdos, ‘os comunistas estavam/estão/sempre estiveram ao lado do ‘povo’.

Nos últimos noventa anos o apoio irrefletido da esquerda política americana e européia a ‘líderes revolucionários’ radicais tem preferido ignorar as enormes contradições entre esses regimes e os líderes que apóiam na condição de ‘progressistas’. A esquerda tem também ‘explicado’ essas contradições por um jargão especial do discurso da ciência política, segundo o qual ‘direita’ significa reacionário, conservador, ultranacionalista e/ou ultrarreligioso, enquanto que ‘esquerda’ quer dizer iluminado, benéfico à classe trabalhadora, ‘liberal’, secular e internacionalista.

Entretanto, mesmo antes de Castro subir ao poder, já havia nos Estados Unidos muitos refugiados cubanos. Eles haviam fugido da ilha para escapar não só do regime ditatorial e corrupto de Fulgêncio Batista, mas também da influência comunista no seu governo, bem como da dominação dos diversos sindicatos laborais cubanos. Os adolescentes de hoje que perguntem a seus avós! Aqueles dentre nós com mais de 65 anos de idade com certeza se lembrarão de como Desi Arnaz, o marido-estrela de Lucille Ball na comédia de televisão ‘I Love Lucy Show’, explicou a uma audiência americana as chocantes manchetes dos tablóides acusando sua esposa de ter simpatias comunistas (LUCY BALL ENVOLVIDA NA CONEXÃO VERMELHA, LUCILLE BALL NA LISTA VERMELHA) como sendo pura difamação e truques sujos de jornalistas exploradores. No tocante a tais acusações, Desi explicou sucintamente —‘a única coisa vermelha em Lucy é o cabelo dela e até isso é falso’.

Desi tinha fortes motivos para tentar desassociar a sua parceira de tais acusações, feitas na década de cinquenta e em pleno McCartismo. Muitas carreiras de Hollywood já haviam sido arruinadas devido a semelhantes acusações. Ele próprio já havia contado ao público americano como foi a sua chegada aos Estados Unidos sem nenhum tostão, quando ele chegou a limpar gaiolas para ganhar dinheiro antes de se tornar ator, e que havia sido forçado a fugir Cuba por recusar-se a rezar pela cartilha comunista dos sindicatos laborais. Enquanto que a imagem de Desi Arnaz era um exemplo da conquista do sonho americano, pesadas nuvens ameaçavam a imagem de Lucy Ball. De acordo com os registros da Secretaria de Segurança da Califórnia (Califórnia Secretary of State), quando Ball registrou-se para votar em 1936, ela listou a sua afiliação partidária como sendo ‘Comunista’. Além disso, a fim de patrocinar o candidato do Partido Comunista para a Câmara o Estado da Califórnia, representando o Distrito 57 ela tinha assinado a seguinte declaração: ‘Eu sou registrada como uma afiliada do Partido Comunista’. Apesar de que Ball teve que comparecer perante a Comissão HUAC (House Un-American Activities Committee) para depor sobre as suas atividades subversivas, ela foi inocentada, pois o seu envolvimento com o Partido Comunista havia ocorrido na década de trinta, bem antes do início da Guerra Fria, quando o envolvimento com partidos políticos da esquerda radical não era visto como atividade subversiva, mas simplesmente como um exercício da liberdade de expressão garantida pela Constituição.

Batista e os diversos outros presidentes marionetes sob o seu controle havia ‘ganho’ o apoio do Partido Comunista de Cuba porque aparentavam ser ‘revolucionários’ e ‘antiamericanos’. Outros líderes latino-americanos tais como o ditador da Argentina, o General Juan Perón e o atual Hugo Chávez, da Venezuela, também usaram as mesmas ferramentas de apelação, apresentando-se como figuras populares, antiamericanistas, carismáticas, e com forte apoio dos sindicatos laborais controlados pelo governo. A histórica obediência a Moscou que caracterizou a maior parte dos partidos comunistas latino-americanos desde as suas criações nas décadas de vinte e de trinta, está detrás do difícil relacionamento que caracterizou a atitude inicial de Fidel Castro para com o comunismo e com o papel desempenhado pelo velho Partido Comunista Cubano, antes de Castro chegar ao poder em janeiro de 1959.

Embora muitos afro-americanos tenham sido levados no bico pela propaganda de Castro de que a Revolução Cubana tinha trazido pela primeira vez ‘igualdade racial’ para a população da ilha, não foi outro senão o ditador Fulgêncio Batista, homem de ‘sangue misturado’, com ancestrais de descendência italiana, espanhola, chinesa e africana, quem havia sido vítima da discriminação racial. Devido à sua mestiçagem ele não pôde se associar ao Yacht Club de Havana, fato que ele explorou a fim de atrair atenção para o caráter elitista do governo Cubano e sua antiga herança colonial de preconceitos raciais. Esses preconceitos eram compartilhados por não outro que o próprio pai de Fidel Castro, um abastado proprietário de terra e de plantações de cana, que nos idos de 1890 havia apoiado o governo espanhol contra os revolucionários cubanos.

O partido inicial de 1920 a 1954
Surpreendentemente, o Partido Comunista Cubano tem raízes profundas em Cuba que vão até a vitória da Revolução Russa e a ascensão de Lenine ao poder. As futuras sementes da desconfiança que havia entre os antigos comunistas cubanos e Fidel Castro foram semeadas muitos anos antes de Castro se tornar uma figura importante na política cubana. O partido havia sido fundado em Havana, em Agosto de 1920, por um punhado de admiradores da revolução Russa, e na década de 1930 já havia se tornado uma poderosa força em diversos sindicatos laborais, um feito ímpar em toda a América Latina. Os seus fundadores consistiam de um grupo particularmente diversificado de indivíduos como Julio Antonio Mella, um ativista estudantil, Carlos Baliño, que havia sido um dos seguidores do herói nacionalista cubano José Marti, e Fabio Grobart, um imigrante judeu que trabalhava como alfaiate e que havia conseguido refugiar-se em Cuba após ter sido apanhado no meio da Guerra Civil que havia irrompido na Polônia.

Os comunistas desempenharam apenas um papel menor na revolução popular de 1933 que depôs o ditador cubano Gerardo Machado (1925-1931). Foi durante esse episódio que o ‘homem forte’ Fulgêncio Batista emergiu com o apoio comunista no cenário político nacional. No final de 1934 líderes dos partidos comunistas da América Latina tiveram uma conferência em Moscou presidida por Dimitri Manuilsky, que por muitos anos foi o chefe do Comintern1 e um dos amigos mais chegados de Stalin.

Naquela ocasião o partido comunista cubano era chefiado por Blas Roca, seu Secretário Geral. Resoluções foram tomadas com as bênçãos de Stalin, no sentido de dar apoio a uma insurreição no Brasil e a uma frente popular no Chile, favorecer um programa nacionalista extremamente antiamericano no México, e à formação de uma eventual aliança com o grupo de comando chefiado pelo líder ‘nacionalista radical’ Batista, em Cuba. Tal coalizão cubana foi chamada ‘União Revolucionária’.
Em setembro de 1934, Batista emitiu um comunicado declarando que ‘O Partido Comunista, de acordo com o próprio estatuto, tratava-se de um partido democrático que perseguia os seus objetivos à margem do regime capitalista e que denunciava a violência como meio de ação política, e, por conseguinte, tinha direito ao mesmo tratamento que qualquer outro partido de Cuba’.

Batista comandou a nação através de um presidente-marionete e em 1937 ele deu o seu integral consentimento para a criação do Partido União Revolucionária. Em 1938 ele permitiu a publicação do (ainda clandestino) jornal oficial do partido Comunista Cubano, Hoy, editado por Aníbal Escalante. Os líderes comunistas cubanos Blas Roca e Joaquin Ordoquí, reuniram-se com o Coronel Batista e emitiram as resoluções a ser cumpridas, com a ressalva que o Partido precisava adotar uma atitude positiva para com o Coronel Batista ‘tendo em vista que Batista era um defensor da democracia’.
Já no final da década de 1930, Batista e os comunistas trabalharam como mão e luva para permitir ‘eleições livres’ a fim de continuar seus controles no governo, formar uma assembléia constituinte voltada a produzir uma nova constituição e legitimar o poder do presidente marionete, Frederico Laredo Bru.

O affair St. Louis
Em maio de 1939, 937 refugiados judeus que se encontravam a bordo do navio de passageiros alemão St. Louis foram negados a entrar em Cuba devido à revogação de seus vistos pelo presidente Bru. Ao que parece, a única motivação para esse ato desumano foi o desejo de Bru de ganhar uma propina ainda maior do que aquela que lhe havia sido prometida, mas a manobra também auferiu o apoio de muitos cubanos sob o disfarce de proteger ‘os trabalhadores de Cuba’, os quais temiam que mais refugiados judeus fossem receber asilo ou assistência econômica durante a época da Depressão. Essa era a mesma política de inveja tão cuidadosamente cultivada pelos nazistas e comunistas que poucos meses depois iriam comemorar sua aliança no Pacto Molotov-Ribbentrop de Não-Agressão, entre a União Soviética e a Alemanha.

O caso St. Louis foi uma terrível mancha na consciência de todos os que se opunham à ameaça do nazismo e às suas políticas anti-semíticas. O mesmo também pousa desconfortavelmente no regime de Castro, o que requereu uma versão revisionista da ‘história cubana’. Ao invés de admitir que o governo totalmente corrupto do presidente Bru – em cujas asas sentava-se Batista e cujos assuntos eram controlados com o apoio comunista – havia sido o responsável por negar a permissão para que os judeus refugiados abordo do St. Louis buscassem segurança, a versão ensinada nas escolas cubanas de hoje (e regurgitada pelos paspalhões do regime de Castro nos seus textos sobre o caso St Louis espalhados em diversos portais da internet), é que a administração de Roosevelt havia ordenado ao governo de Bru que rejeitasse o direito dos passageiros de desembarcar em Havana, apesar de eles terem vistos de imigração de Cuba e permissões de desembarque.

O Partido Comunista Cubano não moveu uma palha para demandar o aceite dos refugiados. O caso ficou ainda mais repreensível e repugnante devido à existência de uma leva anterior de refugiados judeus que havia chegado à ilha no início da década de 1920 e que apoiava o Partido Comunista Cubano desproporcionalmente à sua minúscula representatividade na sociedade cubana. A grande maioria dos judeus cubanos, formada por não comunistas, organizou um comitê para conversar com o presidente Bru na expectativa de que os refugiados fossem aceitos noutra localidade, mas os apelos feitos a meia dúzia de países latino-americanos e aos Estados Unidos para que aceitassem os passageiros do St. Louis caíram em ouvidos surdos e eles foram ordenados a retornar a Hamburgo. Na última hora, a Grã-Bretanha, a Holanda (Neerlândia) e a Bélgica concordaram em aceitar os passageiros. A Segunda Guerra Mundial começou apenas dois meses depois e pelo menos noventa por cento dos mesmos foram mortos no Holocausto.

Os Estados Unidos não têm nada a se orgulhar dessa história, já que os barcos da Guarda Costeira Americana acompanharam o St. Louis para assegurar que nenhuma tentativa fosse feita para desembarcar os ‘imigrantes ilegais’ na costa americana. Não obstante, a tentativa absurda do governo cubano de jogar a culpa nos Estados Unidos é típica dos cinquenta anos do regime de Castro.

Frederico Laredo Bru – um nome que ‘permanecerá na infâmia’ – havia sido motivado pela avareza e pela total desconsideração por qualquer preocupação humanitária. Apesar de ter sido colocado no poder por Batista, ele também queria demonstrar que não era apenas um insignificante fantoche e que podia demonstrar seu poder e orgulho desafiando o Ministro do Interior, o indicado de Batista que havia concedido os vistos dos passageiros do St. Louis.

A vitória de Batista com o apoio comunista
Na eleição de 1940, embora os comunistas dominassem a maioria dos sindicatos laborais, os candidatos contrários a Batista ganharam 41 dos 76 lugares, recebendo 225.223 votos, enquanto que Batista e os comunistas ganharam apenas 35 lugares e 97.944 votos. A despeito de ter sido rejeitado pelo mandato popular, o Partido Comunista Cubano encorajou a continuação do apoio a Batista, que com tal ajuda conseguiu se eleger presidente, a despeito do pífio saldo da eleição para o partido.
Na ocasião da eleição presidencial de 1940 Batista afastou-se do seu cargo militar como Chefe das Forças Armadas e anunciou a sua candidatura. Essa última foi honesta e ele a venceu com o total apoio comunista, prometendo um controle parcial do estado sobre as indústrias do açúcar, tabaco e minério assim como reforma agrária. Batista também fez declarações antiamericanistas para tornar-se simpático junto à classe trabalhadora Cubana, que via os Estados Unidos com inveja e desconfiança apesar da intervenção americana que ajudou Cuba a ganhar a sua independência da Espanha.
Dois associados próximos de Batista mais tarde tornar-se-iam membros comunistas do alto escalão do governo de Fidel Castro: Juan Marinello (que mais tarde tornou-se membro do Grupo Íntimo de Castro), que perdeu a tentativa de ganhar o posto de prefeito de Havana nas eleições de 1940 e Carlos Rafael Rodriguez (que eventualmente tornou-se o vice-presidente de Castro).

A popularidade de Batista aumentou durante os anos da guerra, no seu segundo termo presidencial de 1940 a 1944, devido ao aumento de prosperidade causada pela demanda dos Aliados por açúcar, níquel e manganês. Em meados de 1944 Batista encenou uma charada, fingindo que havia ‘se afastado’ do poder como um verdadeiro democrata. Dessa forma, ele ganharia adicional apoio da boa vontade dos Estados Unidos, que tinha ansiedades quanto às suas ligações com os comunistas.
Como presidente, Batista foi um forte ‘líder democrático’, mas teve que conter uma tentativa de golpe por parte do seu chefe de gabinete. Ele estendeu direitos de seguridade social para os trabalhadores rurais, declarou guerra contra os Poderes do Eixo em nove de dezembro de 1941 e em 1943 reconheceu a União Soviética. Durante a guerra, Cuba beneficiou-se da ajuda dos Estados Unidos e do alto preço do açúcar, fixado em 2,65 centavos de dólar por libra (453 g). Isso ajudou a moderar o discurso antiamericanista de Batista.

Mais uma vez, entretanto, uma eleição razoavelmente honesta demoveu Batistanos e Comunistas. Em 1944, o Dr. Ramon San Martin Grau era um ex- professor universitário com substancial apoio dos estudantes e com promessas de um regime mais honesto. Tendo vencido a eleição presidencial pelo voto popular, ele serviu até 1948. A despeito de sua popularidade inicial, acusações de corrupção mancharam a sua imagem de administrador, e uma boa parte dos Cubanos começaram a desconfiar do mesmo.

Batista, que havia amealhado uma fortuna de vinte milhões de dólares em decorrência de ter sido o verdadeiro encarregado do governo de Cuba desde 1933, parecia que estava sumindo da cena. Ainda assim os líderes comunistas Carlos Rafael Rodriguez e Blas Roca escreveram em seu livro En Defensa del Pueblo (Em defesa do Povo), publicado em 1945, que ‘o ídolo do povo (Batista), o grande homem da nossa política nacional’ não tinha partido para sempre. Apesar de o ditador ter gozado do apoio que o Partido Comunista conferiu aos mais de vinte anos de sua despótica administração, 99,99% dos universitários esquerdistas assim como os diversos jornalistas norte-americanos que vestem orgulhosamente as suas camisetas com a imagem de Che, lhe assegurarão categoricamente que ‘os Estados Unidos da América sempre apoiou ditadores corruptos como Batista em Cuba’. Durante um período de diversos anos, entre 1945 e 1948 Batista transferiu-se para a Florida, tendo morado em Daytona Beach, onde há um museu de arte cubana contendo obras de arte que ele havia ‘tomado emprestado’.
Conquanto que a classe mais abastada de Cuba havia entendido que não era preciso temê-lo, Batista foi um político astuto que gozou da confiança e do apoio das classes proprietárias ao mesmo tempo em que cultivava a Esquerda. À medida que enriquecia ele se tornava cada vez mais conservador. Enquanto isso, em diversas ocasiões em Cuba, ele procurou dar mostra da sua ‘popular’ linha antiamericanista, como na campanha contra a partição da Palestina.

A política externa de Batista desafia os Estados Unidos
Cuba foi o único país não-mulçumano a votar contra a proposta de estabelecer um estado judeu (Israel), acentuando dessa forma a sua linha ‘independente’ de política externa. Por incrível que pareça, diversos comunistas cubanos judeus apoiaram inteiramente a decisão simplesmente pelo fato de que a mesma ajudava a cimentar a imagem ‘anti-imperialista’ do Partido. Os dois estados da América Latina que no início da guerra tinham ligações firmes com o Eixo e fortes inclinações pró-germânicas, o Chile e a Argentina, abstiveram-se. O México também seguiu uma política ‘neutra’ para mostrar a sua independência dos Estados Unidos.

Cuba usou a questão da partição da Palestina para tentar angariar apoio entre os países Latino Americanos para oferecer um contrapeso aos Estados Unidos e aliciar os países Árabes a formar um bloco forte de pequenas nações. Nessa questão o Partido Comunista Cubano encontrou-se num desconfortável dilema e desentrosado. O partido não podia atacar a linha ‘popular’ anti-americana do governo na política externa relativa à questão da Palestina mesmo tendo a URSS e os seus satélites do Leste Europeu sido todos favoráveis ao Plano de Partição da Palestina.

O quartel-general do Comintern na América Latina mudou-se do México para Cuba em 1940 e os comunistas tinham uma forte presença na Federação Laboral Cubana. Entre 1947 e 1948 houve recorrentes greves e disputas trabalhistas. Estudantes arruaceiros (incluindo Fidel Castro), gangsterismo urbano, bandos errantes armados no campo e assassinatos políticos, tudo causava tumulto. O estopim do ativismo político de Castro foi Eduardo Chibas, que como Castro, tinha vindo de uma abastada família Galiciana de Guantánamo, na província Oriente. Assim como Castro, ele havia sido educado por Jesuítas, era membro da elite Cubana e profundamente religioso, embora fosse um anticomunista implacável.

Em 1948, Carlos Prío Socarrás, outro fantoche de Batista, foi eleito Presidente, embora por uma minoria, enquanto que os Comunistas perderam três cadeiras no Senado. Ominosamente, e esquecendo toda a prévia retórica anti-americana, Batista geriu a sua campanha da Florida e elegeu-se Senador. Castro, na ocasião, era uma figura proeminente na política de Havana e um protegido de Chibas. Em resposta a esses eventos, o Partido Comunista Cubano criticou Castro e os outros estudantes ativistas por terem participado de um tumulto de rua anti-governo durante uma conferência internacional em Bogotá, na Colômbia.

Na mesma ocasião e local dos eventos colombianos, um membro do Partido Comunista da Argentina, Ernesto Che Guevara, que estava presente na conferência de Bogotá, não saiu do seu alojamento durante os distúrbios. Eddy Chibas suicidou-se em 1951, durante um discurso público à nação para chamar atenção àquilo que ele acreditava ser uma campanha movida por políticos corruptos para lhe negar a eleição, criando assim um vácuo político em Cuba, que levou à re-emergência de Batista na política cubana. Poucas semanas depois do suicídio de Chibas, Castro encontrou-se com o então Senador Batista e teve com o mesmo diversas horas em discussões no rancho de Batista. O que eles discutiram não se é sabido, mas em 10 de Março de 1952, Batista usurpou o controle do governo num golpe sem sangue que fez cumprir o maior temor expressado por Chibas antes da sua morte.

No dia seguinte, como chefe de estado proclamado, Batista mudou-se para o palácio presidencial. A oposição mais radical à tomada de poder de Batista veio da rica e racista elite cubana, que já o detestava devido à sua ‘mestiçagem’. De 1948 a 1952 o Partido Comunista Cubano perdeu o controle dos sindicatos e encontrava-se dividido na questão de apoiá-lo ou não mais uma vez. Batista suprimiu todos os jornais de oposição, mas permitiu que o diário comunista ‘Hoy’ continuasse aberto, numa artimanha óbvia para ganhar a continuação do apoio comunista.

O Putsch de Castro
Quando Fidel Castro fundou o seu ‘Movimento Revolucionário’, os comunistas eram automaticamente excluídos de se juntar ao mesmo e o Partido denunciou o ataque de Castro ao quartel de Moncada em 26 de julho de 1953, em Santiago de Cuba. O diário comunista americano ‘The Daily Worker’, descreveu o ataque liderado por Castro como um ‘método ‘putschista’ peculiar às facções políticas burguesas.’

Quando Castro finalmente teve êxito, tanto ele quanto os comunistas sabiam que haviam sido feitos um para o outro, a despeito do passado. Para Fidel, havia o apoio e a disciplina e de uma força internacional direcionada contra o ‘imperialismo americano’ e capaz de lhe dar um enorme apoio econômico, diplomático e militar. Para os comunistas tratava-se de uma simples mudança de um ‘ídolo do povo’ para outro. O leitor que buscar no portal oficial do Partido Comunista Cubano na internet, e ler a seção marcada como ‘História’, em espanhol, verá que não há uma só palavra sobre o partido desde a sua fundação até 1o de janeiro de 1959. É assim que as contradições internas são tipicamente resolvidas pelos regimes totalitários.
Desde então muita água já passou por debaixo da ponte. Parte das auto-ilusões daqueles que se identificavam como ‘progressistas’ ou de muitos dos liberais de hoje é a sua reação instintiva e quase sempre errada de que as ‘massas’ devem estar certas quando respondem emocionalmente à retórica e ao jargão anti-Ocidente e especialmente anti-americano (e ainda mais irracionalmente anti-Israel, anti-Cristão e anti-Judeu).

Para a ESQUERDA Marxista e muitos dos que hoje se declaram ‘liberais’, não existe um melhor indicador daquilo que é hoje designado como ‘politicamente correto’ do que a inveja do pobre e do oprimido, uma poderosa e manipulável força. Independente de quão fanático, corrupto, degenerado e cego a qualquer consideração humanitária foram os personagens infames como Batista e Bru, ou Perón, e mais tarde Castro, Nasser, Arafat, Ahmadinejad, Mao Tse Tung, o Aiatolá Khomeini ou Saddam Hussein, eles são tidos como porta-vozes ‘do povo’, ‘da nação’, dos ‘trabalhadores’, dos ‘despossuídos’, dos ‘pobres’, dos ‘desabrigados ‘, dos refugiados’ e assim por diante. A doença crônica de uma considerável parte da ESQUERDA política é justamente a falha em perceber que tais líderes são tanto um sintoma quanto a causa básica dos problemas de seus países.


Título Original: Communist Party support for Castro and Batista
© Dr. Norman Berdichevsky
Cortesia de: NB
Data da Publicação em PortVitoria: 01 janeiro 2011;
Tradução de: Joaquina Pires-O’Brien

1.Comintern. Abreviatura de ‘Internacional Comunista’, designação do partido comunista internacional fundado em Moscou em março de 1919, e também conhecido como ‘Terceira Internacional’. Seu objetivo era lutar ‘com todos os meios disponíveis, incluindo a força armada, pela derrubada da burguesia internacional e pela criação de uma república Soviética internacional como um estágio de transição até a abolição completa do Estado’.

Tradutora: Joaquina Pires-O’Brien (UK)
Citação:
Berdichevsky, N. O apoio do Partido Comunista a Castro e Batista. PortVitoria, UK, v. 2, Jan-Jun, 2011. ISSN 2044-8236, https://portvitoria.com